Descrição de chapéu dinossauro

Descoberta na Argentina ajuda a entender bracinhos curtos de dinossauros carnívoros

Pesquisadores levantaram novas hipóteses com base em fósseis de nova espécie

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São Carlos (SP)

Com 11 metros de comprimento e mais de quatro toneladas, uma nova espécie de dinossauro carnívoro descoberta na Argentina parece talhada para ocupar papel de destaque nos pesadelos da humanidade, ganhando até o nome de um dos mais temíveis dragões da série "Game of Thrones". Só uma coisa destoa nesse cenário: as patas dianteiras minúsculas do bicho.

À primeira vista, a desproporção nos membros parece mesmo ridícula, mas a análise da espécie batizada como Meraxes gigas traz informações importantes para entender como o animal e tantos outros grandes predadores da Era dos Dinossauros acabaram desenvolvendo bracinhos desse tipo ao longo de milhões de anos.

Ilustração de nova espécie de dinossauro carnívoro gigante
Ilustração de nova espécie de dinossauro carnívoro gigante chamada Meraxes gigas descoberta na Argentina - Carlos Papolio/University of Minnesota/AFP

É o que argumentam os paleontólogos que descobriram e analisaram os fósseis, em artigo que acaba de sair na revista especializada Current Biology. A equipe de cientistas é coordenada por Juan Canale, da Universidade Nacional de Rio Negro, e conta com a participação de outros paleontólogos da Argentina e dos EUA.

Para sorte dos pesquisadores, o M. gigas é o animal com a preservação mais completa das patas dianteiras entre os membros do seu grupo, o dos carcarodontossaurídeos, que inclui uma série de outros predadores sul-americanos de grande porte, presentes inclusive no Brasil.

Os fósseis, que incluem ainda um crânio quase completo (sem mandíbula), ossos do peito e da pelve e vértebras do pescoço, do dorso e da cauda, foram encontrados na região de Neuquén, no norte da Patagônia, e têm cerca de 90 milhões de anos de idade. Já se sabia que os braços curtos eram marca registrada do grupo, mas é a primeira vez que dados tão completos sobre os membros podem ser obtidos a partir do registro fóssil.

A primeira coisa que fica clara com base nessas informações novas é que os bracinhos não eram uma simples "sobra" anatômica, algo que o bicho aparentemente não usava mais. "Estou convencido de que eles desempenhavam algum tipo de função", disse Canale em comunicado oficial. "O esqueleto mostra que eles tinham grandes inserções musculares e cintura escapular [a região das clavículas] plenamente desenvolvida. Ou seja, os braços tinham músculos fortes."

Se esse era o caso, o que explicaria o tamanho diminuto? A principal hipótese dos especialistas tem a ver com a maneira como a estrutura anatômica dos animais se desenvolvia. Acontece que o fenômeno do minibraço é algo que aparece repetidas vezes, de forma independente, em várias outras linhagens de dinossauros carnívoros que alcançaram tamanhos em torno dos 10 m de comprimento ou mais e privilegiaram o desenvolvimento de cabeças enormes, com mandíbulas possantes.

O caso mais famoso, também ridicularizado por causa de seus bracinhos, é o do célebre Tyrannosaurusrex, na verdade um parente muito distante do Meraxes gigas —os bichos alcançaram seu padrão anatômico de forma paralela, já que o T. rex viveu 20 milhões de anos mais tarde. Outro dado importante: os braços pequenos parecem ter mantido uma proporção bastante semelhante em todos os grupos de grandes dinossauros carnívoros, em geral com cerca de 50% do tamanho do fêmur dos bichos.

Isso levou os autores do novo estudo a propor que deve ter existido uma espécie de acoplamento no desenvolvimento dos músculos e do esqueleto dos bichos, provavelmente de origem genética, no qual a formação das enormes cabeças e mandíbulas estava correlacionada com uma diminuição proporcional das patas da frente. Parece estranho, mas coisas parecidas acontecem em outros grupos de animais.

Mesmo se a ideia for confirmada, ainda permanece o mistério sobre a utilidade dos bracinhos depois desse processo evolutivo. Canale tem algumas ideias. "Eles podem ter usado os braços nos comportamentos reprodutivos, segurando a fêmea na cópula, ou para se apoiar após uma queda", diz ele.

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