Sobre Trilhos

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Descrição de chapéu Interior de São Paulo

Cinquenta anos após ser exposta a danos, maria-fumaça histórica ganhará novo lar em Ribeirão Preto

Locomotiva alemã de 1912 ficou 47 anos em praça, onde acumulou lixo e ratos e serviu como banheiro para moradores de rua

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Após ficar 47 anos abandonada numa praça pública e pouco mais de dois anos de uma minuciosa restauração, uma maria-fumaça histórica voltará a ser exposta em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).

Fabricada em 1912 pela alemã Borsig, a maria-fumaça estava exposta desde 1973 sobre cerca de 30 m de trilhos na praça Francisco Schmidt, na região central da cidade, onde sofreu todos os tipos imagináveis de vandalismo nas décadas seguintes.

A locomotiva nº 8, que voltará a Ribeirão Preto, nos trilhos para testes em Campinas
A locomotiva nº 8, que voltará a Ribeirão Preto, nos trilhos para testes em Campinas - Divulgação/ABPF

Peças de cobre, ferro e aço foram furtadas por usuários de drogas. Seu interior abrigou moradores de rua, virou um improvisado banheiro e nos últimos anos também era a casa de dezenas de ratos.

Não é exagero dizer que estava em estado deplorável. Foi preciso abrir a lataria da locomotiva com um maçarico para que todos os ratos fossem expulsos. Seu péssimo estado a transformou num símbolo da destruição do patrimônio ferroviário, justamente numa das cidades que mais se desenvolveram a partir das ferrovias.

Até que, em 2020, a Prefeitura de Ribeirão Preto decidiu enviar a locomotiva para restauração. Repleta de lixo, restos de comida, roupas estragadas e preservativos usados, a maria-fumaça precisou passar por um processo de completa desinfecção ao chegar à oficina da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) em Campinas, na estação Carlos Gomes.

No local, foi restaurada com todos os detalhes originais. Para isso, contou com o acervo da ABPF, que tem uma locomotiva igual em Campinas. São apenas três as remanescentes da marca alemã no país. O investimento foi de R$ 749 mil.

Morador de rua dorme em frente à locomotiva quando ela estava exposta na praça Francisco Schmidt
Morador de rua dorme em frente à locomotiva quando ela estava exposta na praça Francisco Schmidt - Edson Silva-7.ago.2012/Folhapress

Agora, ela aguarda apenas a liberação do espaço em que ficará exposta em Ribeirão para voltar para casa. Em fevereiro, a prefeitura iniciou a implantação da estrutura que terá uma cobertura metálica para abrigar a maria-fumaça no parque Maurilio Biagi –também na região central.

Embora fique na mesma região, que abriga à noite dezenas de usuários de drogas, o parque tem segurança, o que deve fazer com que não ocorra a degradação registrada desde a década de 70.

A intenção, segundo o governo do prefeito Duarte Nogueira (PSDB), é que a estrutura remeta a uma estação ferroviária, com um espaço para visitação.

A previsão da prefeitura e da ABPF é que a estrutura seja concluída em abril.

Ribeirão Preto, uma das mais importantes cidades do interior do país, cresceu devido à ferrovia: muito antes da cana-de-açúcar que hoje domina a paisagem em toda a região, o município desenvolveu sua economia a partir da segunda metade do século 19 com suas grandes lavouras de café, que utilizaram os trilhos principalmente da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro para transportar o produto até o porto de Santos.

Com isso, surgiram barões do café como Henrique Dumont (1832-1892), pai do aviador Alberto Santos Dumont (1873-1932), e Francisco Schmidt (1850-1924), que dá nome à praça em que a locomotiva estava abandonada.

A maria-fumaça pertenceu à Estrada de Ferro Araraquara, foi comprada pela Usina Amália e, posteriormente, foi doada ao município pelas Indústrias Matarazzo.

Ela será usada inicialmente de forma estática pela prefeitura, ou seja, não será utilizada para passeios —o que poderá ocorrer no futuro, conforme a administração.

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