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Descrição de chapéu

O patrimônio de São Paulo arde nas chamas da incompetência

Prefeito não pode se limitar a ser "tchutchuca" do setor imobiliário

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Douglas Nascimento
São Paulo (SP)

A maior cidade do Brasil deveria ser um norte seguro para as outras cidades do país. Um exemplo a ser seguido em todos os segmentos possíveis, do saneamento básico à educação, passando por diversas outras camadas sob responsabilidade do poder municipal, entre elas, o patrimônio histórico. Contudo neste último citado São Paulo é um grande símbolo de vergonha e de descaso no padrão "for export".

Aqui, sabe-se, não é de hoje que quase nada é preservado. Uma cidade que já beira 5 séculos de história mas que muitas vezes lembra mais as cidades chinesas que cresceram do nada da década de 1980 em diante. O motivo? Quase não temos aqui construções históricas do passado colonial e imperial que tivemos.

ilustração
Ilustração de José Washt Rodrigues mostra a São Paulo nos tempos do Brasil imperial, muito pouco dessa época sobreviveu até o século 21. - Divulgação/José Washt Rodrigues

Mas não se engane em pensar que só a São Paulo anterior ao século 20 desapareceu de nossos olhos. A cidade erguida nas primeiras décadas do século passado também já some como fumaça de nosso horizonte. São palacetes erguidos pelos industriais que surgiram com o crescimento de São Paulo, as casas geminadas construídas pelos "capomastri" que fizeram de São Paulo algo a imagem e semelhança de suas cidades na Itália, e também os pedreiros nordestinos que ergueram casas, sobrados, mansões e edifícios para com o salário sustentarem suas famílias.

Com a recente aprovação do novo plano diretor já estamos vendo que o pouco que resta da nossa memória histórica e de nossa dignidade como povo paulistano, desaparecerá nas mãos de construtoras, incorporadoras e imobiliárias que fazem da cidade um horror urbanístico e da vida do cidadão, um inferno.

A prefeitura na imagem e voz do atual prefeito paulistano, Ricardo Nunes (MDB), nada faz para preservar o patrimônio histórico, pelo contrário. O obscuro mandatário que só chegou ao poder porque o eleito infelizmente morreu, nem sequer disfarça mais seu desprezo à memória paulistana, ao fazer do cargo que ocupa o trabalho de porta-voz, ou melhor, de "tchuthuca" do setor imobiliário e de todos aqueles que se beneficiam da terra arrasada que São Paulo se transformou.

seminário
Ao prestigiar um evento como esse o prefeito não escolhe a municipalidade, mas sim um lado do poder econômico. - Divulgação

O anúncio do Seminário "Real Estate" acima não deixa dúvidas que o prefeito escolheu um lado na sua tentativa de firmar-se no poder. E esse lado não é o do cidadão, mas sim daqueles que odeiam nossa identidade histórica, nosso patrimônio cultural. São aqueles estão sempre a "um jatinho de distância" das belezas arquitetônicas europeias ou estadunidenses, como quem pensa: patrimônio cultural que vale a pena só o estrangeiro, o nosso jamais.

O empresariado do setor imobiliário e construtivo brasileiro é o mais cafona do mundo. No afã de enriquecer-se a todo custo, defeca sobre o patrimônio de São Paulo como se não houvesse amanhã. Não são capazes de enxergarem que história e crescimento podem e devem caminhar juntos.

Por isso não me causou espanto acabar em chamas o maravilhoso e tombado casarão histórico da rua Cardoso de Almeida, nas Perdizes, na última semana. O incêndio pouco importa se foi provocado ou acidental, mas causa espanto e ojeriza que até o momento não houve qualquer pronunciamento público sobre o ocorrido, seja por parte da Secretaria Municipal de Cultura (SMC), do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) ou da secretária responsável por ambos os órgãos, Aline Torres.

casarão em chamas
Imagens do casarão da rua Cardoso de Almeida após o incêndio. Haverá reconstrução ou demolição? Por enquanto só dúvidas. - Ana Marta Ditolvo/Divulgação

Faz tempo que o que menos se faz na SMC é cultura ou preservação da memória. Na atual gestão a secretaria se transformou em mera divulgadora e produtora de eventos, numa confusão do que é cultura e o que é entretenimento. Não que o segundo não faça parte do primeiro, mas o problema é quando um engole o outro.

Na somatória de problemas envolvendo a cultura da cidade, a memória paulistana e seu patrimônio histórico, agora também em chamas, resta esperar por um milagre para que São Paulo siga sobrevivendo. Mesmo que respirando por aparelhos.

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