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Nos 469 anos de São Paulo, conheça 9 cientistas que fazem parte da história da cidade

Pesquisadores fundaram institutos, criaram cátedras e revolucionaram área de estudos no país

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São Paulo

A cidade de São Paulo completa 469 anos nesta quarta (25) e continua sendo berço científico no país. Estão aqui alguns dos principais institutos de pesquisa brasileiros, como o Butantan, o Adolfo Lutz e, claro, a maior universidade da América Latina, a USP.

Com a expansão da cidade a partir de 1900 e a criação das universidades e institutos de pesquisas, muitos cientistas fizeram (alguns ainda fazem) história em São Paulo, contribuindo para o avanço acadêmico nacional.

Entre eles estão Adolfo Lutz, Victoria Rossetti, Ruth Sonntag Nussenzweig e Mayana Zatz.

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Estátua do infectologista Vital Brazil no Parque da Ciência do Instituto Butantan, na zona oeste de São Paulo - Comunicação Butantan/Divulgação

Adolfo Lutz (1855–1940)
Considerado o pai da medicina tropical no Brasil, ele nasceu no Rio de Janeiro e cursou medicina na Universidade de Berna, na Su íça. Após se formar, em 1881, iniciou a atuação médica em uma clínica no Rio de Janeiro. Viajou em seguida para a Alemanha, para estudar hanseníase, e para o Havaí, onde havia um importante hospital da mesma condição. De volta ao Brasil, em 1892 foi convidado pelo então governador de São Paulo, José Alves de Cerqueira Cezar, para dirigir o Instituto de Bacteriologia, que, mais tarde, receberia seu nome. Durante a epidemia de peste bubônica, em Santos, trabalhou com os médicos Emílio Ribas e Vital Brazil. Com o último, ajudou a criar outro importante instituto paulista, o Butantan. Foi o primeiro cientista na América Latina a isolar o parasita causador da febre amarela do mosquito Aedes aegyptius, além de ter conduzido importantes pesquisas nas doenças tropicais como cólera, febre tifoide, malária, esquistossomose e leishmaniose. Em 1908, deixou o instituto e mudou-se para a Fundação Oswaldo Cruz, no Rio, onde permanece até sua morte.

Vital Brazil (1865–1950)
Nasceu na cidade de Campanha, em Minas Gerais, e estudou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Depois de se formar em 1891, mudou-se para São Paulo. Sanitarista, atuou no combate às epidemias de febre amarela e de peste bubônica. Trabalhou no Instituto de Bacteriologia de São Paulo, em 1897, junto com Adolfo Lutz e, em 1899, foi trabalhar em um laboratório fundado na Fazenda Butantan, na zona oeste da cidade. Foi o primeiro diretor do Butantan (então Instituto Serumtherápico), de 1901 a 1919. Lá, iniciou a criação de cavalos para produção do soro antiofídico e, posteriormente, de vacinas. Assim como Lutz, mudou-se para o Rio de Janeiro para trabalhar na Fiocruz com Carlos Chagas, outro sanitarista de relevância no país.

Victoria Rossetti (1917–2010)
Filha de imigrantes italianos, nasceu em Santa Cruz das Palmeiras, a cerca de 245 km da capital paulista, onde cresceu na fazenda –o pai e o avô eram agrônomos. Desde cedo, ela tinha interesse em colher material e estudar as pragas que afetavam as plantas em seu sítio. Cursou agronomia na Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), em Piracicaba, sendo assim a primeira mulher em um curso de agronomia no estado de São Paulo e a segunda no Brasil, em 1937. Foi estagiária do Instituto Biológico, em São Paulo, sob orientação de Agesilau Bitancourt. Estudou parasitas de plantas e métodos para isolar os fungos do gênero Phytophthora de cítricos. Foi chefe e depois diretora da divisão de patologia vegetal do instituto, onde realizou diversas pesquisas de relevância agrícola. Recebeu, em 1988, o título de servidora emérita do governo paulista e, em 2004, foi nomeada grã-cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico.

Instituto Biológico, em São Paulo em que a pesquisadora e engenheira-agrônoma Victoria Rossetti trabalhou - Danilo Verpa/Folhapress

Florestan Fernandes (1920–1995)
O sociólogo paulistano é considerado um dos intelectuais mais influentes brasileiros do século 20. De origem humilde, era engraxate e depois garçom. Cursou sociologia na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras) da USP e fez mestrado e doutorado no mesmo instituto. Além das pesquisas acadêmicas, defendia a escola pública, laica e gratuita como um direito constitucional aos cidadãos brasileiros. Ajudou a fundar o PT e foi eleito deputado em 1986 pelo partido. Foi reeleito em 1990. Seu legado científico inclui a transformação do pensamento sociológico do país e uma nova metodologia empregada em pesquisas na área, aliando rigor analítico e crítico aos estudos. Morreu em 1995 após complicações decorrentes de um transplante de fígado.

