Cientistas identificam ciclone polar girando no misterioso Urano

Centro da tempestade mede um quarto do diâmetro da Terra e gira perto do polo norte do planeta gasoso

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Will Dunham
Washington | Reuters

É um mundo envolto em mistério. Sétimo planeta a partir do Sol, Urano foi visto de perto apenas uma vez há quase 40 anos por uma sonda da Nasa que passou e ainda guarda seus segredos cuidadosamente.

Mas novas observações de um telescópio localizado no Novo México estão oferecendo uma compreensão mais completa de sua atmosfera, incluindo a detecção de um ciclone polar cujo centro mede um quarto do diâmetro da Terra, girando perto de seu polo norte.

Os cientistas conseguiram observar mais profundamente do que nunca a atmosfera de Urano —planeta classificado como um gigante de gelo, assim como seu vizinho planetário Netuno. As descobertas pintaram a imagem de um planeta mais dinâmico do que se conhecia antes.

Imagens divulgadas pela Nasa, feitas por observações em micro-ondas, mostram o primeiro ciclone polar em Urano
Imagens divulgadas pela Nasa, feitas por observações em micro-ondas, mostram o primeiro ciclone polar em Urano - Nasa/JPL-Caltech/VLA/Handout via Reuters

"Embora a composição geral de sua atmosfera e seu interior seja semelhante à de Netuno —até onde sabemos—, Urano tem algumas características bastante únicas", disse o cientista planetário Alex Akins, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa na Califórnia, principal autor da pesquisa publicada no periódico Geophysical Research Letters.

"Ele gira de lado. E mesmo assim seu campo magnético ainda está desalinhado com o eixo de rotação. A circulação atmosférica e a liberação interna de calor parecem mais fracas que as de Netuno, mas ainda há uma série de características dinâmicas e tempestades que foram observadas", acrescentou Acres.

De cor verde-azulada devido ao metano contido em sua atmosfera composta principalmente de hidrogênio e hélio, Urano é o terceiro maior planeta do nosso sistema solar. Tem um diâmetro aproximado de 50,7 mil km e é grande o suficiente para acomodar 63 Terras dentro dele. Urano orbita o sol a uma distância de cerca de 2,9 bilhões de quilômetros, quase 20 vezes mais distante que a Terra. Uma órbita dele dura 84 anos.

Sua inclinação incomum faz com que Urano pareça orbitar o sol como uma bola rolante.

Os pesquisadores, usando o telescópio Very Large Array no Novo México (sudoeste dos Estados Unidos) para ver abaixo das nuvens no topo da atmosfera, encontraram ar circulante no polo norte que era mais quente e seco, evidência de um forte ciclone. Eles foram capazes de estimar o tamanho do centro da tempestade, mas não o diâmetro de todo o ciclone, embora possa ser potencialmente maior que a Terra.

A pesquisa confirmou que os ciclones polares estão presentes em todos os corpos do nosso sistema solar com uma atmosfera substancial —todos os planetas, exceto Mercúrio, e até a lua de Saturno Titã.

"Os ciclones polares são regiões de ventos fortes que se movem numa direção determinada pela rotação do planeta —no sentido horário em Vênus e Urano e anti-horário nos demais—, com diferentes propriedades do ar entre o interior e o exterior", disse Akins.

"O modo como eles se formam é diferente em cada planeta", acrescentou. "Na Terra, sua força é modulada por estação devido à quantidade de luz solar. Ainda não temos certeza de como eles se formam em Urano. É diferente de outros ciclones no sentido de que geralmente dura mais e provavelmente se forma a partir de um equilíbrio diferente dos processos atmosféricos e, portanto, é uma característica mais típica (duradoura) da atmosfera. É diferente dos furacões, que se formam, se movem e se dissipam em escalas de tempo relativamente curtas."

A maior parte da massa de Urano é um fluido denso de materiais gelados —água, metano e amônia. Urano é cercado por dois conjuntos de anéis tênues e orbitado por 27 pequenas luas. Sua atmosfera é a mais fria de qualquer um dos oito planetas, incluindo o mais externo, Netuno.

Seu único encontro próximo com uma espaçonave ocorreu durante o voo da Voyager 2 em 1986.

"Há muitas incógnitas", disse Akins. "Como ficou inclinado de lado? Seu interior é realmente 'mais gelado' do que os gigantes gasosos (Júpiter e Saturno)? Por que vemos características de faixas atmosféricas que não se alinham com as velocidades do vento medidas? Por que o polo é tão mais seco que o equador? Seus satélites (luas) são mundos oceânicos?"

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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