Quantas são, onde estão, quem integram e como vivem as comunidades tradicionais de matriz africana no Estado de São Paulo? Essas são as perguntas que deverão ganhar respostas através de uma plataforma que está sendo desenvolvida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Por meio de um aplicativo, líderes de comunidades e instituições poderão se registrar e informar estrutura, atividades, necessidades e realidades, especialmente no tocante a violações de direitos constitucionais.
"É um instrumento importante de cidadania e de consolidação da cidadania, dos interesses e direitos da população negra no Estado de São Paulo", afirma Juarez Xavier, coordenador da iniciativa e vice-diretor da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC) da Unesp.
Um dos objetivos centrais do projeto é oferecer um panorama detalhado das condições dessas comunidades, com vistas à criação de políticas públicas a partir dos dados coletados.
"É um dispositivo de autocadastramento de pessoas e instituições do universo afrodescendente, das tradições de matriz africana ligadas ao candomblé, umbanda, quimbanda, para que possam colocar nomes e dados relacionados à instituição, ao corpo sacerdotal, à identidade dos grupos a partir da autodeclaração e quais os protocolos de ação, atendimento e, caso tenham ocorrido, violações aos direitos desses grupos", detalha o vice-diretor.
A plataforma não se restringirá a iniciativas de cunho religioso, senão que pretende alcançar também outros segmentos, como comunidades remanescentes de quilombos e manifestações culturais em geral.
A etapa inicial de desenvolvimento da ferramenta conta com um financiamento de R$ 100 mil, derivado de emenda parlamentar da deputada Erica Malunguinho (PSOL). Por sua parte, a Unesp colocará sua infraestrutura, com o envolvimento de laboratórios, pesquisadores e técnicos de vários âmbitos da instituição, entre eles o Centro de Inovação Tecnológica de Bauru (Citeb), conta Xavier.
"Estamos na fase de montagem da equipe técnica que vai lidar com esse processo, pensando usabilidade, conectividade, amistosidade da plataforma, para ser utilizada fundamentamente em dispositivos móveis pelo maior número possível de pessoas", diz.
O mapeamento "jogará luz no combate ao preconceito que é lançado sobre essas comunidades de terreiro, de forma também a evitar a articulação de ações genéricas, que acabam atendendo apenas parcialmente às soluções de seus problemas", afirma Malunguinho.
O projeto passará por outras etapas até chegar ao usuário final, entre prototipia, execução e experimentação em escala controlada. A previsão é de que a ferramenta fique pronta no prazo de um ano.
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