Quadro-negro

Uma lousa para se conhecer e discutir o que pensa e faz a gente preta brasileira

Quadro-negro - Dodô Azevedo
Dodô Azevedo

E se houver um golpe?

Como a sociedade reagiria à realização dos delírios golpistas de quem roubou até as cores de nossa bandeira?

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GUARULHOS, SP, BRASIL, 01.11.2022 - Policiais jogam gás de pimenta para conter manifestantes golpistas que fechavam a rodovia Helio Smidt, em Guarulhos, no sentido aeroporto, em mais um protesto antidemocrático que pede intervenção militar e anulação das eleições que elegeu Lula presidente. (Foto: Zanone Fraissat/Folhapress) - Folhapress

Vamos aqui trabalhar com o Multiverso da Loucura. Hipóteses tortas. Terraplanismo.

Vamos imaginar que algum destes toscos planos de golpe aconteça. Como reagiria a sociedade?

Vivemos em um mundo onde o que mais vale não é a quantidade de seguidores que alguém tem. O que interessa é o engajamento.

E hoje, Bolsonaro parece ter mais do que Lula.

Exemplo simples: se Bolsonaro fosse preso amanhã, por qualquer motivo, se ele fosse até a Av. Paulista e metralhasse duzentas pessoas, ainda assim os Bolsonaristas iriam para as ruas.

Lula foi eleito por uma coalizão, uma frente. Muita gente que odeia Lula, votou em Lula. O ponto é: se um milhão de pessoas forem às ruas contra a posse de Lula, nós teremos a mesma quantidade para defendê-la?

A coalizão que elegeu Lula continuará entendendo que a posse do novo presidente não é sobre o político Lula e sim sobre a democracia? O patriotismo?

Sim, o patriotismo.

Estas pessoas que estão fechando estradas, programando greves, pedindo intervenção militar, não são patriotas.

Não amam o Brasil.

Ou melhor, amam O-Brasil-que-nunca-deu-certo-e-já-foram-dadas-tantas-chances-que-hoje-sabemos-que-nunca-dará.

E odeiam O-Brasil-que-se-continuarmos-democraticamente-testando-novas-soluções-certamente-um-dia-dará-certo.

Eles se dizem contra ladrões, mas são eles que nos roubam tudo. Querem nos roubar agora até o nosso direto de manter os direitos conquistados, a democracia.

Querem roubar nossos votos.

Estão nas ruas, neste momento, na prática, dizendo que votos não são o bastante.

Para defender uma pátria antiga, onde todos os valores testados deram errado, uma pátria-pária criada sobre o roubo de colonos sobre os povos originários, roubaram o nosso verde amarelo, roubaram nosso hino, roubaram até a camiseta de nossa seleção.

Chamaram seus inimigos de vitimistas e se vitimizam após as eleições. Afirmam serem religiosos, mas usam suas crianças como escudo humano em manifestações. Falam mal da imprensa, mas amam a imprensa que os apoia.

Falam sobre serem contra corrupção mas são eles os seres humanos corrompidos. Os patrôes que ameaçam os empregados com demissão.

Bolsonaro não é novidade. É a exploração do mais fraco pelo mais privilegiado.

O Bolsonarismo é o nome dado para algo que desde impede o Brasil, desde sua fundação, de avançar.

Algo que teria um outro nome qualquer se Bolsonaro não existisse.

Algo, veremos, ser capaz de ser lido e expelido por uma sociedade unida.

Uma sociedade que seja anti-esse-algo, independente de Lula, inclusive.

Lula, nós sabemos, foi eleito pela maioria. Agora, resta-nos saber se esta maioria está disposta a defendê-lo, entendendo que não se estará defendendo Luis Inácio, mas defendendo que um presidente eleito pelo povo tome posse e governe.

A pergunta, aqui, é: Neste mundo quantidade versus engajamento, se precisar haver uma disputa nas ruas, a democracia pode contar com cidadãos que optaram por ela?

Em caso de golpe, da vitória tosquice, do terraplanismo político, do universo paralelo, a democracia pode contar com engajamento para além do voto nela própria? Do engajamento de quem acredita na democracia?

Talvez o voto não seja apenas aquele momento de trinta segundos que passamos sozinhos na urna eletrônica.

Talvez ele dure todo o nosso tempo.

Porque talvez um voto político seja um voto de confiança.

E sobretudo de compromisso.

Eterno, enquanto dure.

Talvez o momento na urna seja apenas o início de um voto.

Talvez a eleição que passou esteja começando agora.

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