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Epidemiologista recusa título de Mérito Científico dado por Bolsonaro

Em carta, Cesar Victora afirma que desistiu da honraria por discordar da política do governo na pandemia

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São Paulo

O epidemiologista Cesar Victora recusou o título de grão-cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, concedido pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na quarta-feira (3).

Segundo carta aberta escrita pelo professor, a condecoração, mesmo que seja um grande "reconhecimento para qualquer cientista brasileiro", o deixou dividido por ter sido feita por uma gestão que "não apenas ignora, mas ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva".

A Ordem Nacional do Mérito Científico é uma das maiores condecorações do país destinadas a cientistas. Ela foi instituída em 1993 pelo então presidente Itamar Franco para prestigiar profissionais com "relevantes contribuições prestadas à ciência e à tecnologia".

Richard Doll e Cesar Victora
O médico inglês Richard Doll e o epidemiologista Cesar Victora durante 4º Congresso Brasileiro de Epidemiologia. - Ana Maria Baptista Menezes

Victora, que é professor emérito da Universidade Federal de Pelotas e recebeu o prêmio internacional de epidemiologia Sir Richard Doll 2021, já tinha sido nomeado como comendador da Ordem em 2008 — o grau de grão-cruz é mais importante.

A nova honraria para o cientista fez parte de um decreto do governo federal feito na quarta. No mesmo documento, o presidente brasileiro admitiu outras personalidades do governo para a Ordem, como o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Na carta divulgada, o professor afirma que "como cientista e epidemiologista, tenho tornado pública, através de palestras e artigos científicos, minha completa oposição à forma como a pandemia de COVID‐19 tem sido enfrentada por esse governo."

Victora também critica "o negacionismo em geral, as perseguições a colegas cientistas e em especial os recentes cortes nos orçamentos federais para a ciência" que, segundo ele, resultaram em um retrocesso para o conhecimento científico brasileiro.

O epidemiologista ainda aponta o fato de que dois cientistas que tinham recebido a honraria no decreto original —Marcus Vinícius Lacerda e Adele Schwartz Benzaken— tiveram suas nomeações revogadas em um novo texto assinado por Bolsonaro nesta sexta-feira (5).

"Tal atitude [de retificar a nomeação de Lacerda e Benzaken] somente reforça minha decisão de não aceitar a distinção a mim oferecida.", afirma.

Segundo o professor, ambos os cientistas tinham posições críticas à atual gestão. Lacerda foi um dos cientistas a desenvolver estudos clínicos que demonstraram a não eficácia da cloroquina contra a Covid-19 —Bolsonaro é um defensor do uso do medicamento no combate à doença, apesar de não existirem provas científicas de sua eficácia.

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