Descoberta de asteroide sugere que ingredientes para a vida na Terra vieram do espaço

Cientistas disseram ter detectado os compostos orgânicos uracil e niacina em rochas

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Will Dunham
Reuters

Dois compostos orgânicos essenciais para organismos vivos foram encontrados em amostras recuperadas do asteroide Ryugu, reforçando a hipótese de que alguns ingredientes cruciais para o advento da vida chegaram à Terra a bordo de rochas vindas do espaço bilhões de anos atrás.

Cientistas disseram nesta terça-feira (21) que detectaram uracil e niacina em rochas obtidas pela espaçonave Hayabusa2, da Agência Espacial Japonesa, de dois locais em Ryugu em 2019. Uracil é um dos blocos químicos de construção do RNA, uma molécula que carrega instruções para construir e operar organismos vivos. A niacina, também chamada de vitamina B3, ou ácido nicotínico, é vital para o seu metabolismo.

 asteoride Ryugu
Cientistas analisaram amostras do asteoride Ryugu - Jaxa/Jiji Press/AFP

As amostras do Ryugu, que pareciam pedregulhos cinza-escuros, foram transportadas por 250 milhões de quilômetros de volta à Terra, e retornaram à superfície do nosso planeta em uma cápsula selada que pousou em 2020 no remoto outback da Austrália para análise no Japão.

Os cientistas há muito ponderam sobre as condições necessárias para o surgimento da vida depois que a Terra se formou, há cerca de 4,5 bilhões de anos. As novas descobertas se encaixam bem com a hipótese de que corpos como cometas, asteroides e meteoritos que bombardearam a Terra primitiva semearam o jovem planeta com compostos que ajudaram a abrir caminho para os primeiros micróbios.

Os cientistas detectaram anteriormente moléculas orgânicas importantes em meteoritos ricos em carbono encontrados na Terra. Mas havia também a questão de saber se essas rochas espaciais haviam ou não sido contaminadas pela exposição ao ambiente da Terra após o pouso.

Amostras de rochas coletadas no asteroide Ryugu pela sonda japonesa Hayabusa2, em 2019
Amostras de rochas coletadas no asteroide Ryugu pela sonda japonesa Hayabusa2, em 2019 - Jaxa via Reuters

"Nossa principal descoberta é que o uracil e a niacina, ambos de importância biológica, estão realmente presentes em ambientes extraterrestres e podem ter sido fornecidos à Terra primitiva como um componente de asteroides e meteoritos. Suspeitamos que eles tenham um papel na evolução prebiótica na Terra e possivelmente no surgimento das primeiras formas de vida", disse o astroquímico Yasuhiro Oba, da Universidade de Hokkaido, no Japão, principal autor da pesquisa publicada na revista Nature Communications.

"Essas moléculas em Ryugu foram recuperadas em um ambiente extraterrestre intocado", disse Oba. "Foi amostrado diretamente no asteroide Ryugu e devolvido à Terra e, finalmente, a laboratórios sem nenhum contato com contaminantes terrestres."

O RNA, abreviação de ácido ribonucleico, não seria possível sem o uracil. A molécula, presente em todas as células vivas, é vital na codificação, regulação e atividade dos genes. O RNA tem semelhanças estruturais com o DNA, uma molécula que carrega o projeto genético de um organismo.

A niacina é importante na sustentação do metabolismo e pode ajudar a produzir a "energia" que alimenta os organismos vivos.

Os pesquisadores extraíram uracil, niacina e alguns outros compostos orgânicos nas amostras de Ryugu, embebendo o material em água quente e realizando análises de cromatografia líquida e espectrometria de massa de alta resolução.

O astroquímico orgânico e coautor do estudo, Yoshinori Takano, da Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia Marinha-Terra (Jamstec), disse que agora está ansioso pelos resultados das análises de amostras que retornarão à Terra em setembro, de outro asteroide. A agência espacial dos EUA, a Nasa, durante sua missão Osiris-Rex, coletou amostras em 2020 do asteroide Bennu.

Oba disse que uracil e niacina foram encontrados em ambos os locais de pouso em Ryugu, que tem cerca de 900 metros de diâmetro e é classificado como um asteroide próximo à Terra. As concentrações dos compostos foram maiores em um dos locais do que no outro.

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