Escudo térmico de missão lunar sofreu desgaste inesperado, diz Nasa

Apesar do efeito, agência se sente segura para lançar humanos à Lua no ano que vem

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São Paulo

O escudo térmico que protegeu a cápsula Orion na missão Artemis 1 durante sua furiosa reentrada na atmosfera terrestre, em 11 de dezembro último, sofreu desgaste excessivo e inesperado, informou nesta terça-feira (7) a Nasa.

Contudo, os gerentes do programa não esperam que isso vá atrasar o próximo voo —e o primeiro tripulado com destino à Lua em mais de cinco décadas. A agência espacial americana se diz na trilha para cumprir a meta de lançar a Artemis 2 ainda em novembro do ano que vem.

O escudo térmico é basicamente o que protege uma espaçonave de queimar como uma estrela cadente na atmosfera, ao cruzá-la a velocidades extraordinárias (num retorno à Lua, como foi o caso da Artemis 1, cerca de 40 mil km/h). A temperatura no exterior do escudo pode chegar a algo como 2.500°C.

Cápsula com balões vermelhos boia no oceano, enquanto embarcação navega atrás com algumas pessoas
Cápsula Orion da Nasa em pouso no oceano Pacífico, próximo ao México, em dezembro de 2022 - Mario Tama - 11.dez.2022/Pool/AFP

A cápsula Orion foi resgatada com sucesso no oceano Atlântico, após uma viagem sem tripulação de 25,5 dias ao redor da Lua e de volta à Terra, encerrada em 11 de dezembro do ano passado. O veículo voltou inteiro, bem como os manequins recheados de sensores instalados em seu interior, demonstrando o sucesso do projeto e pavimentando o caminho para um voo tripulado.

Porém, após o recolhimento da cápsula e a análise do escudo térmico, os engenheiros notaram um desgaste inesperado. "O escudo térmico apresentou mais variações do que o esperado, com mais liberação de material do que esperávamos", explicou Howard Hu, gerente do programa Orion, durante coletiva de atualização pós-voo do programa Artemis.

A exemplo dos escudos das antigas cápsulas Apollo, que levaram humanos à Lua no século passado, o da Orion é feito de um material chamado Avcoat, que tem propriedade ablativa: é basicamente uma resina plástica cuja função é ser carbonizada (convertida em gás) pelo calor da reentrada e assim dissipá-lo.

Os novos escudos também têm a mesma forma dos antigos, mas são um pouco maiores (para dar conta da Orion, que tem diâmetro maior que a antiga Apollo) e fabricados de maneira diferente: em vez de uma peça inteiriça, são compostos por 186 blocos encaixados lado a lado.

As juntas entre eles, um potencial ponto crítico, funcionaram exatamente como esperado. Entretanto, parte do material ablativo, em vez de ser totalmente carbonizado, acabou esfarelando e se soltando em alguns dos blocos, contrariando o que se esperava dos modelos.

O comportamento anômalo, no momento, preocupa mais pela incompreensão do que está acontecendo do que por oferecer algum risco adicional. "Temos margem significativa no escudo térmico, e não acho que fomos além de quaisquer limites", disse Hu, enfatizando que a questão será investigada detalhadamente.

"Vamos passar por cada bloco, fazer medições, pegar dados das imagens da reentrada, correlacionar com os sensores do escudo térmico, olhar para os nossos modelos de computador e entender o fenômeno. Há muito trabalho a ser feito, acabamos de reunir tudo, e agora vamos avançar com essa avaliação."

As boas notícias

Nem tudo foi susto. Aliás, é natural se concentrar no que preocupa mais, mas os gerentes do programa não se cansam de enfatizar o sucesso da missão Artemis 1, que cumpriu todos os objetivos iniciais do voo-teste e outros inseridos em meio à jornada, em razão do bom desempenho da espaçonave. "Pudemos cumprir 21 novos objetivos, a performance foi melhor do que o esperado e pudemos empurrar o envelope", diz Hu.

Um sinal importante de avanço foi que a equipe responsável pela Orion já conseguiu, antecipando cronograma, retirar toda a aviônica (o sistema eletrônico) da cápsula e instalá-la na próxima a voar, desta vez com tripulação, na missão Artemis 2.

Essa reciclagem prevista no programa poderia ser um dos nós capazes de atrasar o próximo voo, no momento programado para o final de novembro de 2024. Perguntado se havia possibilidade de adiantamento no cronograma, Jim Free, vice-administrador da Nasa responsável pelo desenvolvimento dos sistemas de exploração tripulada (tudo que está sendo projetado para levar humanos além da órbita terrestre), disse que não há perspectiva de antecipar a missão, "mas isso ajuda a construir margem para nosso cronograma".

As preparações para a Artemis 2 seguem em andamento. De acordo com Hu, o módulo de serviço europeu da Orion (fornecido pela Agência Espacial Europeia e fabricado pela Airbus) para o próximo voo deve completar seus testes em meados de maio, e o módulo de comando (responsabilidade da Lockheed Martin, principal contratante da Orion), em meados de junho. Espera-se unir os dois até o final de junho.

Enquanto isso, o próximo foguete SLS, que tem a Boeing como principal contratante, também está em processo de montagem na Instalação de Montagem Michoud, em Nova Orleans. Dois dos quatro motores do estágio central já foram desembalados para instalação.

Na plataforma 39B do Centro Espacial Kennedy, os trabalhos para reparos e atualização dos sistemas de solo para o lançamento também avançam. Os dois elevadores foram danificados durante a decolagem da Artemis 1. Um deles já está operacional, e o segundo está em fase de conserto. As equipes consideram instalar proteções adicionais para evitar estragos similares nos próximos lançamentos.

A tripulação, item mais importante da missão Artemis 2, ainda não está escalada. Mas certamente há enorme apreensão entre os astronautas, para saber quem serão os primeiros humanos a dar uma volta ao redor da Lua no século 21, o que —por enquanto— está marcado para acontecer até o fim do ano que vem.

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