Descrição de chapéu The New York Times dinossauro

Erupções vulcânicas ajudaram os dinossauros a dominar a Terra

Houve um aumento de chuvas e, assim, da vegetação adaptada a ambientes molhados e aquáticos

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Sam Jones
The New York Times

A relação entre dinossauros e vulcões, historicamente falando, nem sempre foi muito cordial.

Cientistas vêm discutindo há décadas se foram vulcões ou um asteróide que provocaram a extinção repentina dos dinossauros, 65 milhões de anos atrás. Foi apenas em 2010 que um comitê internacional de especialistas declarou formalmente que foi a rocha espacial, e não erupções gigantescas, a causa principal da extinção dos dinossauros.

Agora uma equipe de cientistas está apresentando as evidências mais convincentes vistas até o momento de que eventos vulcânicos enormes provavelmente ajudaram os dinossauros a tomar conta do planeta, pelo menos em outra era. Os resultados dos estudos dessa equipe foram publicados na segunda-feira (27) no Proceedings of the National Academy of Sciences.

Visitantes observam esqueleto do tiranossauro rex Trix, com idade de 67 milhões de anos, em exibição no Museu de História Natural da França, em Paris - Philippe Wojazer - 6.jun.2018/Reuters

O período triássico, que começou há cerca de 250 milhões de anos, foi marcado por transformações ecológicas maciças, após o maior evento de extinção em massa do qual se tem conhecimento. Embora os dinossauros já tivessem emergido nesse período, eram diferentes: mais magros, de aparência mais reptiliana, não tão parecidos com os animais cheios de dentes que fazem sucesso nas bilheterias dos cinemas. Mas foi nesse período que os dinossauros se diversificaram até tornar-se animais assombrosos como o tiranossauro rex ou o triceratops que dominaram ecossistemas em toda a Terra até o final do período cretáceo.

Para entender o que possibilitou essa transformação dos dinossauros, cientistas analisaram uma fase durante o período triássico que abrangeu 2 milhões de anos e é conhecida como o Episódio Pluvial Carniano (CPE). Durante esse período, entre 234 milhões e 232 milhões de anos atrás, o planeta passou por um aumento da temperatura global, da umidade e das chuvas –um clima descrito frequentemente como “megamonção”.

Os pesquisadores analisaram sedimentos e evidências fósseis vegetais de um lago no norte da China e puderam traçar uma correspondência entre quatro fases de atividade vulcânica intensa e as mudanças ocorridas durante o Episódio Pluvial Carniano.

Os cientistas haviam teorizado anteriormente que as mudanças globais no ciclo de carbono ocorridas durante o episódio foram decorrentes de grandes erupções vulcânicas de algo que é hoje uma massa de rochas ígneas encontrada em todo o oeste da América do Norte. O novo estudo vincula o timing do episódio com quatro picos distintos de mercúrio –indicador conhecido de atividade vulcânica—com mudanças no ciclo de carbono e também da precipitação pluviométrica, que levou a modificações locais na vegetação em terra e no lago.

“Frequentemente conseguimos estabelecer uma relação entre vulcanismo e aquecimento global, mas nosso estudo é incomum na medida em que também ligamos o vulcanismo a períodos de precipitação pluviométrica intensa”, disse Jason Hilton, paleobotânico da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, e co-autor do estudo. “Com cada fase de vulcanismo intenso, vemos um aumento da vegetação adaptada a ambientes molhados e aquáticos.”

Jing Lu, pesquisador da Universidade China de Mineração e Tecnologia e também co-autor do estudo, acrescentou que essas erupções “foram suficientemente poderosas para impulsionar processos evolutivos durante o triássico”.

Durante o episódio, espécies vegetais que não conseguiram adaptar-se ao ambiente mais úmido entraram em extinção, assim como várias espécies animais, desde herbívoros reptilianos terrestres grandes até pequenos gastrópodes aquáticos. “Essas transformações abriram espaço ecológico para o crescimento de outros grupos de organismos, como os dinossauros”, disse Hilton.

Além da diversificação dos dinossauros, os pesquisadores acreditam que o CPE deitou as bases para os ecossistemas de hoje.

“Durante o CPE começamos a ter esse misto perfeito de monstros pré-históricos e de mamíferos e répteis modernos”, explicou Emma Dunne, pesquisadora da Universidade de Birmingham que não participou do estudo, mas cujo trabalho enfoca os fatores que impulsionaram a diversificação dos tetrápodes antigos como os dinossauros. “Havia tartarugas, mas também pterossauros.”

Essas novas evidências estão levando pesquisadores a refletir mais sobre nosso clima em transformação acelerada.

“A escala dessas erupções supera de longe todas as erupções vulcânicas ocorridas na história humana”, diz Sarah Greene, co-autora do estudo e paleontóloga na Universidade de Birmingham. “Mas a taxa de emissão de dióxido de carbono dessas erupções é minúscula comparada às emissões humanas de dióxido de carbono que temos hoje.”

Dunne ecoou essa ideia. “Aqueles 2 milhões de anos foram um piscar de olhos no tempo geológico. Logo, pensar que nós, como humanos, estamos transformando o planeta em velocidade ainda maior é um pouco assustador”, ela comentou. “Quem sabe o que vamos causar?”

Tradução de Clara Allain

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