Orgulho. Pátria. Independência.
No Sete de Setembro, o presidente Bolsonaro se autodefine.
—Imbrochável. Imbrochável. Imbrochável.
Não se pode dizer que ele tenha medo de repetições.
O dr. Cavalini se mostrava irritado.
—Pouca vergonha. Onde já se viu?
O bem-sucedido empresário não escondia sua decepção.
—Pensar que votei nesse babaca.
A esposa de Cavallini se chamava Lubiana.
—Ih, quanta inveja, amor. Haha.
—Inveja? Como assim?
—Vai dizer que você não queria ser como ele...
—Imbrochável? Eu? Ora essa.
Cavallini fixou os olhos na ponta do sapato.
—Também, com o monte de Viagra que o Exército andou comprando...
Lubiana abriu as portas do terraço climatizado.
—Deixa o presidente falar o que ele quiser, ué.
O fabricante de autopeças continuava bufando.
—A questão não é essa, Lubiana.
—Qual é, então?
—É que ele não é imbrochável coisa nenhuma.
Lubiana regava as orquídeas no jardim da cobertura.
—Então tá. Tudo bem.
—E eu te digo por quê.
O dr. Cavallini fez uma pausa dramática.
—Porque ele brochou. Brochou lamentavelmente.
—Mas como é que você sabe, amor?
—Não era para ele ter dado o golpe?
A voz de Cavallini se enchia de indignação.
--Todo mundo ali. Pronto para apoiar ele.
—Isso é verdade.
—Na hora do vamos ver...
—Michou.
—No ano passado, a mesma coisa. Brochou também.
Do alto da cobertura, Cavallini emitiu um grito de proporções imperiais.
—Cadê o golpe, caraca?
Lubiana achou que era melhor o marido se acalmar.
—Vem, amor. Vem descansar um pouco na suíte.
A noite descia sem calor pelo espigão da Paulista.
—Amooor...
—Que foi, Lubiana?
—Como é que está o seu bolsonarinho hoje?
O sexagenário emudeceu.
Na verdade, a situação estava mais para assessoria do Senado do que para Poder Executivo.
—Tudo bem, amor. Fica para outra vez. Ou então toma um comprimidinho.
No mundo animal, podem ser imbrocháveis os impulsos de um macho.
Mas, na vida humana, por vezes pesam mais o clima, o tempo e a ocasião.
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