Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Descrição de chapéu CPI da Covid

Coração de mãe

Promover os valores da família nem sempre é o bastante na vida de um empresário

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Amor. Carinho. Saudade.

Chega o Dia das Mães.

Geovan era empresário no setor de confecções.

–Hora de sair da crise.

As vendas são promissoras nesta época do ano.

–Quem disse que a economia vai mal?

Era crescente o seu otimismo.

–O Bolsonaro está no caminho certo.

As atitudes presidenciais tinham apoio do Geovan.

–Valores cristãos, pô.

Ele levantava a voz.

–Família. Lucro. Liberdade. O que mais eu posso querer?

Um bom vinho, quem sabe.

–Bom para o coração. Ainda mais nesse friozinho.

Vinham lembranças de uma infância modesta.

–A gente acordava cedinho para trabalhar na roça.

O momento era de emoção.

–Minha mãe criou os oito filhos…

Todos agora estavam bem de vida.

–Ela morreu com a missão cumprida.

Na parede, o retrato a óleo era tão bom que parecia falar.

–Geovan… Geovan…

O empresário depositou o cálice na mesinha de mármore travertino.

–Mãe… é a senhora?

–O que foi que você fez comigo, meu filho?

–Eu? Como assim?

Um dedo cadavérico apontava na direção do bolsonarista.

–Me dar cloroquina… onde já se viu?

O empresário se levantou com raiva.

–Vai pôr a culpa em mim do que te aconteceu?

–Covid, Geovan… não é brincadeira.

Geovan se exaltava.

–Foi comorbidade, caceta. Nada a ver com pandemia.

–Nem uma vacininha, Geovan…

–Mas o Pazuello e o Queiroga…

A velha senhora deu um sorriso triste.

–Esquece essa gente, Geovan… que eu te perdoo.

Foi ficando vermelho o rosto do bolsonarista.

–Mãe, você nunca entendeu de política.

–Filho, você ficou rico mas continua burro…

A ofensa fez Geovan avançar contra o retrato de Dona Ermantina.

O ataque teve breve desfecho.

Marcado por um enfarte de proporções fatais.

–Mãe… mãe?

–Chegou tua hora, filho… e não adianta pedir cloroquina.

Um coração de mãe perdoa muita coisa.

Mas o coração de um filho, por vezes, também fraqueja.

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