Polêmica. Debate. Confusão.
O governo Bolsonaro se divide.
O tema é a Ucrânia.
–Esse Putin é que nem o Hitler.
–Hitler é você.
–Espera aí. O que o Hitler acha disso?
–Vamos conversar com ele, pô.
–Com o Putin?
–Com o Hitler, cara.
–É. Eu conversaria com ele numa boa.
–Parece que ele morreu.
–Faltava um novo Hitler no pedaço.
–Mas já tem.
–É mesmo? Por que não me avisaram?
–É o Putin, pô. Eu disse desde o começo que ele é que nem o Hitler.
–Precisava conversar com ele então.
–Espera aí. Eu já conversei.
–Ué. E o que foi que ele disse?
–Hã… um monte de coisas…
O general Perácio respirou fundo.
Era preciso tomar uma decisão.
–A gente apoia essa guerra ou não?
–Um soldado não pode ser contra a guerra.
–É o trabalho da gente, pô.
–Mas a gente tem de fazer a lição de casa primeiro.
–Positivo. Invade o que tem de invadir.
–E defende o que tem de defender.
–A família.
–O Supremo Federal.
–A Amazônia.
–Espera aí. Defende a Amazônia ou invade a Amazônia?
–As duas coisas, pô.
–Invadir é defender.
–E a Armênia? A gente invade ou defende?
–Não é Ucrânia?
–Vê aí no computador.
Assessores. Estrategistas. Generais.
–Negócio complicado esse.
–O professor Olavo está fazendo falta.
–A gente precisava marcar aquela sessão espírita.
–E será que o Hitler não dá uma canja?
–Isso. Vamos ouvir os dois lados do debate.
A tarde caía abafada pelos lados do Planalto Central.
O general Perácio levantou-se da poltrona lentamente.
–Agora, se me dão licença…
Ele sorria com superioridade.
–Para se informar direito, computador não adianta.
–O que o senhor sugere, general?
–Livros, meus amigos. Bibliografia especializada.
No banheiro exclusivo, ele tirou da farda algumas edições de bolso.
"Natasha. A espiã do prazer".
"O harém das polacas".
"Lourinha explosiva".
"Fui escrava de Hitler".
Ele voltou à reunião com um ar de calma e tranquilidade.
–Nada como debater os assuntos pendentes.
O panorama internacional é preocupante.
Mas, depois de algum esforço, as tensões sempre se aliviam.
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