Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Voltaire de Souza
Descrição de chapéu forças armadas

Na porta do quartel

Para bolsonaristas, a esperança é verde-oliva, mas há espaço para concessões

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Reação. Revolta. Teimosia.

Bolsonaristas não se conformam.

Ainda há protestos na frente dos quartéis.

Caio Luís não perdia nenhum.

—Intervenção militar. A única saída.

Por via das dúvidas, ele já tinha providenciado o passaporte italiano.

—Mas a esperança é verde-oliva.

A família tinha importantes laços militares.

—O tio Baltazar. Me ensinou tudo o que eu sei.

Equitação. Civismo. Artes marciais.

—E me deu meu primeiro uniforme do Power Rangers.

A foto mostrava o adolescente esbelto em posição de combate.

—Valeu, tio.

O tempo passou.

Trazendo responsabilidades. Deveres. Convicções.

—A vida de empresário não é bolinho.

Caio Luís suspirava.

—Mas da liberdade eu não abro mão.

Um grupo significativo se reunia diante das portas do Quarto Destacamento Motorizado.

—Comunismo, nunca.

—Ninguém rouba essa eleição.

Mas um fato era incontestável.

—O pessoal está desanimando.

Um murmúrio corria entre os manifestantes.

—O Bolsonaro. Traiu a gente.

—Não tomou nenhuma atitude.

—Nunca acreditei muito nele.

—Afinal, foi expulso do exército.

—A solução tem de vir de outro lugar.

—Tanque. Farda. Coturno.

—Chega de terninho civil.

—Farda verde. Capacete na cabeça. E pistola na mão.

Um sol de prata brincava de esconde-esconde entre nuvens de tormenta.

Os olhos de Caio Luís piscavam diante da luminosidade fugitiva.

—Olha. Olha. Estão abrindo o portão do quartel.

—Onde? Mostra aí, Caio Luís.

O dedo trêmulo apontou na direção de quatro motocicletas.

—Ali. Saiu um cara. Todo de verde.

—Não estou vendo nada, Caio Luís.

Brilhos metálicos vinham de um capacete de combate.

Lágrimas nasceram nos olhos do empresário.

—Tio Baltazar... será?

Caio Luís chegou mais perto.

—Ué... isso não é roupa militar.

A aparição tirou o capacete.

--Pronto para a missão, Caio Luís.

--O Power Rangers verde?

Lembranças infantis eclodiram no organismo de Caio Luís como um vulcão adormecido.

--Você aqui?

Noticiou-se o falecimento do ator Jason David Frank.

Ídolo da garotada no seriado de inspiração oriental.

—Ele não morreu coisa nenhuma. Quem acredita no que sai na mídia?

Caio Luís foi detido tentando dar a partida numa moto da Drogafarma.

A esperança tem muitos tons de verde.

Mas política é assim mesmo.

Quando um mito cai do cavalo, outro aparece para montar em cima.

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