Conheça a mulher responsável pela câmera do telescópio James Webb

Marcia Rieke defende a diversidade na ciência porque 'pessoas diferentes chegam a conclusões por caminhos diferentes'

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Mark A. Stein
The New York Times

Marcia Rieke, 70, é a líder do grupo de pesquisa da câmera de infravermelho próximo, ou NIRCam, do telescópio espacial James Webb, um projeto de US$ 10 bilhões com o objetivo de explorar os quadrantes mais distantes do universo.

Leia abaixo entrevista com Rieke. A reportagem é parte do especial Mulheres e Liderança, do New York Times, que destaca mulheres que fazem contribuições significativas para grandes histórias que estão em curso no planeta hoje.

Marcia Rieke é a líder do grupo de pesquisa responsável pela NIRCam, câmera de infravermelho próximo do telescópio James Webb
Marcia Rieke é a líder do grupo de pesquisa responsável pela NIRCam, câmera de infravermelho próximo do telescópio James Webb - NYT

Como pesquisadora líder, você foi responsável por projetar e construir a NIRCam, e agora seu trabalho é garantir que ela funcione, a 1,5 milhão de quilômetros da Terra. Isso não causa muita ansiedade? Ser responsável por um instrumento como a NIRCam é como andar repetidamente em uma montanha-russa. Há o ponto alto, em que você sente a alegria de ver as coisas funcionando como esperava. Há o ponto baixo, especialmente nos estágios iniciais, quando alguma coisa enguiça e o projeto precisa ser modificado.

E há a espera pelo próximo passeio, por exemplo, antes do lançamento. É claro que os pontos mais altos serão os momentos em que dados fantásticos forem obtidos, grandes estudos forem escritos sobre as descobertas, e o pessoal mais jovem da equipe conseguir empregos ótimos.

Como você se sentiu quando o satélite foi lançado em segurança? E como foi ser informada de que os espelhos, os escudos de proteção contra o calor e outros componentes estavam posicionados firmemente, sem qualquer problema? Assistir a um lançamento de foguete na manhã do Natal foi uma experiência completamente nova. Ser informada de que o lançamento havia sido perfeito em termos de velocidade e consumo de combustível foi a cereja no bolo.

E saber que todos os componentes tinham sido posicionados sem nenhuma dificuldade, depois de tanta gente duvidar de que isso poderia ser feito, justificou minha fé e minha confiança na fabulosa equipe do Webb.

A NIRCam tem o potencial de capturar luz emitida logo depois do Big Bang, quase 14 bilhões de anos atrás, e que só agora está atingindo nossa galáxia. Você já pôde ver algumas imagens, a esta altura. Como se sentiu quando isso aconteceu? Já recebemos as primeiras imagens, e estamos superfelizes. Toda a equipe do Webb está muito satisfeita com o fato de que os primeiros passos na obtenção de imagens e alinhamento do telescópio estão transcorrendo tão bem.

Como vocês superaram os obstáculos de engenharia e operacionais que surgiram para o projeto e a construção da NIRCam? Tive muita ajuda para rascunhar o projeto inicial que apresentamos quando nossa proposta original foi encaminhada. E depois os engenheiros da Lockheed foram muito competentes em desenvolver uma maneira de montar a NIRCam em temperatura ambiente mas mantê-la capaz de satisfazer a todas as severas exigências que ela encontrará no frio extremo.

Quando é que você se fascinou pela astronomia? Quando criança, quando lia livros de astronomia e de ficção científica da biblioteca pública e me encantei com a ideia de visitar outros planetas. No começo do segundo grau, eu trabalhava como babá, e economizei dinheiro para comprar meu primeiro telescópio.

Foi isso que a levou ao MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts)? Quando eu me matriculei no MIT, imaginava que me tornaria astronauta. Por isso comecei por um diploma em engenharia aeronáutica. Mas a engenharia, pelo menos na forma retratada nas aulas de primeiro ano a que eu assistia, não era muito empolgante.

Por isso você mudou de campo e seguiu adiante em seu doutorado, sempre no MIT? Eu na verdade era aluna de física, mas essa é uma das raízes da astronomia.

Isso tudo aconteceu no final da década de 1960. Como era ser mulher em seu campo de trabalho naquele período? Minha turma de admissão foi uma das primeiras em que o MIT fez um grande esforço para elevar o número de mulheres matriculadas. No ano em que comecei, acho que tínhamos 73 mulheres, entre os mil alunos admitidos. Não é um número muito grande, mas era um número muito maior do que aquilo que se via antes.

Os professores e os demais alunos foram acolhedores ou rejeitaram sua presença? Eles ficaram felizes, principalmente porque o instituto estava fazendo um esforço para atrair mais mulheres. Fomos bastante bem aceitas.

A única classe do MIT em que eu era a única mulher foi em um curso de história da civilização ocidental, e eu às vezes me irritava muito com o professor quando ele pedia que eu explicasse as visões de mundo femininas. Sou uma pessoa só; não sou todas as mulheres.

De que maneira as mulheres trazem um conjunto de percepções diferente para a astronomia, em sua opinião? Percebi ao longo dos anos que pessoas diferentes chegam a conclusões por caminhos diferentes, e esse é um bom motivo para que haja diversidade.

Que conselho foi mais útil para sua carreira? O de que uma pessoa precisa fazer alguma coisa que ame. Encontre sua paixão e saia em busca disso.

Alguma coisa mais? No campo da ciência, neste momento, se você solicita tempo em um telescópio ou escreve uma proposta para solicitar verbas, a concorrência é realmente severa. Tento encorajar o pessoal mais jovem a não desistir. Digo que continuem tentando e chegarão lá.

Que conselho você daria às jovens mulheres de hoje que desejem seguir uma carreira como a sua? Quase todas as instituições de pesquisa que conferem doutorados têm programas para encorajar as mulheres em Stem [sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática]; se você estiver nervosa ou hesitante, procure lugares onde possa obter conselhos ou apoio.

Eu tinha uma personalidade bastante independente, mas sei que existem pessoas que não confiam tanto assim em suas capacidades. Se você não está se sentindo confiante, procure outras mulheres e converse com elas. Isso fará com que se sinta melhor e a ajudará a seguir em frente.

Tradução de Paulo Migliacci

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