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É hora de enfrentarmos a desinformação na ciência

Seminários ao longo de 2023 apontaram caminhos para combate eficaz e definitivo

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São Paulo (SP)
Pessoas de diferentes perfis e vestimentas sentadas em cadeiras, em banquinhos e no chão lendo em torno de uma grande árvore, com textos nas folhagens nas pontas dos galhos, gaiolas penduradas e pássaros voando ao redor da copa.
Meyrele Nascimento/SoU_Ciência

O fim de ano sempre é marcado por intensa programação e, dentre as inúmeras atividades do período, uma nos chama a atenção: o Seminário Sobre Enfrentamento e Prevenção à Desinformação Científica em Saúde e Ambiente, realizado no último dia 14 de dezembro, e que fecha o ciclo de encontros e webinários "ENFRENTA". O título da série de eventos que ocorreram de forma presencial, mas também estão disponíveis para os que desejarem acompanhar aqui, é uma alusão mais do que clara ao momento que vivemos. Quem atua na ciência com seriedade conhece bem o que tem sido os processos de disseminação de notícias falsas, "fakescience", negacionismo, ou ainda a desinformação intencional.

O título "ENFRENTA" também nos mostra que o movimento pede objetividade e uma ação firme para o enfrentamento da desinformação intencional e abusivo, uma ação conjunta entre pesquisadores, tomadores de decisão, pois a disseminação de notícias falsas afeta diretamente a vida e a saúde das pessoas.

Coordenado pelo Prof. Manoel Barral, presidente da Academia de Ciências da Bahia, em parceria com a Fundação Conrado Wessel e a participação de diversos apoiadores, entre os quais o SoU_Ciência, contou com a valiosa contribuição de diversos palestrantes e debatedores. Entre os quais, estão Carlos, Vogt, Evelina Hoisel, Karina Costa, Wilson Lopes, Leonardo Avritzer, João Brant, Ethel Maciel, Orlando Silva, Ana Caetano Faria, Marisa von Bullow, Helena Martins, Sergio Ludtke, Soraya Smaili, Renato Janine Ribeiro, Ana Valéria Mendonça, Debora Salles, Herton Escobar, Luisa Massarani, Pedro Arantes, Marco Antonio Zago, Hugo Aguilaniu, José Roberto Drugowich, Mariluce Moura, Wilson Gomes, Natasha Felizi, Marcia Correa e Castro, Sabine Righetti e Jerson Lima.

No texto publicado esta semana (https://theconversation.com/o-enfrentamento-da-desinformacao-intencional-no-brasil-uma-pauta-urgente-219754), os autores e colaboradores citados apontam alguns caminhos que podemos trilhar para combater a desinformação intencional e, em última análise, o negacionismo científico. Antes de tudo, fazem uma distinção entre a "desinformação não intencional e a desinformação intencional, sendo esta última o nosso foco, pois trata-se da difusão deliberada de informações falsas, imprecisas ou enganosas, visando obter vantagens econômicas, ou para objetivos políticos e ideológicos", afirmam os autores. Tudo isso, potencializado pelos diversos meios de comunicação social existentes hoje.

Está cada vez mais claro que por razões políticas e/ou econômicas, a disseminação de notícias falsas ocorre e muitas vezes tem sucesso, principalmente porque há um desconhecimento sobre o que é a Ciência. As redes sociais se transformaram em reprodutores daqueles que julgam que sabem o que ela é e que muitas vezes deliberadamente, enganam e confundem a população. Há, de fato, uma grande confusão para distinguir o que seriam evidências científicas daquilo que são opiniões aleatórias e sem embasamento.

É, portanto, imperioso que um processo de formação continuada, inclusive de educação midiática, seja realizado fortemente para que a base seja a Educação que transforma e que pode impedir que as pessoas sejam ludibriadas. No mínimo, é preciso ter a crítica e uma cobertura em consonância com a realidade brasileira. No entanto, reconhecemos agora que temos algumas dificuldades, como a de traduzir a ciência em formas mais modernas de comunicação e linguagem, sem adulterar o rigor científico. É fundamental também buscar formas de tradução e de acesso ao conteúdo, com diferentes estratégias de comunicação, diferentes linguagens que considerem os diversos grupos sociais e a composição social e econômica da nossa Sociedade. Finalmente, importante ainda encontrar formas e mecanismos de desqualificar os conteúdos de desinformação intencional e até de criminalização, no caso de desinformação que coloque em risco a vida das pessoas, junto com uma rede de segurança.

Todas as medidas, algumas elencadas abaixo, devem levar em consideração que é um processo complexo, que deve ser estruturado e conduzido por políticas públicas muito bem definidas, com apoio amplo para a construção de uma política de Estado.

Aqui, citamos alguns processos para esse enfrentamento:

1. Promover formação continuada dos cientistas na comunicação social da ciência, desde a formação como profissional e como pesquisador;

2. Ter equipes multidisciplinares, valorizando todos os aspectos da ciência e do conhecimento de maneira ampla.

3. Valorizar e incentivar os cientistas e pesquisadores que exercem a comunicação social da ciência. Entender que a comunicação é parte do seu fazer e do seu trabalho.

4. Empoderar as instituições, cientistas e pesquisadores como agentes qualificados para dirimir dúvidas. As instituições devem ter políticas claras de comunicação com a sociedade.

5. Qualificar e expandir a educação científica e do conhecimento em escolas e nos diversos níveis de ensino, trazendo a ciência para o exercício conjunto, do compartilhamento, criação conjunta e ação de ciência cidadã.

6. Ter mecanismos institucionais para detectar e coibir a disseminação da desinformação científica, a partir de observatórios de integridade acadêmica, entre outras formas.

7. Ter políticas públicas claras para estimular os pesquisadores a se formarem e realizarem uma divulgação científica de qualidade.

8. Ter marcos legais e normativos para garantir a liberdade de opinião, mas com controle da desinformação intencional.

9. Garantir a liberdade de expressão, assegurando que informações enganosas e danos não sejam utilizados por figuras públicas.

10. Ter uma grande frente de atuação nacional pela ciência e políticas públicas, de modo a consolidar a Educação em ciência, o apoio aos pesquisadores e pesquisadoras, para garantir o desenvolvimento social e a construção de uma sociedade mais democrática.

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