Paulo Vanzolini (1924–2013)
Médico, herpetólogo e sambista, ele nasceu em São Paulo, filho de italianos. Cursou a Faculdade de Medicina da USP e obteve o título de doutor em zoologia pela Universidade Harvard. De volta ao Brasil, trabalhou e foi diretor do Museu de Zoologia da USP, em São Paulo. Foi um dos idealizadores da Fapesp, órgão de fomento à pesquisa no estado de São Paulo. Na área da zoologia, dedicou-se aos estudos de anfíbios e répteis, descrevendo dezenas de espécies novas, muitas delas de lagartos. Foi autor da importante teoria de refúgio de ilhas sobre a formação da biodiversidade amazônica. Também compôs obras que fazem parte do patrimônio cultural paulistano, como "Ronda" e "Volta por Cima". Recebeu o Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico. Morreu em 2013 por complicações causadas por pneumonia.

Ruth Sonntag Nussenzweig (1928–2018)
Nascida em Viena (Áustria), ela veio ao Brasil com a família após a Alemanha nazista ocupar o país de origem dela. Ingressou em 1948 no curso de medicina na USP, onde conheceu Victor Nussenzweig, seu futuro marido, e o médico sanitarista Samuel Pessoa. Juntos, começaram a realizar pesquisas sobre doenças parasitárias, mais especificamente doença de Chagas e os mecanismos de transmissão por transfusão de sangue. Contratada como professora assistente de parasitologia na USP, realizou dois anos de pesquisa de pós-doutorado no Collège de France, de 1958 a 1960, e voltou ao Brasil, onde trabalhou na Escola Paulista de Medicina. Devido à situação no país com a ditadura militar, Ruth e seu marido foram para o exterior, onde iniciaram carreira na Universidade de Nova York e lá permaneceram como dois dos principais expoentes da medicina tropical do Brasil.

Ubiratan D’Ambrosio (1932–2021)
Figura pouco conhecida do público geral, foi um importante divulgador científico no país e da educação de matemática. Nascido em São Paulo, cursou matemática na USP e fez doutorado na mesma instituição. Em seguida, fez o pós-doutorado na Universidade Brown, nos Estados Unidos, e ingressou como professor associado na Unicamp, em 1972. Foi diretor do Instituto de Matemática, Estatística e Ciência da Computação (Imecc) da mesma universidade até 1980, período no qual fundou o laboratório interdisciplinar para melhoria do ensino e currículo (Limec), contribuindo para a redução da reprovação nos cursos de matemática da instituição. Atuou com a Unesco para formação de doutores em matemática no Mali (África) e, posteriormente, criou um programa semelhante nos países latinos e caribenhos. Lecionou em diversas instituições de ensino paulistanas, incluindo a USP, a PUC e a Universidade Bandeirante de Educação.

Angelita Gama (1933–)
A cirurgiã foi recentemente reconhecida como uma das cientistas mais influentes do mundo pela Universidade Stanford (EUA). Nascida na Ilha de Marajó, no Pará, ela cursou medicina na USP, onde foi a primeira mulher residente de cirurgia no Hospital das Clínicas. Especializou-se em cirurgia digestiva, tendo atuado no departamento de cirurgia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Foi professora titular no departamento de gastroenterologia da USP e publicou mais de 300 artigos científicos, recebendo ainda mais de 50 prêmios. Em 2020, sobreviveu a uma internação de mais de 50 dias em decorrência da Covid-19.

Mayana Zatz (1947–)
Grande nome da ciência brasileira, a biomédica e geneticista nasceu em 1947, em Tel Aviv, em Israel, e mudou-se para o Brasil em 1955. Cursou biologia na USP, onde obteve também mestrado e doutorado na área de genética. Passou dois anos na Universidade da Califórnia em Los Angeles para realizar pesquisa de pós-doutorado. De volta ao Brasil, ajudou a criar associações de importância para a pesquisa de genes relacionados à distrofia de Duchenne. No final dos anos 90, catapultou a posição brasileira nos estudos de genoma humano, tornando o país o segundo maior repositório de sequências no GeneBank, principal repositório mundial de DNA. À frente do Centro de Estudos do Genoma Humano desde 2000, Zatz foi a primeira a demonstrar a relação causal entre a infecção pelo vírus zika e a microcefalia de bebês no país, em 2016. Recebeu a grã-cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 2000, e o prêmio L’Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência, em 2001.

Mayana Zatz recebeu a grã-cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico em 2000 - Zé Carlos Barretta - 6.set.18/Folhapress
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