Descrição de chapéu genética

Ambicioso mapeamento de genomas de animais mostra como humanos são próximos de outros mamíferos

Projeto comparou 240 espécies e revelou a genética de características incomuns, como a hibernação

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Will Dunham
Washington | Reuters

Cientistas divulgaram nesta quinta-feira (27) os resultados de um projeto que compara os genomas de 240 espécies de mamíferos —de porcos formigueiros a zebus e zebras, até seres humanos— para rastrear mudanças evolutivas ao longo de 100 milhões de anos, identificando traços genéticos amplamente compartilhados e aqueles mais exclusivamente humanos.

As descobertas do ambicioso Projeto Zoonomia identificaram partes do genoma funcionalmente importantes em pessoas e outros mamíferos e mostraram como certas mutações podem causar doenças. O projeto revelou a genética de características incomuns dos mamíferos, como a hibernação, e mostrou como o olfato varia amplamente.

Chimpanzé se cobre com cobertor no zoológico de São Paulo
Estudo sugere que a evolução de traços humanos específicos em relação aos chimpanzés envolveu mudanças na regulação dos genes do sistema nervoso - Nacho Doce - 13.jul.18/Reuters

Os pesquisadores disseram que as descobertas sobre a genética da hibernação podem ajudar a informar terapias humanas, cuidados intensivos e voos espaciais de longa distância. As descobertas da Zoonomia também podem ajudar a identificar mutações genéticas que levam a doenças, com um estudo examinando pacientes com um tipo de câncer cerebral chamado meduloblastoma.

"Estamos aproveitando o fato de que existe uma enorme biodiversidade neste planeta para realmente entender a nós mesmos e fazer novas descobertas relevantes para o tratamento de doenças humanas", disse Elinor Karlsson, diretora do Vertebrate Genomics Group no Broad Institute do MIT e de Harvard e colíder do consórcio internacional de pesquisadores.

"O genoma humano foi sequenciado há mais de 20 anos e, apesar disso, ainda é muito difícil entender quais são os elementos funcionais", acrescentou a também colíder do consórcio Kerstin Lindblad-Toh, professora de genômica comparativa da Universidade de Uppsala, na Suécia.

As descobertas, detalhadas em 11 estudos publicados na revista Science, envolveram placentários, de longe o conjunto mamífero mais comum do mundo, conhecido por dar à luz bebês bem desenvolvidos, e não os monotremados que põem ovos, ou marsupiais com bolsa.

Parece que muito do que nos torna humanos se resume a ajustes na maneira como os genes neurológicos são regulados, em vez de qualquer grande mudança nos próprios genes

Matthew Christmas

geneticista evolutivo da Universidade de Uppsala

O projeto examinou a maioria das linhagens de mamíferos existentes, embora elas sejam apenas 4% das espécies. Eles variam em tamanho desde a baleia franca do Pacífico Norte, de 18 metros de comprimento, até o morcego abelha, com 3 cm. Nossos parentes evolutivos mais próximos —chimpanzés e bonobos— foram incluídos, junto com o gorila da planície ocidental e o orangotango de Sumatra.

Os felinos incluem a chita, o tigre siberiano, a onça, o leopardo e o humilde gato doméstico. Os caninos têm entre eles uma celebridade —Balto, o cão puxador de trenós do Alasca famoso por trazer remédios que salvaram vidas em 1925 para a cidade de Nome. A espécie mais primitiva era o comedor de insetos solenodonte, intimamente relacionado aos mamíferos vivos durante a era dos dinossauros.

Os pesquisadores identificaram elementos genômicos —4.552 no total— que eram praticamente os mesmos em todos os mamíferos e eram idênticos em pelo menos 235 das 240 espécies, incluindo os seres humanos.

"Muitos desses elementos estão localizados perto de genes envolvidos no desenvolvimento do embrião —um processo que precisa ser rigidamente controlado para resultar no desenvolvimento de um animal saudável e funcional", disse o geneticista evolutivo da Universidade de Uppsala, Matthew Christmas, principal autor de um dos estudos.

Em termos de diferenças entre humanos e outros mamíferos, o estudo apontou para regiões associadas a genes de desenvolvimento e neurológicos. Isso sugere que a evolução de traços humanos específicos desde que nossa espécie Homo sapiens divergiu de um ancestral comum com os chimpanzés, talvez entre 6 e 7 milhões de anos atrás, envolveu mudanças na regulação dos genes do sistema nervoso.

"Isso faz sentido, pois algumas das maiores diferenças entre nós e nossos primos macacos estão em nosso 'poder cerebral' e cognição. Parece que muito do que nos torna humanos se resume a ajustes na maneira como os genes neurológicos são regulados, em vez de qualquer grande mudança nos próprios genes", disse Christmas.

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