Menores que lobos, cães siberianos dependiam dos humanos para comer

Descoberta ajuda a explicar o crescimento inicial da população canina

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Issam Ahmed
Washington | AFP

​Há 7.400 anos, os cães siberianos eram muito menores que os lobos, o que os tornava mais dependentes dos humanos para se alimentar, inclusive de espécies marinhas, destaca uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira (22).

Robert Losey, professor da Universidade de Alberta e diretor do estudo publicado na Science Advances, disse que as descobertas ajudaram a explicar o crescimento inicial da população canina, à qual os humanos recorreram para tarefas de casa, pastoreio e transporte em trenó.

Pesquisas anteriores haviam se concentrado apenas em duas ideias principais para explicar como os cachorros deixaram de ser lobos, um processo que começou há cerca de 40 mil anos.

Menino russo comanda trenó puxado por cães siberianos em Moscou, na Rússia
Menino russo comanda trenó puxado por cães siberianos em Moscou, na Rússia - Alexander Natruskin/Reuters

A primeira dessas premissas é que os lobos mais amigáveis se aproximaram dos acampamentos humanos durante a era do Gelo para buscar carne, isolaram-se de suas contrapartes selvagens e, então, foram criados intencionalmente como cães.

A segunda é que alguns cães desenvolveram uma melhor capacidade de digerir amido depois da revolução agrícola, razão pela qual algumas raças modernas têm mais cópias do gene AMY2B, que cria a amilase pancreática.

Para estudar as dietas dos cães da antiguidade com maior profundidade, Losey e seus colegas analisaram os restos de cerca de 200 desses animais e de 200 lobos que viveram nos últimos 11 mil anos.

"Tivemos que recorrer a coleções por toda a Sibéria, analisamos ossos, pegamos amostras de colágeno e estudamos a proteína nos laboratórios", afirmou.

Com base nos restos mortais, a equipe fez estimativas estatísticas do tamanho do corpo dos animais. Também usaram uma técnica chamada análise de isótopos estáveis para estimar as dietas.

Os cientistas descobriram que os cachorros de 7.000 a 8.000 anos atrás "já eram bem pequenos, o que significa que simplesmente não podiam fazer as mesmas coisas que a maioria dos lobos", explicou Losey.

Isso os conduziu a uma maior dependência dos humanos para sua alimentação e a caçar presas pequenas, em vez das caçadas maiores realizadas pelos lobos.

Os cães daquela época comiam "peixes, mariscos, focas e leões marinhos, que não podem obter facilmente sozinhos", disse. Ingeriam peixes "em áreas da Sibéria onde os lagos e rios ficavam congelados por sete a oito meses ao ano", acrescentou.

Enquanto os lobos daqueles tempos, assim como os atuais, caçavam em alcateia e comiam principalmente espécies de cervos.

Vantagens e desafios

As novas dietas proporcionaram aos cães tanto benefícios quanto desafios. "Vantagens porque podiam acessar a comida dos humanos, a princípio fácil, mas ao custo de novas doenças e problemas", observou Losey.

Ainda que as novas bactérias e parasitas aos quais foram expostos possam ter ajudado alguns deles a se adaptar, é possível que populações inteiras de cachorros não tenham sobrevivido.

A maioria dos primeiros cães das Américas foi extinta, por razões pouco claras, e eles foram substituídos por cães europeus, embora a colonização não seja apontada como responsável por esse processo.

Os cachorros que sobreviveram adquiriram microbiomas intestinais mais diversos, o que os ajudou a digerir mais carboidratos associados à vida com humanos.

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