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Confiança de brasileiros em cientistas cresceu na pandemia, indica estudo

Pesquisa de opinião aponta maior crédito à ciência, mas ainda há desconhecimento de brasileiros sobre a área

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São Paulo

Durante a pandemia de Covid, a confiança dos brasileiros em cientistas cresceu. É o que apontam resultados de uma pesquisa de opinião feita pelo Centro de Estudos SoU_Ciência em parceria com o Instituto Ideia Big Data.

Entre as 1.252 pessoas entrevistadas, 28,3% afirmam que, para assuntos importantes, a fonte de informação em que mais confiam são cientistas de universidades ou institutos públicos de pesquisa. Esses profissionais lideram a pesquisa nesse quesito. Em segundo lugar, aparecem os médicos, com 13,9% das respostas.

Em 2019, para a mesma pergunta, 11,8% tinham cientistas como primeira opção. Em 2015, pior ano da série para os pesquisadores, somente 7,8% citavam pessoas da ciência como fontes de informação mais confiáveis.

Cientista com roupa de proteção olha para baixo
Cientista em linha de produção da vacina da Astrazeneca/Oxford, na Bélgica - 10.fev.2021 - Yves Herman/Reuters

Em anos anteriores, religiosos, médicos e jornalistas estavam à frente dos cientistas como fontes de informação mais confiáveis.

A margem de erro da pesquisa é de 2,85 pontos percentuais para mais ou para menos. Foram realizadas entrevistas telefônicas de 25 a 27 de janeiro deste ano com pessoas com 16 anos ou mais de todo o país.

"Para te dizer a verdade, o resultado para nós foi surpreendente", afirma Soraya Soubhi Smaili, pesquisadora da escola paulista de medicina da Unifesp e coordenadora do SoU_Ciência. "Valorizou muito a profissão do cientista. Antes você falava de cientista e as pessoas não sabiam o que era. ‘Cientista, o que é isso?’"

O estudo atual usou uma fração das dezenas de perguntas de uma outra pesquisa de opinião, feita desde 2006 pelo CGEE (Centro de Gestão de Estudos Estratégicos), organização supervisionada pelo MCTI (Ministério da Ciência e Tecnologia), com colaboração da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e do INCT-CPCT (Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia).

Os pesquisadores do SoU_Ciência, que têm um blog na Folha, aproveitaram essas questões para dar continuidade à série histórica da pesquisa do CGEE, que não é feita desde 2019 (além da edição de 2019, houve outras três, em 2006, 2010 e 2015).

A importância de fazer a pesquisa neste momento, diz Pedro Arantes, professor da Unifesp e um dos coordenadores do SoU_Ciência, é captar o impacto que a pandemia teve na percepção da ciência e tecnologia no Brasil.

"A ciência se tornou sujeito político no Brasil. Isso em contraponto a um governo negacionista. A sociedade brasileira está percebendo a ciência, não apenas pela ciência, mas em uma dimensão pública e política —não partidária", afirma Arantes. "A ciência ocupou um espaço público importante, ajudou a organizar o debate no Brasil, a reagir à desinformação, às tentativas de limitar e postergar a vacinação", avalia Arantes.

Apesar de o levantamento mostrar uma maior confiança das pessoas em cientistas, o conhecimento sobre o tema permanece distante da maioria da população, apontam também os dados.

Quase 58% dos entrevistados disseram não se lembrar de qualquer instituição de pesquisa no país e cerca de 74% não sabem nomes de cientistas brasileiros importantes.

Entre os lembrados estão Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Átila Iamarino e Natalia Pasternak —pouco mais de 3% dos entrevistados que mencionaram algum nome citaram o alemão Albert Einstein.

Apesar disso, os representantes do SoU_Ciência apontam que os números melhoraram em relação às pesquisas passadas do CGEE.

Na pesquisa de 2019, por exemplo, mais de 90% dos entrevistados não se lembravam do nome de algum cientista brasileiro e cerca de 90% não conseguiam indicar uma instituição científica do país.

No estudo do SoU_Ciência, o Instituto Butantan e a Fiocruz foram os mais lembrados, respectivamente por 40,1% e 22,5% dos que conseguiram citar instituições. Está aí mais uma possível ligação com a Covid, afinal, essas foram as instituições que, no Brasil, lideraram durante boa parte da pandemia a produção e distribuição de vacinas contra a doença, ganhando assim constante espaço e citações na imprensa.

A Coronavac, do Butantan, foi a primeira vacina aplicada amplamente no país e guiou os primeiros meses da campanha de imunização. A Astrazeneca/Oxford, da Fiocruz, posteriormente assumiu a liderança das aplicações.

O nome dessas instituições e de pesquisadores que fazem parte dela chegaram longe, a ponto de integrar parte do imaginário pop. Arantes lembra, por exemplo, do remix da música "Bum Bum Tam Tam", de MC Fioti, falando sobre a Coronavac e o Butantan —com direito a clipe nas dependências da instituição.

Mas ainda há um longo caminho para melhorar a compreensão pública da ciência, ressaltam os pesquisadores.

"Tivemos uma popularização e agora temos que partir para uma conscientização", afirma Smaili. "Não basta expor o cientista e falar da ciência. Nós temos que concatenar tudo isso com uma política pública que aumente a percepção da população sobre a ciência, com programas de ciência nas escolas, no trabalho, para você torná-la acessível. A ciência é um direito do cidadão."

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