Sons da Perifa

Sons da Perifa - Jairo Malta
Jairo Malta
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América Latina

Por que o Brasil não ouve reggaeton e por que isso deve continuar assim

A falta de identificação com a cultura latina e a pluralidade de ritmos brasileiros nos afasta do gênero

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São Paulo

Se o reggaeton é um dos ritmos mais ouvidos no mundo, com destaque para o porto-riquenho Bad Bunny e Anitta que conquistou o top 1 global no Spotify com "Envolver" no ano passado, por que esse estilo musical não ganha força no Brasil? Isso é resultado de uma combinação de fatores que vão desde diferenças culturais até a maneira como os brasileiros consomem música

Homem branco de óculos
O porto riquenho Bad Bunny é um dos artistas mais ouvidos do mundo - Divulgação

Uma análise da Folha sobre os sucessos musicais globais no Spotify destaca que as músicas que lideram no Brasil geralmente não conseguem se tornar hits em outros países, indicando um isolamento musical dos ouvintes brasileiros em relação a 51 nações. Com base em 43,4 mil músicas de 2017 a 2020, o Brasil apresenta a menor similaridade de sucessos, apenas 19%, em comparação com a média global de 31%. Enquanto o Brasil parece isolado linguisticamente e musicalmente, a Argentina compartilha cerca de 61% de seus sucessos com nações de língua espanhola. Exemplos incluem músicas populares no Brasil que não entram no top 200 em outros lugares e vice-versa.

No entanto, a barreira linguística não é a única explicação. O Brasil possui uma diversidade de gêneros musicais consolidados, como o sertanejo, funk, rap e outros ritmos que, em geral, se limitam às suas regiões, como o tecnomelody, brega, carimbó e o pagodão baiano. A força desses estilos dificulta a entrada de novos gêneros, evidenciando a necessidade de ampliarmos nosso repertório e darmos espaço para outros ritmos nacionais fora de suas regiões de origem.

A música também está intrinsecamente ligada à estética e ao comportamento. Nas décadas de 1970 e 1980, a black music foi fundamental para a valorização dos negros nos bailes de São Paulo e Rio de Janeiro. Uma década depois, esses mesmos bailes, como o Soul Grand Prix e o Furacão 2000, foram o berço do funk carioca. Um fenômeno similar ocorreu em São Paulo, mas em vez de funk, os bailes que tocavam soul influenciaram na criação do rap.

O Brasil não teve nenhum movimento cultural de língua espanhola que afetasse nosso comportamento e fizesse um paralelo com a estética dos nossos vizinhos hermanos. Os 13 anos que separam os maiores sucessos do ritmo no Brasil, como "Gasolina" do cantor Daddy Yankee, de 2004, e "Despacito", a canção de Luis Fonsi, de 2017, também mostram a falta de interesse do público brasileiro nesse ritmo.

Seja pela falta de familiaridade ou devido à predominância da influência americana, o reggaeton, apesar de surgir de uma cultura próxima, ainda enfrentará desafios para ganhar força no território brasileiro. Em paralelo, precisamos refletir: diante de tanta diversidade musical em nosso país, não seria pertinente estarmos abertos às diversas influências culturais presentes no Brasil?

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