Descrição de chapéu The New York Times

Como um desentupidor de vaso sanitário melhorou a ressuscitação cardíaca

Caso em 1988 levou médicos a pensarem formas de aperfeiçoar método para reanimar pacientes

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Joanne Silberner
The New York Times

Em 1988, o coração de um homem de 65 anos parou de repente, em sua casa. Sua mulher e seu filho não conheciam RCP (ressuscitação cardiopulmonar), então, em desespero, eles pegaram um desentupidor de vaso sanitário para fazer seu coração bater até que chegasse uma ambulância.

Mais tarde, depois que o homem se recuperou no Hospital Geral de San Francisco, seu filho deu alguns conselhos aos médicos de lá: coloquem desentupidores de vaso sanitário perto de todos os leitos da unidade coronariana.

O hospital não fez isso, mas a ideia fez os médicos pensarem em maneiras melhores de fazer RCP, o método convencional de compressões torácicas após parada cardíaca. Mais de três décadas depois, numa reunião de diretores de serviços médicos de emergência esta semana em Hollywood, na Flórida, os pesquisadores apresentaram dados mostrando que o uso de uma configuração semelhante a um êmbolo leva a resultados notavelmente melhores para reanimar pacientes.

O dispositivo para RCP neuroprotetora; o método convencional de compressões torácicas não possui uma taxa de sucesso muito alta
O dispositivo para RCP neuroprotetora; o método convencional de compressões torácicas não possui uma taxa de sucesso muito alta - AdvancedCPR Solutions via NYT

A RCP tradicional não tem um grande histórico: em média, apenas 7% das pessoas que a recebem antes de chegar ao hospital têm alta com função cerebral completa, de acordo com um registro nacional de paradas cardíacas tratadas por equipes médicas de emergência em comunidades de todos os Estados Unidos.

"É triste", disse Keith Lurie, cardiologista da Escola de Medicina da Universidade de Minnesota que tratou o paciente com êmbolo em 1988.

O novo procedimento, conhecido como RCP neuroprotetora, tem três componentes. Primeiro, um êmbolo de silicone força o tórax para cima e para baixo, não apenas empurrando o sangue para o corpo, mas puxando-o de volta para encher novamente o coração. Uma válvula de plástico se encaixa sobre uma máscara facial ou tubo de respiração para controlar a pressão nos pulmões.

A terceira peça é um dispositivo de posicionamento corporal vendido pela AdvancedCPR Solutions, uma empresa fundada por Lurie em Edina, em Minnesota. Um suporte articulado eleva lentamente o paciente em decúbito dorsal para uma posição parcialmente sentada. Isso permite que o sangue com falta de oxigênio no cérebro seja drenado de forma mais eficaz e reabastecido mais rapidamente com sangue oxigenado.

Os três equipamentos, que cabem numa mochila, custam cerca de US$ 20 mil (R$ 95,6 mil) e podem ser usados por vários anos. Os dispositivos foram aprovados separadamente pela Administração de Alimentos e Drogas dos EUA.

A RCP neuroprotetora tem três componentes: um êmbolo de silicone força o tórax para cima e para baixo, não apenas empurrando o sangue para o corpo, mas puxando-o de volta para encher novamente o coração; uma válvula de plástico se encaixa sobre uma máscara facial ou tubo de respiração para controlar a pressão nos pulmões; e um dispositivo par elevar o tronco do paciente
A RCP neuroprotetora tem três componentes: um êmbolo de silicone força o tórax para cima e para baixo, não apenas empurrando o sangue para o corpo, mas puxando-o de volta para encher novamente o coração; uma válvula de plástico se encaixa sobre uma máscara facial ou tubo de respiração para controlar a pressão nos pulmões; e um dispositivo par elevar o tronco do paciente - AdvancedCPR Solutions/reprodução

Há cerca de quatro anos, os pesquisadores começaram a estudar a combinação dos três dispositivos usados em conjunto. Na reunião desta semana, o doutor Paul Pepe, antigo pesquisador de RCP e diretor dos serviços médicos de emergência do condado de Dallas (Texas), relatou resultados de 380 pacientes que não puderam ser reanimados por desfibrilação, tornando suas chances de sobrevivência particularmente difíceis. Entre aqueles que receberam o novo método de RCP 11 minutos após a parada cardíaca, 6,1% sobreviveram com a função cerebral intacta, em comparação com apenas 0,6% que receberam RCP tradicional.

Ele também relatou chances significativamente melhores para um subgrupo de pacientes que não tinham batimentos cardíacos, mas tinham atividade elétrica aleatória nos músculos cardíacos. As chances típicas de sobrevivência para pessoas nessas circunstâncias são de cerca de 3%. Mas os pacientes do estudo de Pepe que receberam RCP neuroprotetora tiveram 10% de chance de deixar o hospital neurologicamente intactos.

No ano passado, um estudo realizado em quatro estados encontrou resultados semelhantes. Os pacientes que receberam RCP neuroprotetora dentro de 11 minutos após uma ligação para o 911 tiveram cerca de três vezes mais chances de sobreviver com boa função cerebral do que aqueles que receberam RCP convencional.

"Esta é a coisa certa a fazer", disse Pepe.

Alguns anos atrás, Jason Benjamin teve uma parada cardíaca após um treino numa academia em St. Augustine, na Flórida. Um amigo o levou a um Corpo de bombeiros próximo, onde trabalhadores treinados colocaram o equipamento de RCP neuroprotetora. Demorou 24 minutos e várias desfibrilações para reanimá-lo.

Depois de se recuperar, Benjamin, ele próprio um ex-técnico de emergência médica, ficou surpreso ao saber da nova abordagem que salvou sua vida. Ele leu os estudos e entrevistou Lurie. O procedimento de três partes tinha vários nomes complicados na época. Foi Benjamin quem criou o termo RCP neuroprotetora, "porque é isso que ele faz", lembrou Benjamin, acrescentando que "o foco era proteger meu cérebro".

Karen Hirsch, neurologista da Universidade de Stanford e membro do comitê de padrões de RCP da Associação Americana do Coração, disse que a nova abordagem é interessante e faz sentido fisiológico, mas que o comitê precisa ver mais pesquisas em pacientes antes que possa recomendá-lo formalmente como opção de tratamento.

"Estamos limitados aos dados disponíveis", disse ela, acrescentando que o comitê gostaria de ver um ensaio clínico no qual pessoas que sofreram paradas cardíacas sejam designadas aleatoriamente para RCP convencional ou RCP neuroprotetora. Nenhuma dessas avaliações está acontecendo nos Estados Unidos.

Joe Holley, diretor-médico do serviço de emergência que atende Memphis, no Tennessee, e várias comunidades vizinhas, não está esperando por um teste maior. Duas de suas equipes, disse ele, estão obtendo taxas de sobrevivência neurologicamente intacta de cerca de 7% com a RCP convencional. Com a RCP neuroprotetora, as taxas subiram para cerca de 23%.

Suas equipes estão voltando das chamadas de emergência muito mais felizes hoje em dia, e os pacientes estão até mesmo aparecendo nos quartéis para agradecer aos bombeiros por sua ajuda.

"Isso era uma coisa rara", disse Holley. "Agora é quase normal."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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