Guerra. Ameaça. Bombardeio.
É a Rússia de Vladimir Putin balançando o barco do mundo.
O ex-presidente Lula dá sua opinião.
–Culpa dos ucranianos também.
Em seu pequeno apartamento em Santa Cecília, Elpídio acompanhava os acontecimentos.
–Finalmente alguém disse a verdade.
A cabeça do antigo militante não perdera suas simpatias pela Rússia.
–Socialismo, pô.
A fala de Lula era razão para ele comemorar.
–Hehe. Conhaque Presidente.
O velho televisor Colorado RQ dava as notícias.
Representante do governo russo diz que Hitler era judeu.
–Bom. Eles são super bem informados.
Na parede, o retrato de Che Guevara não fazia comentários.
–Pena que o Putin não tem tempo para a gente.
Elpídio suspirava.
–Uma guerrinha aqui resolvia a parada em pouco tempo.
Ele tomou mais uma dose.
–Pena que ninguém mais fala em luta armada.
A tarde caía com rajadas de frio na capital paulista.
–Hora de redobrar o assalto a Biritovsk.
Passos cuidadosos conduziram Elpídio até a cozinha.
A fila de garrafas estava bem organizada em cima da pia.
–Caramba. Essa aqui está bem pesadinha…
Elpídio segurou o recipiente.
–Frio… parece metal…
Uma grande estrela vermelha apareceu diante de seus olhos.
Em vez de garrafas, Elpídio enxergava mísseis. Bombas. Artefatos nucleares.
–O povo unido jamais será vencido.
Foi quando ele sentiu o apartamento balançar.
–Ou vai ou racha.
A garrafa espatifou-se no chão.
Elpídio sentiu uma mão delicada evitando que ele caísse em cima dos cacos.
Dedos finos. Sensíveis. Mas com muita experiência médica.
–Calma, Elpídio. Só vim te dar uma injeçãozinha…
Ele acordou num quarto do hospital conveniado.
–Tudo branco… Será a Sibéria?
A enfermeira Natália fixou em Elpídio um par de olhos azuis.
–Idiota.
Elpídio xingou o travesseiro.
–Só pode ser ucraniana.
Países podem ser invadidos e conquistados.
Ucranianos e ucranianas resistem com bravura.
Mas as defesas mais resistentes não têm nacionalidade.
São as muralhas cranianas.
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