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Descrição de chapéu Cracolândia

Edifício do século 19 da rua Mauá precisa urgente de restauração

Mais antigo que a estação da Luz, prédio abrigou hotéis e está deteriorado

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Douglas Nascimento
São Paulo (SP)

Quando em 1888 a São Paulo Railway iniciou a construção daquela que viria a ser a segunda estação da Luz, já existia do outro lado da rua Mauá uma grande edificação que sobrevive até os dias atuais. O prédio, grandioso para a São Paulo do ocaso do império, era o maior construção da região e só seria superado anos mais tarde com a inauguração da terceira (e atual) estação.

edifício abandonado
Nesta fotografia de aproximadamente 1890 a estação da Luz era um pequeno prédio de dois andares que pode ser visto no lado esquerdo da imagem. No centro o grandioso prédio do hotel já estava por lá. - Divulgação

Pois esse edifício desde o início foi destinado para fins hoteleiros em sua área principal, com estabelecimentos comerciais variados nas portas que dão para a rua. No local existiram dois hotéis que estão marcados em nossa história: o Federal Paulista e o do Comércio.

Do final do século 19 até muitos anos do século seguinte, não existia lugar melhor para se investir na construção de um hotel já que a localização era privilegiada, com acesso a principal estação ferroviária da cidade apenas atravessando a rua. Posteriormente outros hotéis iriam surgir nas cercanias para atrair o viajante que vinha para a capital paulista e precisava de um local para se hospedar.

Na São Paulo que ruma os cinco séculos de existência dá para contar nos dedos de mãos e pés quantos são os edifícios erguidos antes de 1900 que sobrevivem até os dias atuais, sendo a maioria deles igrejas ou prédios públicos. O velho hotel destoa dessa regra sendo não apenas o mais antigo edifício destinado a hotelaria a sobreviver como é possuidor de uma arquitetura que, mesmo deteriorada, salta aos olhos de seus observadores. Tombado como patrimônio histórico, o prédio quase não sofreu alterações no decorrer de sua longeva existência.

edifício abandonado
Nesta fotografia da rua Mauá no final da década de 1960 o velho hotel está em segundo plano no lado direto. A primeira construção da esquerda abrigava outro hotel, o Bandeirante. Esse conjunto foi demolido no início dos anos 2000. - Divulgação

Ao longo do século 20 a rua Mauá e seus arredores passaram a sofrer um lento e longo processo de decadência que segue até os dias atuais. A estação da Luz foi deixando de ser destinada a viagens elegantes para atender cada vez mais os subúrbios, com isso os hotéis ao redor da estação foram recebendo um novo público, de menor renda, trazendo junto novos problemas. Não foram raros os casos de suicídios, assassinatos e roubos dentro das dependências do hotel.

Já no século 21 o hotel ainda funcionava como basicamente um refúgio das prostitutas que fisgam seus clientes no parque da Luz e nas saídas da estação, além de dependentes químicos e migrantes em busca de moradia barata. Já o comércio localizado no térreo do hotel perdeu seu glamour e lojas muito modestas e botecos sujos tomaram conta do lugar.

RECUPERAÇÃO?

Edifício antigo
O velho hotel da rua Mauá em uma manhã de domingo de agosto de 2023: vazio, sombrio e abandonado. - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

Em 2005 o então subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo, anunciou um plano ousado visando a recuperação do centro, a revitalização da região da cracolândia e a restauração do hotel: a desapropriação do prédio para que o local após restaurado abrigasse a nova sede da Subprefeitura da Sé.

A iniciativa chamada à época de "Nova Luz" causou bastante repercussão e trouxe novos ânimos para moradores e comerciantes da região desgastados com o fluxo da cracolândia. A medida previa desapropriar 55 imóveis na região das ruas Mauá, Protestantes, General Couto de Magalhães e dos Gusmões. Contudo apesar do impacto do anúncio das medidas boa parte das desapropriações jamais saíram do papel, especialmente a "cereja do bolo" que viria a ser o velho edifício hoteleiro do século 19. A Subprefeitura Sé até mudou de endereço e saiu da avenida do Estado porém foi para a rua Álvares Penteado, bem próxima da praça da Sé.

edifício antigo
Fachada do edifício do século 19 está em péssimo estado de conservação e oferece risco aos pedestres. - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

Sem a subprefeitura a esperada restauração não veio e o prédio sequer foi desapropriado, sendo que de 2005 para cá recebeu poucas intervenções, a mais perceptível uma reforma dos telhados. Já a fachada segue em péssimo estado de conservação, inclusive com uma estrutura metálica instalada junto à marquise para impedir que detritos caiam sobre a cabeça dos pedestres.

A recuperação e eventual desapropriação do edifício que abrigou os hotéis Federal Paulista e do Comércio é fundamental para a reabilitação dessa região tão degradada do centro histórico paulistano e tão carente de atrações turísticas, mesmo com edificações tão importantes do ponto de vista do patrimônio histórico.

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