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Fundação de Amparo à Pesquisa é para amparar pesquisas

Decreto de Zema altera regras do comando da FAPEMIG e gera críticas

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Soraya Smaili Maria Angélica Minhoto Pedro Arantes Com a colaboração do Prof. Odir Dellagostin
São Paulo (SP)
Imagem de fundo bege com um círculo formado por diversos objetos científicos multicoloridos, como microscópios, átomos, lápis, canetas, gráficos, réguas, hélices de DNA e um microscópio.
Meyrele Nascimento/SoU_Ciência

Uma notícia recente trouxe indignação à comunidade científica: a intervenção do governo estadual de Minas Gerais na gestão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (FAPEMIG) e que levou as entidades Associação Nacional dos Pós-graduandos (ANPG), Academia Brasileira de Ciência (ABC) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) a entrarem com uma ação judicial protocolada na 1ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias da Comarca de Belo Horizonte.

Com o apoio de diversos outros setores da comunidade científica, as entidades solicitam a anulação do decreto assinado pelo governador Romeu Zema (Novo), que alterou as regras para a escolha do comando da Fundação que gerencia o incentivo financeiro às pesquisas do Estado. Houve várias manifestações contrárias à medida, entre as quais a dos reitores e reitoras de universidades associadas ao Fórum das Instituições Públicas de Ensino Superior do Estado de Minas Gerais (Foripes) que publicaram uma nota criticando a decisão de Zema por se tratar de medida que "despreza a gestão democrática da FAPEMIG e alija a comunidade científica das decisões da mais importante agência de fomento à pesquisa do Estado".

De fato, Zema assinou um decreto que determina que um servidor da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (SEDE) integre o Conselho Curador da FAPEMIG e também o presida. Além disso, o processo de escolha do Presidente e do Diretor Científico da FAPEMIG deixa de partir de uma lista tríplice elaborada pelo Conselho Curador e passa a ser de livre escolha do governador. Isso vai em flagrante oposição ao que vinha ocorrendo até aqui, já que o Conselho da Fapemig teria a prerrogativa de elaborar as listas tríplices que seriam enviadas ao governador para escolher os dirigentes que exerciam o cargo com mandato de 3 anos.

O ocorrido nos faz mostrar e falar sobre o que representa uma Fundação de Amparo à Pesquisa (FAP), seja em qual for o Estado. E é preciso fazer uma deferência aqui sobre o importante papel que estas instituições desempenham no desenvolvimento da Ciência e Tecnologia e das Pesquisas em cada estado da nação.

A primeira Fundação de Amparo estabelecida no país foi a Fundação do Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), seguida da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), em um cenário interessante, logo após a década de 50, quando a Ciência começava a ganhar um espaço nacional. Somente anos mais tarde houve a criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (FAPERJ), seguida da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), como verificado no quadro abaixo:

Linha temporal mostrando as datas das criações de todas as Fundações de Apoio à Pesquisa, começando pela FAPESP em 1960, incluindo a FAPEMIG em 1985 e chegando até a FAPERR, em 2022.
Linha do tempo das FAPS - Painel do Financiamento da Ciência e Tecnologia e da Educação Superior Pública - SoU_Ciência / Serrapilheira

Por serem as primeiras fundações, não é coincidência que tenham se estruturado e criado sistemas em que seus dirigentes seriam escolhidos por meio de processos elaborados, com algum grau de envolvimento da comunidade científica e com a formulação de listas tríplices. Até o dia do decreto do governador de Minas, estas fundações, juntamente com a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (FUNDECT), seriam as únicas a terem esse formato de escolha de dirigentes. Portanto, apenas 5 e agora 4, de 27 Fundações possuem um mecanismo de maior participação e escuta dos pesquisadores e gestores da área.

A medida tomada por Zema, tornar a Presidência da FAPEMIG um cargo indicado, que pode envolver outras questões, especialmente como a do controle do orçamento destinado à Ciência e Tecnologia, que no Estado de Minas Gerais é de 1% das receitas do Estado. Isso representou em 2022 o montante de 454 milhões, com execução de 99,82 %, um aumento nos investimentos em C&T do Estado, realizados com muita eficiência. Portanto, não há justificativa outra para a decisão de Zema.

As FAPs desempenham papel fundamental para a Ciência e cientistas, não só porque podem apoiar pesquisas regionais e interligadas aos problemas do Estado, como podem apoiar os pesquisadores em início de carreira, além dos bolsistas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. A verdade é que as agências federais de financiamento como CAPES, CNPq e FINEP não dão conta de toda a demanda do sistema. Ao mesmo tempo, a Fundação do Estado trabalha conjuntamente com as políticas de desenvolvimento científico de todo o país, visando o crescimento da nação.

Ainda durante a pandemia, as FAPs foram fundamentais para a continuidade de pesquisas apoiadas para o enfrentamento da Covid-19, e também para dar suporte e auxiliar em um momento em que as universidades e institutos federais de ensino e pesquisas tiveram os seus orçamentos brutalmente reduzidos (painel).

Portanto, as FAPs não podem ficar à mercê de ideias de governantes que não tenham compromisso com a pesquisa e a ciência. As FAPs devem servir aos interesses da população dos estados, fomentarem a formação de novos pesquisadores e estimularem projetos que possam trazer novos conhecimentos nas áreas de saúde, engenharias e humanidades. Além de financiar a pesquisa acadêmica, é importante destacar que as FAPs também apoiam a inovação, por meio do financiamento de projetos realizados por empresas e empreendedores.

É importante que a comunidade científica esteja unida, pois a FAPEMIG, assim como outras Fundações de Amparo à Pesquisa dos Estados, deve ser preservada para o bem de nosso país.

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