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Série da Netflix sobre a Inspiration4 não passa de um comercial da SpaceX

Com cinco episódios, 'Countdown' serve como propaganda do projeto turístico-espacial de Elon Musk

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São Paulo

Num evento tradicional do Vale do Silício, remanescente do influente AllThingsD, Elon Musk foi questionado sobre o foguete do concorrente Jeff Bezos e seu formato de pênis.

"Bem, se você só vai fazer voo suborbital, então seu foguete pode ser, digamos, menor", respondeu ele. A entrevistadora e a plateia riram, muitos até aplaudiram.

Foi dois dias antes de entrar no ar o último dos cinco episódios de "Countdown: Inspiration4 Mission to Space", documentário da Netflix sobre o projeto turístico-espacial de Musk.

Dois homens e duas mulheres posam de pé em um fundo cinzento vestindo trajes de astronauta, com capacetes com visor por onde podemos ver seus rostos
Da esq. para dir. Chris Sembroski, Sian Proctor, Jared Isaacman e Hayley Arceneaux, tripulantes da missão Inspiration4 - Inspiration4/John Kraus/Divulgação/Reuters

A conversa com o empresário, que durou menos de metade do tempo, é mais divertida e reveladora do que todo o programa. Este não passa, como fica claro desde logo, de um comercial da SpaceX, a empresa de Musk, com participações especiais dos carros da Tesla.

A própria piada revela mais. Abordada seguidamente no documentário, mas tentando não evidenciar que se trata de mote publicitário, a oferta de voo orbital é o suposto diferencial da SpaceX, na nascente disputa por turistas com a Blue Origin de Bezos.

Os primeiros quatro episódios na Netflix são especialmente modorrentos, acompanhando como personagens de reality show os quatro supostos tripulantes, sendo escolhidos e depois preparados para o voo.

Seguem-se as regras de representatividade social, com alguns apelos de dramaticidade, como a sobrevivente de câncer. "Cada pessoa que se juntar a esta missão precisa ser capaz de trazer, por si só, uma história forte e inspiradora", explica seu "comandante".

O programa só vai ganhar sentido na metade do último episódio, com o voo. É quando são apresentadas as imagens da "maior janela já colocada no espaço", segundo a narração sempre publicitária, e se vê "toda a esfera da Terra", outro diferencial.

No final, letreiros enfatizam que, "a uma altitude orbital de 585 quilômetros, a tripulação voou mais alto que todos os astronautas do século 21", ou seja, do que concorrentes como a Blue Origin e até russos e chineses.

Documentário autorizado, "Countdown" evita abordar os riscos reais do voo, como o alarme que disparou sobre o banheiro –com problemas na "gestão de resíduos", embora sem alcançar a cabine, garantiu a SpaceX em entrevistas de verdade.

A narração bate na tecla de que foi um "marco histórico", o início de uma era espacial "civil", no sentido de ser iniciativa privada, não estatal. A baixa temperatura do documentário não sustenta tal proclamação de nova era.

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