Emprego. Avião. Churrasquinho.
O ex-presidente Lula promete voltar aos velhos tempos.
O dr. Salústio sorria com superioridade.
—Ué. Não era para ser ecologista agora?
A filha se chamava Patrícia.
—Claro, papai.
—Então. Esse candidato de vocês, todo politicamente correto...
—O que é que tem?
—Quer fazer churrasco? Não é para ser vegetariano não?
Patrícia olhou para o teto.
—Já vai começar a provocar.
—E viagem de avião... não aquece o planeta?
Patrícia resolveu cortar rente.
—Ah, é? Então você quer que eu vote no Bolsonaro?
O dr. Salústio não escondia suas preferências conservadoras.
—Pelo menos é verdadeiro. Não mente.
O silêncio instalou-se no salão do palacete.
—Bom, filha. Você faça o que quiser.
Patrícia usou suas técnicas de meditação.
—Aprendi com um guru indiano.
O famoso Fehdi Suwak tinha um centro místico na Zona Sul.
—Hora da minha aula com ele, aliás.
O dr. Salústio se levantou com dificuldade do sofá verde musgo.
—Também estou saindo.
Tratava-se de um almoço de negócios.
—Numa churrascaria. Seguindo o conselho do Lula. Haha.
A compra de participações acionárias na Metalúrgica Formatto estava em pauta num exclusivo bufê da Faria Lima.
—Evitar que a chinesada tome conta.
A degustação de carnes nobres foi interrompida subitamente.
O delegado Barreto exibiu as credenciais da Polícia Federal.
—Investigação. O senhor me acompanhe.
O dr. Salústio era acusado de articulações golpistas.
No avião para Brasília, ele tenta argumentar.
—Churrasco. Avião. Metalúrgica... o que mais vocês querem?
Veio o grito abafado na garganta.
—Sempre fui Lula, caceta.
Patrícia agendou o guru indiano para uma visita à cela especial.
—Calma, papai. Ele está levando um celular dentro do turbante.
O dr. Salústio já se comprometeu com a assinatura de manifestos pela democracia.
—E estou fazendo doação para o teu candidato, Patrícia.
—Paga um pouco para o Fehdi também.
A carne bovina pode ser questionável do ponto de vista ecológico.
Mas, quando muda o ambiente, quem é vivo se adapta como pode.
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