Sexo. Polêmica. Discussão.
Um filme ousado entra em cartaz.
"Benedetta".
Freiras lésbicas entram em torvelinho num convento italiano.
O tema é antigo.
Mas o cinema é, ainda, a maior diversão.
Na Paróquia Santa Ismênia, o clima era tenso.
A beata Maria Eleusina fazia o sinal da cruz.
--É o fim do mundo.
Padre Pelozzi cochilava depois do almoço.
--O senhor, o que acha disso, padre?
--Hã? Ma come?
--Esse filme, padre...
Maria Eleusina mostrava as fotos no celular.
--Bene. É tutto invezione.
--Mas desmoraliza a nossa igreja, né, padre?
Pelozzi levantou os olhos para o teto da igreja.
--Ma sono pedofile, as freirigna?
--Não... mas parece que fazem cada coisa...
Pelozzi queria detalhes.
--Aí eu já não sei, padre.
Ele fez o sinal da cruz.
--Non vamo a condenare assim de improvizzo.
Tolerância e compreensão constituem importantes virtudes na igreja moderna.
--Tiene que assistire o filme.
A velha Kombi da igreja foi abastecida para a excursão.
As amigas de Maria Eleusina fizeram a fila com o terço na mão.
--É a Marcha pela Família, com Deus, pela Censura.
--Calma, mignia djente... primo, assiste. Doppo, condena.
O grupo entrou em silêncio no Cinepark do Shopping Santa Fé.
Beleza. Sensualidade. Repressão.
Pelozzi já tinha tomado alguns cálices de vinho.
Em poucos minutos, ele roncava em total estado de beatitude e inocência.
Ele começou a acordar já perto do fim do filme.
Um tranco. Um empurrão. Gemidos diversos.
--Ainhhm... ainhhmm... nhec, nhec.
O grito chegou pertinho do seu ouvido esquerdo.
--Aaaaa... rhááák.
Era Maria Eleusina.
Descomposta. Enlouquecida. Feliz.
Na mesma poltrona, a sobrinha de Pelozzi levava a beata aos píncaros do prazer.
A volta na Kombi se fez em total silêncio.
Pelozzi passou a noite orando na sacristia.
--Sono il culpatto. Tentazione dello capeta.
Na parede, a imagem de São Sebastião parecia derramar uma lágrima.
Pelozzi interpelou o belo e atlético mártir da fé.
--Il signore está disapontatto comico?
Ele pensou mais um pouco.
--Ou vai ver que gostava di sere convitato para la escurzione.
A vida de nossa alma é como uma sala de cinema.
Está tudo escuro. Você não sabe o que rumo tomar.
E há muito tempo que já não existe o lanterninha.
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