Amor. Carinho. Saudade.
Chega o Dia das Mães.
Geovan era empresário no setor de confecções.
–Hora de sair da crise.
As vendas são promissoras nesta época do ano.
–Quem disse que a economia vai mal?
Era crescente o seu otimismo.
–O Bolsonaro está no caminho certo.
As atitudes presidenciais tinham apoio do Geovan.
–Valores cristãos, pô.
Ele levantava a voz.
–Família. Lucro. Liberdade. O que mais eu posso querer?
Um bom vinho, quem sabe.
–Bom para o coração. Ainda mais nesse friozinho.
Vinham lembranças de uma infância modesta.
–A gente acordava cedinho para trabalhar na roça.
O momento era de emoção.
–Minha mãe criou os oito filhos…
Todos agora estavam bem de vida.
–Ela morreu com a missão cumprida.
Na parede, o retrato a óleo era tão bom que parecia falar.
–Geovan… Geovan…
O empresário depositou o cálice na mesinha de mármore travertino.
–Mãe… é a senhora?
–O que foi que você fez comigo, meu filho?
–Eu? Como assim?
Um dedo cadavérico apontava na direção do bolsonarista.
–Me dar cloroquina… onde já se viu?
O empresário se levantou com raiva.
–Vai pôr a culpa em mim do que te aconteceu?
–Covid, Geovan… não é brincadeira.
Geovan se exaltava.
–Foi comorbidade, caceta. Nada a ver com pandemia.
–Nem uma vacininha, Geovan…
–Mas o Pazuello e o Queiroga…
A velha senhora deu um sorriso triste.
–Esquece essa gente, Geovan… que eu te perdoo.
Foi ficando vermelho o rosto do bolsonarista.
–Mãe, você nunca entendeu de política.
–Filho, você ficou rico mas continua burro…
A ofensa fez Geovan avançar contra o retrato de Dona Ermantina.
O ataque teve breve desfecho.
Marcado por um enfarte de proporções fatais.
–Mãe… mãe?
–Chegou tua hora, filho… e não adianta pedir cloroquina.
Um coração de mãe perdoa muita coisa.
Mas o coração de um filho, por vezes, também fraqueja.
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