Nervosismo. Polêmica. Discussão.
Com a derrota de Bolsonaro, algumas emissoras de rádio entram em crise de identidade.
A reunião era tensa na Dinâmica FM.
—Vamos ter de demitir o Diogo Filadelfo.
—Mas como? Um rapaz tão inteligente.
—Muito radical, cara.
—Não acho.
—É radical sim.
—E daí? O que importa é que ele está certo.
—Está certo para você, mas não para todo mundo.
—Você também gostava dele, pô.
—Nunca disse isso.
—Disse sim.
—Não disse.
A tarde chegava com ventania para os lados da Paulista.
O diretor-executivo Dudu Cerquilho respirou fundo.
—O fato é que nós precisamos ir mais para o centro.
—Bom... então o que é que a gente faz?
Dudu entregou a lista de demissões para o assessor Bob Enrique.
—É isso aqui.
—Mas, Dudu... quem a gente põe para falar de economia?
—O Guedes, pô. O Paulo Guedes. Mais equilibrado.
—Ah.
—"No centro da notícia".
—E no programa da tarde?
—Regina Duarte. Moderada. Amorosa.
—Não dá para chamar de radical.
—Na Madrugada do Caminhoneiro, alguém mais sério...
—Quem?
—O Pazuello, pô. Bota o Pazuello.
—E no Canal do Consumidor?
—O Luciano Hang. É radical mas está revendo as posições.
—Haha, um papagaio no microfone.
Dudu não gostou da piadinha.
—Mais uma coisa, Bob.
—O quê?
—Você está demitido também.
Uma onda de mágoa tomou conta da alma do assessor.
—Mas eu sempre fui de centro, Dudu. O Diogo Filadelfo vivia me xingando.
—Então. Por que você não reagia? Assim não tem debate.
O país procura seus caminhos.
Mas, por vezes, quem quer ir ao centro termina cavando mais fundo no buraco.
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