Se alguém duvida de que em conversa de bar cabe qualquer assunto, talvez seja hora de mudar de ideia: começa nesta segunda (14) o Pint of Science, evento de divulgação científica que ocorre em diversos países —Brasil incluso— e que promove encontros nos quais se discute ciência em meio a cerveja e petiscos.
Com a ideia de aproximar cientistas do público, o festival leva durante três dias pesquisadores de diversas áreas para falar sobre seus temas de estudo num ambiente diferente das sisudas salas de aula universitárias.
O Pint (pronuncia-se "paint") surgiu na Inglaterra em 2013 —daí a alusão ao tradicional copo de cerveja inglês— e chegou ao Brasil em 2015, quando foi realizado em São Carlos, no interior paulista.
Denise Casatti, analista de comunicação na USP São Carlos trouxe o festival para o país. Ela propôs que a universidade apoiasse o evento e entrou em contato com Michael Motskin, criador do Pint.
"Ele gostou da ideia, mas queria que ocorresse em ao menos duas cidades. Como faltava menos de dois meses para o início do festival, no entanto, concordou em abrir uma exceção. Garanti que se conseguíssemos montar o Pint aqui, se espalharia."
A aposta deu certo. No ano seguinte, o evento ocorreu em sete cidades; em 2017, foram 22; e, neste ano, 56 —os quais vão desde uma metrópole como São Paulo a pequena Santa Rita do Sapucaí (MG), que conta menos de 40 mil habitantes. Dentre os 21 países que abrigarão o festival em 2018, o Brasil só perde em número de cidades para a Espanha, com 58.
Para Natalia Pasternak, organizadora nacional, apesar da cultura boêmia nacional, o sucesso do Pint por aqui é algo surpreendente. "Ou tudo é desculpa para ir para o bar ou o brasileiro, como parece, está realmente interessado em ciência e conhecimento. Talvez um pouco dos dois", brinca.
Outro fator que pode ter contribuído para a expansão, diz Pasternak, é o engajamento dos cientistas em popularizar suas pesquisas.
"A coisa boa dessa crise na ciência é que a comunidade científica acordou para o fato de que a divulgação precisa acontecer. A ciência traz imensos benefícios, mas se a gente não se empenhar em divulgar, ninguém irá perceber", diz.
"Em que outra situação a população fala diretamente com o cientista e pergunta o que quiser?", questiona Casatti. Assim, ao promover esse contato, o festival contribui para amainar estereótipos que cercam a profissão de cientista.
"Persiste a imagem do cientista maluco, nerd, de jaleco branco, trancado no laboratório e esquecido da vida lá fora. Nada mais distante da realidade", afirma Pasternak, que também é pesquisadora da USP. "Cientistas são pessoas normais, que escolheram a ciência como carreira, assim como outros escolhem medicina, arquitetura etc."
A realização do evento, que neste ano terá cerca de 500 encontros em bares e restaurantes, demanda comprometimento. Tanto as 750 pessoas envolvidas na organização quanto os 885 palestrantes são voluntários. "Ninguém ganha nenhum centavo, fora o dono do bar", diz Pasternak.
A programação do Pint é definida pelos coordenadores de cada cidade, responsáveis por ir atrás do palestrantes. Essa seleção é submetida aos coordenadores regionais, para garantir que as palestras abordem assuntos científicos.
"As palestras podem contemplar qualquer área, só não podem contemplar bobagens pseudocientíficas", diz a organizadora nacional do Pint.
Inteligência artificial, produção de vacinas, teoria das cordas, presença de micróbios no corpo, nutrição humana e jornalismo científico são alguns dos temas deste ano.
As jornalistas da Folha Cláudia Collucci, Suzana Singer e Mariana Versolato participarão do evento, assim como Sabine Righetti, Salvador Nogueira e Reinaldo José Lopes, colaboradores do jornal.
Paternak diz que, após o festival ter-se consolidado no país, a meta agora é aumentar a diversidade do público.
"Uma parte significativa do público é universitária. Neste ano, estamos lançando uma campanha para que cada um deles leve um amigo de fora da academia. Só dessa maneira conseguiremos, de fato, popularizar a ciência."
Algumas palestras
Brasília
Smart drugs: o 'doping' da vida cotidiana?
14.mai, 19h30 - London Street Pub
O Universo para você descobrir: a astronomia no cotidiano
15.mai, 19h30 - Stadt Bar & Music
As máquinas vão dominar o mundo?
16.mai, 19h30 Resenha Bar e Restaurante
Fortaleza
Saúde e violência nas cidades invisíveis de uma metrópole
14.mai, 19h30 - Cantinho do Frango
A física simples de sistemas complexos: aplicações em ciências sociais, políticas, neurociência e (até mesmo) em física
15.mai, 19h30 - Brava Boteco, Carnes e Frutos do Mar
Em busca da Terra 2.0
16.mai, 19h30 - Boozer's Pub
Curitiba
Por que a música fala a língua da ciência?
14.mai, 19h30 - Hendrix Brew House
Uma pitada de ciência no hamburguer
15.mai, 19h30 - Hendrix Brew House
A cientistas estão chegando
16.mai, 19h30 - We Are Bastards Pub
Belo Horizonte
Me engana que eu gosto: fake news em pauta
14.mai, 19h30 - Cantina do Lucas
Cadê o vírus que estava aqui? Vírus e mutação
15.mai, 19h30 - A Cafeteria MM Gerdau
Era uma casa muito engraçada: novos materiais na construção civil
16.mai, 19h30 - Xico da Carne
Rio de Janeiro
A multidão que nos habita (e nos mantém saudáveis)
14.mai, 19h30 - Teto Solar
A beleza que se põe à mesa: interações entre flores e polinizadores
15.mai, 19h30 - Jarbô
Dois chopes e senta que lá vem história: como a matemática está por trás da ciência e da arte de uma boa cerveja
16.mai, 19h30 - Jarbô
São Paulo
A flecha do tempo: por que envelhecemos e não rejuvenescemos
14.mai, 19h30 - Tubaína
Socorroooo! Relógio biológico desregulado
14.mai, 19h30- Quintal do Espeto
Nós estamos cobertos de germes! Que bom!
15.mai, 20h30 - Capitão Barley
Levitação acústica de cerveja: pode isso, Arnaldo?
15.mai, 19h30 - Bar da Avareza
Caçadores de mitos: da nutrição ao exercício
16.mai, 19h30 - Galeria 540
Sexo, antibióticos e rock'n roll
16.mai, 20h30 - Japan Tower
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