Com toda essa discussão gerada nos últimos dias por conta da política reguladora do preço dos combustíveis, com a extinção do Preço de Paridade Internacional (PPI), me peguei aqui revendo fotografias de quando automóveis eram possuídos apenas por pessoas ricas e postos de gasolina eram praticamente inexistentes em nossa cidade. Você já parou para imaginar como era encher o tanque de um carro há pouco mais de um século?
Nas duas primeiras décadas do século 20 possuir um carro ainda era um privilégio de poucos. Importados, custavam muito caro e vinham prontos dos Estados Unidos ou da Europa, sendo no máximo montados aqui em linhas de montagem de empresas como Ford e Chevrolet. Praticamente um bem de luxo, era compreensível que também não se encontrasse onde abastecer com facilidade, tal qual hoje em dia.
Inicialmente não existiam postos de combustíveis, apenas bombas de abastecimento isoladas em ruas e avenidas da cidade. Geralmente nessas bombas ficava uma única pessoa trabalhando, que podia ser até o proprietário, atendendo aos clientes. Normalmente quem ia até estes locais abastecer os veículos não eram seus donos, mas os motoristas ou "chauffeurs", como se costumava dizer à época.
Outro local para se comprar a "gazolina" com "z" como era a grafia da época, eram em lojas que vendiam o combustível em latas medidas em galões (1 galão equivale 3,78541 litros). Essas lojas também comercializavam óleo (inicialmente chamado de azeite lubrificante), graxas, câmaras de ar e pneus.
Com o crescimento da cidade e consequentemente do volume de veículos em circulação no decorrer dos anos 1920, começaram a surgir em São Paulo os postos de combustíveis como conhecemos atualmente com toda uma gama de serviços disponíveis para o automóvel, indo do simples abastecimento até troca de óleo, substituição de pneus e até mesmo reparos mecânicos.
As chamadas bandeiras – nome que se dá para as marcas de combustíveis – já eram utilizadas. Pela capital paulista na década de 1920 surgiram postos com bandeiras como Anglo Mexican, Gulf, Atlantic, entre outras. Alguns postos de combustíveis desta época ainda existem na capital paulista, sendo que ao menos um da década de 1920 permanece em plena atividade, no bairro da Aclimação.
Mesmo com a chegada dos novos e modernos postos de combustíveis, as bombas solitárias permaneceram em pleno funcionamento na cidade de São Paulo por um longe período, até pelo menos o final da década de 1950 quando desapareceram por completo. Se tais bombas não existem mais, engolidas pela modernidade e por novas regulamentações de uso e ocupação do solo, ao menos em um lugar específico da capital o local de uma das extintas bombas permanece pouco alterado.
Trata-se da Praça Olavo Bilac, em Santa Cecília, onde desde o final da década de 1950, quando a bomba foi removida, pouco mudou exceto pelas edificações ao seu redor. Teria o tanque de gasolina sido removido ou será que apenas tiraram a bomba, deixando a parte subterrânea por ali contaminando o solo? Veja abaixo um antes e depois do local.
Praça Olavo Bilac - 1956 e 2023
Comparativo de imagens mostrando a praça Olavo Bilac em 1956, quando havia uma bomba de gasolina no local e atualmente, maio de 2023. - Douglas Nascimento
Quanto aos postos de combustíveis antigos, até o ano de 2010 existiam pelo menos quatro em atividade em São Paulo. Localizados no Bom Retiro, Aclimação, Liberdade e Paraíso, foram inaugurados respectivamente em 1926, 1929, 1931 e 1942 (vide galeria abaixo). Destes tivemos o de 1931 demolido, o de 1926 fechado mas preservado, e os outros dois funcionando normalmente, contudo o inaugurado em 1942 está modernizado e ostenta no local um grande painel com uma fotografia da época de sua inauguração para contar sua história. Em 2015 os postos de 1926 e 1929 foram tombados como patrimônio histórico paulistano.
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