Descrição de chapéu The New York Times dinossauro

Pescoço de dinossauro pode ser o mais longo já observado em qualquer animal

Espécie de saurópode viveu nas planícies pantanosas onde hoje fica a China, há 162 milhões de anos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

The New York Times

Poucas criaturas levaram a anatomia a seus limites tanto quanto os saurópodes. Esses dinossauros gigantes se movimentavam sobre patas que pareciam colunas e que suportavam seu corpo maciço, abanando caudas que pareciam chicotes para afastar predadores e usando seus pescoços compridos para devorar folhagens.

Esse grupo inteiro de dinossauros é conhecido comumente como os dinossauros de pescoço longo, mas o Mamenchisaurus, que viveu na atual China no final do período Jurássico, teria provocado a inveja de outros saurópodes. Num estudo publicado na quarta-feira (15) no Journal of Systematic Paleontology, pesquisadores estimaram que o pescoço do Mamenchinsaurus podia chegar a quase 15 metros de comprimento. Mais comprido que um ônibus escolar comum, é o pescoço mais longo estimado de qualquer espécie de saurópode. Pode ser o pescoço mais longo já observado em qualquer animal.

Impressão artística do dinossauro Mamenchisaurus sinocanadorum, com pescoço de 15 metros, que viveu há 150 milhões de anos na região que hoje é a China
Impressão artística do Mamenchisaurus sinocanadorum, que viveu há mais de 150 milhões de anos na região que hoje é a China - Júlia d'Oliveira via NYT

Em 1987, paleontólogos descobriram o esqueleto parcial de um saurópode no arenito vermelho da Formação Shishogou, no noroeste da China, uma área rica em dinossauros. Os restos eram fragmentários, consistindo principalmente de uma mandíbula inferior, pedaços de crânio e duas vértebras, mas eram indícios de um animal enorme que percorreu planícies pantanosas 162 milhões de anos atrás, ao lado de tiranossauros primitivos.

Pesquisadores chamaram o dinossauro de Mamenchisaurus sinocanadorum e o ligaram a vários outros saurópodes de pescoço longo do leste asiático. Mas o verdadeiro tamanho do Mamenchisaurus ainda é desconhecido. Não foram escavados outros restos fossilizados do saurópode, e os cientistas só têm aquelas duas vértebras para examinar.

Andrew Moore, paleontólogo da Universidade Stony Brook e estudioso da anatomia dos saurópodes, disse que foi esse o caso de muitos dos maiores dinossauros. "O que é especialmente intrigante e frustrante é que em muitos casos os pescoços mais longos pertencem às coisas menos conhecidas no registro fóssil, pela simples razão de que é realmente difícil enterrar algo tão grande", disse Moore, que dirigiu o novo estudo.

Por isso ele recorreu a fósseis de vários parentes próximos do Mamenchisurus, especialmente o Xinjiangtitan, saurópode um pouco mais velho descoberto no noroeste da China em 2013. Foi notável que os pesquisadores escavaram a coluna vertebral inteira do Xinjiangtitan. Com 13 metros de comprimento, ele representa o pescoço completo mais longo no registro fóssil.

"Usando esses espécimes mais completos, embora menores, podemos traçar uma estimativa bastante competente de como deve ter sido a aparência do Mamenchisaurus", disse Moore.

Depois de comparar o Mamenchisaurus e o Xinjiangtitan, Moore e sua equipe concluíram que o primeiro tinha um pescoço de quase 15 metros de comprimento. Isso representaria mais ou menos metade do comprimento estimado total de seu corpo. Equivale a pouco mais de oito pescoços de girafa posicionados consecutivamente.

Para determinar como o Mamenchisaurus se movimentava com um pescoço do comprimento de um semirreboque, Moore e seus colegas usaram um aparelho de tomografia computadorizada para analisar as vértebras do animal. Em vez de ser cheias de medula óssea e tecido pesado quando o dinossauro estava vivo, as vértebras do saurópode continham grandes bolsões de ar semelhantes aos que são encontrados em aves modernas como cegonhas e cisnes. Esses bolsões vazios correspondiam a até 77% do volume de cada osso, e isso reduzia tremendamente o peso da espinha do animal.

Cary Woodruff, paleontólogo do Frost Science Museum, em Miami, especializado no estudo de saurópodes, disse que a redução da carga do pescoço era essencial para todos os saurópodes. "Um pescoço tão comprido é um peso grande que o animal precisava posicionar longe de seu corpo", disse Woodruff, não envolvido no novo estudo. "Se você vai segurar um martelo com o braço esticado na horizontal, seu braço vai se cansar em pouco tempo."

Apesar de suas vértebras serem ocas, o pescoço do Mamenchisaurus estava longe de ser frágil. Durante a escavação inicial, paleontólogos descobriram uma haste fossilizada de tecido ósseo com alguns pés de comprimento. Pode ter sido uma extensão rígida das vértebras, frequentemente conhecida como costelas cervicais. Essas extensões teriam percorrido toda a extensão do pescoço, sustentando seus ossos leves, como uma escora. Isso reduzia a flexibilidade do pescoço, mas essas costelas ajudavam a conservar a estabilidade da grande estrutura.

"Apesar de ter muitos ossos, não era uma cobra, que consegue se enrolar sobre ela mesma", disse Woodruff. "Basicamente, era como uma haste."

Com sua coluna vertebral reforçada, o Mamenchisaurus provavelmente conservava seu pescoço horizontal em um ângulo relativamente raso acima do solo. Mas, devido ao comprimento do pescoço, ele ainda conseguia arrancar folhas das copas de muitas árvores. Isso pode ter ajudado o saurópode a ocupar um nicho singular em um ecossistema que provavelmente estava cheio de outros herbívoros gigantes.

De acordo com os pesquisadores, vários grupos de saurópodes parecem ter desenvolvido pescoços extremamente compridos que podem ter rivalizado com as projeções feitas do Mamenchisaurus.

"Não sabemos realmente quais são os limites, porque continuam a ser ampliados à medida que fazemos mais e mais descobertas", disse Moore. "Precisamos sempre supor que existe algo maior lá fora."

Tradução de Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.