Descrição de chapéu The New York Times dinossauro

Fósseis mostram como répteis de pescoço longo perderam a cabeça

Estudo fornece evidências de pescoço formado a partir de 13 vértebras alongadas e entrelaçadas, tão rígido quanto uma vara de pescar

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Asher Elbein
The New York Times

Em 1830, Henry de la Beche, um paleontólogo inglês, compôs uma pintura chamada "Duria Antiquior", uma visão dos oceanos mesozoicos. Ao imaginar um réptil marinho de pescoço comprido, ele retratou sua garganta presa entre as mandíbulas de um monstruoso ictiossauro.

Quase dois séculos se passaram sem evidências diretas da mordida no pescoço que De la Beche imaginou. Mas uma pesquisa publicada na segunda-feira (19) na revista Current Biology forneceu evidências sangrentas —e extremamente raras— de que os predadores viam os pescoços longos e estendidos dos répteis nadando nos mares pré-históricos como alvos irresistíveis.

A vítima era o Tanystropheus, cujo pescoço é "completamente único" no registro fóssil, disse Stephan Spiekman, paleontólogo do Museu Estadual de História Natural de Stuttgart, na Alemanha, e um dos autores do estudo. A estrutura —que compunha metade do corpo do animal— era formada a partir de 13 vértebras bizarramente alongadas e entrelaçadas, criando um pescoço tão rígido quanto uma vara de pescar.

Representação artística de um predador atacando e decapitando um réptil marinho de pescoço longo Tanystropheus hydroides durante o período Triássico
Representação artística de um predador atacando e decapitando um réptil marinho de pescoço longo Tanystropheus hydroides durante o período Triássico - Instituto Catalão de Paleontologia Miquel Crusafont/FECYT/via Reuters

"É muito importante ter uma ideia de como essas estruturas extremas funcionavam, com possíveis fraquezas e pontos fortes", disse Spiekman.

A pesquisa de doutorado de Spiekman revelou que duas espécies diferentes de Tanystropheus —uma pequena e outra com quase 6 metros de comprimento— viviam nas lagoas rasas dos Alpes Triássicos, provavelmente caçando peixes empoleirados sobre protuberâncias no fundo do mar. No decorrer dessa pesquisa, Spiekman estudou um par das duas espécies, cada um composto apenas por cabeça e pescoço.

Em ambos os animais, "o pescoço está quebrado pela metade, na parte de trás", disse Spiekman. "É como quebrar um cabo de vassoura."

Spiekman compartilhou os espécimes com seu colega Eudald Mujal, paleontólogo especializado em analisar interações predador-presa em fósseis, particularmente marcas de mordidas em ossos. Depois de uma tarde com os fósseis em seu local de repouso em Zurique, eles concluíram que os pescoços tinham sido mordidos.

"A parte quebrada dos ossos parece quando você quebra um osso de galinha", disse Mujal. "O osso foi quebrado quando ainda estava fresco e provavelmente enquanto o animal ainda estava vivo."

A equipe mediu a distância entre as marcas de mordida no maior Tanystropheus e as comparou com as mandíbulas de vários predadores que compartilham o habitat. O provável culpado foi um grande notossauro —ancestrais dos plesiossauros semelhantes a focas— ou um dos dois grandes ictiossauros predadores, disse Mujal. O Tanystropheus menor pode ter sido atacado por um réptil marinho menor ou um peixe grande.

Ambos os animais provavelmente foram atingidos por cima, concluiu a equipe, possivelmente por um predador interessado mais em seus corpos carnudos do que em seus pescoços finos ou cabeças minúsculas. "Eles possivelmente estão mirando preferencialmente a mesma região do pescoço", disse Mujal, "longe o suficiente da cabeça para dificultar a defesa do animal."

O Tanystropheus é o único réptil marinho conhecido por sofrer tal decapitação sem cerimônia. Os longos pescoços dos plesiossauros —répteis que surgiram após a extinção do Tanystropheus e permaneceram até o final do período mesozoico— são compostos de muitas vértebras volumosas, cobertas por músculos e gordura, disse Mujal. Embora eles também pudessem ter isso no pescoço, "uma camada muito espessa de carne e pele ao redor significa que os predadores poderiam não ter deixado marcas nas vértebras".

Mas mesmo que o pescoço longo fosse um ponto fraco para atrair predadores, observam os pesquisadores, foi claramente uma estratégia evolutiva muito bem-sucedida. Vários grupos diferentes de répteis marinhos comedores de peixes desenvolveram independentemente pescoços alongados ao longo de 175 milhões de anos. Até a família do Tanystropheus provou ser uma história de sucesso, espalhando-se pelas costas do Triássico da Europa moderna à China e durando 10 milhões de anos.

"A evolução é um jogo de compensações", disse Spiekman. "Em longo prazo, o risco de ter um pescoço longo valeu a pena para esse animal."

Em outras palavras, arriscar o pescoço pode valer a pena para a espécie —mesmo que você pessoalmente tenha sua cabeça arrancada.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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