Aproveitando o sucesso de sua espaçonave Hope, que ainda está circulando e estudando Marte, os Emirados Árabes Unidos anunciaram na última segunda-feira (29) os planos de uma ambiciosa missão de acompanhamento: um grande passeio pelo cinturão de asteroides.
"A missão do cinturão de asteroides foi a quantidade certa de desafio", disse Sarah al-Amiri, presidente da Agência Espacial dos Emirados Árabes Unidos (EAU). "Ciência interessante, relevante para a comunidade científica, boas oportunidades de colaboração."
A espaçonave, batizada de MBR Explorer em homenagem ao xeque Mohammed bin Rashid al-Maktoum, governante de Dubai e primeiro-ministro dos Emirados, está programada para ser lançada em 2028. Em fevereiro de 2030, ela chegará a Westerwald, um asteroide de 2,2 km de largura, passando a 32 mil km/hora e seguindo para visitar mais seis objetos no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter.
"Teremos uma visão mais detalhada da superfície do asteroide", disse Hoor al-Mazmi, líder científico da missão. "E entenderemos a densidade interior e a estrutura do asteroide."
O sétimo asteroide, Justitia, é o mais intrigante. Com cerca de 48 km de largura, é bem avermelhado, coloração incomum para um asteroide. Na verdade, mais parece um dos pequenos mundos gelados encontrados no cinturão de Kuiper, que circunda o Sol além da órbita de Netuno.
Isso levou os cientistas planetários a especular que Justitia se formou nos limites externos do sistema solar e depois foi jogado para o interior pelas órbitas mutantes dos planetas gigantes, mais tarde juntando-se ao cinturão de asteroides.
Se isso for verdade, uma visita a Justitia forneceria um estudo de perto de um objeto do cinturão de Kuiper, sem a longa viagem aos confins do sistema solar.
O MBR Explorer está programado para se posicionar a algumas centenas de metros de Justitia em outubro de 2034 e passar pelo menos sete meses estudando-o com câmeras e espectrômetros que serão capazes de identificar a composição do asteroide, incluindo a presença de água. Acredita-se que a cor avermelhada indique moléculas à base de carbono, que são os blocos de construção da vida. A espaçonave também lançará um pequeno módulo para pousar na superfície de Justitia.
Com massa superior a 2 toneladas, a MBR Explorer será maior que a sonda Hope, dos Emirados Árabes Unidos, que foi a Marte. Para sobrevoar os seis primeiros asteroides, a espaçonave viajará rapidamente, exigindo navegação precisa para garantir que os instrumentos estejam apontados para o asteroide.
"A complexidade aumenta", disse Mohsen al-Awadhi, diretor do programa da missão.
E a espaçonave deve ser lançada dentro de um período de três semanas em março de 2028 para poder fazer todos os sobrevoos planejados. Se não conseguir decolar, toda a missão terá que ser replanejada, provavelmente com novos destinos de asteroides.
Até o momento, a agência espacial dos Estados Unidos, Nasa, a Agência Espacial Europeia (ESA), a China e a agência espacial japonesa Jaxa enviaram espaçonaves robóticas para asteroides.
Os Emirados Árabes Unidos, país rico em petróleo que é um pouco menor que o estado americano do Maine, é um recém-chegado ao voo espacial. Duas décadas atrás, não tinham um programa espacial.
Hoje está cada vez mais ativo no espaço, como parte de um esforço para impulsionar uma indústria de alta tecnologia no país, preparando-se para um futuro em que o petróleo não fluirá mais com tanta abundância. Isso inclui o envio de astronautas à Estação Espacial Internacional, com um deles, Sultan al-Neyadi, atualmente em órbita.
A variedade de asteroides visitados pelo MBR Explorer oferecerá comparações científicas úteis para asteroides semelhantes que serão visitados em outras missões, como a missão Lucy da Nasa, lançada em 2021.
"Acho que é uma boa missão", disse Hal Levison, o investigador principal de Lucy, sobre a missão dos Emirados. "Isso adicionará algo único, que a Nasa não planeja fazer."
Cientistas planetários poderão descobrir se Justitia realmente é um intruso do sistema solar externo. Mas outros corpos que se acredita serem objetos do cinturão de Kuiper que foram empurrados para dentro são mais cinza-avermelhados. "A interpretação disso é que a exposição ao Sol está queimando parte do material vermelho à medida que se aproxima", disse ele.
Assim, Justitia, que é tão vermelha quanto um distante objeto do cinturão de Kuiper, parece vermelha demais para onde está.
"Isso nos oferece um mistério", disse Levison.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
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