Sylvia Colombo

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Descrição de chapéu desmatamento

Fogo cerca Buenos Aires e cidade é coberta por névoa de fumaça

Incêndios criminosos queimam bosques para expansão de criação de gado e ameaçam cidades

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Buenos Aires

O avanço dos produtores de gado sobre a região protegida do Delta do Río Paraná ocorre a cada seis meses. Janeiro e agosto costumam ser aqueles períodos do ano em que os dias amanhecem e anoitecem rosados, e um incômodo cheiro de fumaça é sentido pelos portenhos.

Trata-se de um crime que se repete a cada estação, mas que até agora não havia recebido a devida atenção, e a vigilância vinha sendo frouxa.

A gravidade desses delitos nos últimos dois anos, porém, tem aumentado e chamado a atenção de ambientalistas, médicos, políticos, e boa parte da população dessas regiões que tem problemas respiratórios e cardíacos. Isso ocorre porque, devido ao aquecimento global, da redução do fluxo dos rios e maior seca, os terrenos pantanosos que compunham parte do Delta dos rios vem se transformando em desertos, e qualquer vento forte traz os resíduos dessas queimadas diretamente às cidades.

As autoridades já detiveram cinco pessoas neste último mês, relacionadas a acusações de promover incêndios artificiais para a ampliação de espaços para criação de gado e do cultivo de soja. As investigações continuam. Com atraso, o governo nacional atendeu pedido dos governadores e enviou as Forças Armadas, brigadistas e aviões para conter o fogo.

Bombeiro trabalha para tentar extinguir fogo em Entre Ríos, região próspera em biodiversidade ameaçada por queimadas intencionais
Bombeiro trabalha para tentar extinguir fogo em Entre Ríos, região próspera em biodiversidade ameaçada por queimadas intencionais - Marcelo Manera/Reuters

O Delta do Rio Paraná é um território biodiverso que contêm 700 espécies de vegetais e 543 espécies de vertebrados, além de 260 espécies de aves. Ele se expande entre os territórios das províncias de Buenos Aires, Entre Ríos e Santa Fe. Além da morte da fauna local e da destruição da vegetação, a fumaça resultante do avanço criminoso sobre a natureza está atacando a saúde dos que vivem nas cidades.

Autoridades sanitárias decretaram emergência ambiental nessas zonas e pedem que as pessoas de grupos de risco, com problemas respiratórios, de coração ou maiores de idade, permaneçam em casa ou usem máscaras como as utilizadas para conter o vírus da Covid-19. Também há a recomendação de "evitar atividades ao ar livre e dirigir devagar nas estradas".

Apenas em agosto, a Unidade de Alertas do Conae (Comissão Nacional de Atividades Espaciais) identificou a presença de 9.323 focos de incêndio na região. Apenas entre 8 e 14 de agosto, concentraram-se 1.472. O mesmo órgão alerta que, desde o início de 2022, já se perdeu cerca de 130 mil hectares de área de bosques e florestas nestas três províncias.

Em Rosário, na província de Santa Fe, moradores saíram às ruas para protestar contra as queimadas, enquanto em Buenos Aires, grupos ambientalistas preparam protestos para evitar que o problema se agrave, principalmente em janeiro, em pleno verão, quando além das queimadas no Delta do Paraná costumam ocorrer novos focos, em Corrientes e Córdoba, também agravados pela queda de precipitação e aumento das temperaturas.

O planeta pede socorro, e na Argentina não é diferente.

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