Não é novidade para ninguém, especialmente para os leitores desta Folha, que o centro está perigoso e pouco convidativo aos passeios. Mesmo com iniciativas recentes da prefeitura paulistana em aliviar a tensão em alguns pontos específicos da capital, como a praça da Sé e o pátio do Colégio, são poucos os guias e empresas dedicadas ao turismo que arriscam levar turistas pelas atrações da região.
A tensão constante e o medo de eventuais ataques a grupos ou a indivíduos tem levado até a protestos do Sindicato dos Guias de Turismo do Estado de São Paulo (Sindegtur SP) diante da sede da Prefeitura de São Paulo, reivindicando mais segurança e zeladoria pelas ruas da região central. Em 2022 o mesmo sindicato chegou a recomendar que os profissionais de turismo ao invés de levar turistas à pé pelo centro optassem por locomoção de carro direto ao ponto desejado, o que pode ser um problema já que a região tem vários calçadões que por si só já restringem o acesso de veículos.
A preocupação em manter-se em atividade e atender os turistas e curiosos pela história da cidade sem ter que depender exclusivamente das atrações do centro histórico e arredores tem levado alguns guias e empresas de turismo a usar da criatividade para inovar.
É o caso de Larissa Resende, turismóloga, mestre em hospitalidade e professora universitária. Atuando há mais de 15 anos no meio do turismo ela sentiu diretamente a queda do número de interessados em passeios pela região central de São Paulo e, para não paralisar as atividades da Redescubra SP, sua agência de viagens especializada em roteiros histórico-culturais aberta em 2020 resolveu explorar outras regiões da cidade.
Afastando-se de áreas como Sé, República e avenida Paulista, Resende atraiu a atenção dos turistas para outras regiões de São Paulo onde nem sempre há passeios guiados, como Ipiranga, Belenzinho, Bela Vista e Liberdade. Agora suas atenções se voltam ao tradicional bairro da Penha de França, na zona leste da capital.
PENHA - QUASE UMA CIDADE DO INTERIOR
Afastada do centro e por consequência dos roteiros turísticos, a Penha é uma preciosidade de São Paulo pouco explorada pelo paulistano. Fundada no século 17 é um bairro que se parece mais como uma cidade do interior. Por ali não é raro vizinhos de rua que são amigos há décadas, moradores idosos que conhecem a história do bairro na ponta da língua e muitas atrações turísticas.
O bairro tem muitas casas antigas, duas de suas igrejas construídas respectivamente no século 17 e 19, uma basílica que pode ser avistada de vários pontos da cidade, seminário religioso, colégio de freiras e muitas outras construções históricas como a Escola Estadual Santos Dumont e antigos cinemas hoje transformados em pontos comerciais, como o São Geraldo, o Penharama e o Júpiter, este último um projeto da Construtora Zarzur & Kogan os mesmos do arranha-céu Mirante do Vale, no centro de São Paulo.
Nesse bairro paulistano a Redescubra SP de Larissa Resende vai realizar um passeio turístico no próximo domingo, 3 de setembro, buscando apresentar não só essas atrações mencionadas mas muitas outras curiosidades. Até a metade do século 20, por exemplo, era comum pessoas de outros bairros e até de outras cidades buscarem a igreja Nossa Senhora da Penha para se casar. É o caso do escritor Oswald de Andrade que casou-se com a poeta Patrícia Galvão, a Pagu, após primeiro escandalizar a sociedade paulistana casando cemitério da Consolação.
Conhecer outros bairros da capital paulista é uma atividade culturalmente enriquecedora pois apresenta um importante aprendizado, já que muitas vezes temos a visão equivocada de que todas as atrações relevantes de São Paulo estão localizadas no centro. É a oportunidade de explorar uma cidade que apesar dos tantos reveses que sofre, segue atrativa e com muita atração turística.
Serviço:
Caminhada histórica pelo bairro da Penha
Realização: Redescubra SP
Data: 03/09 às 9h
Valor R$ 80,00
Ingressos disponíveis pelo Sympla (clique aqui)
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