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Saúde digital: municípios precisam de investimentos e planejamento intersetorial

Iniciativas para consolidar a saúde digital no país precisam estar atentas aos desafios tecnológicos de cada território

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Maria Letícia Machado Victor Nobre Sara Tavares

Com a promessa da ampliação no acesso e da modernização dos serviços de saúde, a saúde digital tem ganhado cada vez mais força no Brasil. Nos últimos anos, o país experimentou diversas tentativas de alavancar esse processo. Entre as mais recentes, estão a publicação da Estratégia de Saúde Digital, que tem como grande objetivo a consolidação da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) e a criação de uma secretaria no âmbito do Ministério da Saúde (MS), com foco específico nesse tema.

No que se refere ao financiamento da saúde digital, o Boletim n. 4 de Monitoramento do Orçamento da Saúde Digital, elaborado pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), mostrou que o orçamento público destinado à essa área cresceu, em termos reais, 50,6% nos últimos dez anos. Nesse período, 2023 apresentou a maior dotação orçamentária, com R$1,08 bilhão de reais.

Os desafios para informatizar a saúde extrapolam os problemas do próprio sistema. Conflitos urbanos e problemas de conectividade podem afetar a oferta de serviços e também o processo de informatização. Na foto, uma UPA localizada na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, que há alguns anos teve seu funcionamento prejudicado pelos constantes confrontos na região. - Foto: Ricardo Borges/Folhapress

Além do aumento no montante de recursos, a criação do programa Informatiza APS, como parte da estratégia de saúde digital do MS, trouxe uma mudança na distribuição dos gastos para a área. Composto anteriormente por despesas exclusivamente discricionárias, isto é, despesas em que o governo tem maior liberdade de escolha sobre a alocação, os recursos passaram a ser representados por gastos de natureza obrigatória, ou seja, recursos que o governo é legalmente obrigado a pagar.

Municípios: protagonismo na alocação de recursos coincide com desafios para garantir infraestrutura básica para informatizar o sistema de saúde

Se tratando de um subsídio, o Informatiza APS é essencial para a manutenção do que é considerado básico em relação à infraestrutura para a saúde digital. Além de impulsionar a informatização na saúde, o programa dá protagonismo aos gestores locais na escolha de como executar esses recursos, levando em conta as necessidades do território. Por outro lado, o programa exige um esforço inicial de informatização pelos municípios, uma vez que, para que estejam aptos à adesão, é preciso que as equipes de atenção primária já tenham feito uso de prontuário eletrônico para envio de dados à RNDS.

Nesse sentido, para a execução de iniciativas de saúde digital no nível subnacional, é preciso que os gestores municipais tenham em perspectiva outras formas de somar recursos para a área, além do que é distribuído pelo Governo Federal. Novos programas de custeio-implantação, como o Informatiza APS, podem ter papel relevante para suprir necessidades de informatização nos demais níveis de atenção à saúde e consolidar a RNDS como plataforma abrangente.

Uma lição do projeto piloto do Programa Conecte SUS em Alagoas, iniciativa que testou a proposta do Informatiza APS antes da sua criação, é que existem barreiras à informatização não diretamente relacionadas ao sistema de saúde, como a disponibilidade de mão de obra qualificada, problemas relacionados à velocidade da conexão e, até mesmo, questões de segurança pública que afetam os equipamentos de saúde. Essa experiência evidenciou que para alavancar a saúde digital em todo o país, é necessário um planejamento intersetorial dos projetos e a disponibilidade de um orçamento que também leve em consideração as características de cada território brasileiro.

Conheça os desafios de implementação da Estratégia de Saúde Digital em novo livro lançado pelo IEPS em parceria técnica com o Instituto Veredas.

Maria Letícia Machado é gerente do Programa TechSUS do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) ; Victor Nobre é bacharel em economia pelo IE/UFRJ e assistente de políticas públicas do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS); e Sara Tavares é analista de políticas públicas do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS)

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