Ninhos feitos em prédios mantêm temperatura mais alta, mostra estudo

Pesquisador estudou o comportamento de sabiás-barranco no interior de SP

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São Paulo

As aves são conhecidas por construírem seus ninhos com esmero, reunindo folhas, gravetos, argila e outros materiais por dias até chegar ao formato desejado. Alguns sabiás, porém, têm também optado por canos, janelas, vigas de madeira e até ar-condicionado para receber seus filhotes.

É o que constatou pesquisa desenvolvida pelo biólogo Augusto Batisteli durante doutorado realizado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Ao longo de quatro anos, ele observou no campus da universidade o comportamento de sabiás-barranco (Turdus leucomelas), que, mesmo diante da extensa oferta de áreas verdes, optam por fazer ninhos perto das construções humanas.

Sabiá-barranco em ninho feito próximo a construção em São Carlos (SP)
Sabiá-barranco em ninho feito próximo a construção em São Carlos (SP) - Augusto Batisteli/Arquivo Pessoal

"Considerando que as aves são muito criteriosas nessa escolha, alguma vantagem deveria existir", explica o biólogo.

O estudo concluiu que ninhos em prédios são em média 6ºC mais quentes em seu interior do que aqueles feitos em árvores. Ao observar o comportamento das fêmeas por mais de 200 horas, Batisteli percebeu que aquelas que usam construções humanas como suporte passam 7% menos tempo no ninho durante a incubação.

A pesquisa também investigou a sobrevivência e tamanho da ninhada nos dois ambientes, com vantagem para os ninhos feitos em prédios. "Provavelmente, esses ninhos são mais difíceis de serem localizados e acessados pelos predadores, que costumam ser maiores, como no caso do gavião", explica.

Agora, o biólogo tem se dedicado à análise da personalidade das aves, para saber se as fêmeas que se aproximam das construções são mais corajosas ou medrosas. "Dados preliminares mostram que as fêmeas que se aproximam das construções têm menos medo de situações estranhas, o que indica um comportamento mais ousado", diz.

Sabiá-barranco em ninho feito próximo a construção em São Carlos (SP)
Sabiá-barranco em ninho feito em lâmpada em São Carlos (SP) - Augusto Batisteli/Arquivo Pessoal

Apesar de ter estudado apenas o sabiá-barranco, o pesquisador acredita que as conclusões também se apliquem a outras aves que constroem ninhos abertos, como outras espécies de sabiá, o sanhaço-cinzento (Thraupis sayaca) e as pombas asa-branca (Patagioenas picazuro) e avoante (Zenaida auriculata).

Batisteli afirma que ainda é cedo para concluir se esse hábito deveria ou não ser estimulado. "Pode ser benéfico para a espécie se reproduzir em um local sem árvores, por exemplo. Mas ainda não sabemos as consequências em longo prazo".

Para ele, os achados da pesquisa não podem ser considerados um passe livre para aumentar a urbanização.

"Muitos falam que as aves vão para as cidades porque estão adaptadas. Não é totalmente verdade. O primeiro grande impacto é a exclusão de um grande número de espécies que não têm condições de se adaptar. Das que sobram, as mais tolerantes conseguem usar construções humanas na nidificação", diz.

Sabiá-barranco em ninho feito próximo a construção em São Carlos (SP)
Ninho feito em trilho de metal em São Carlos (SP) - Augusto Batisteli/Arquivo Pessoal
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