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Monólitos no deserto revelam projetos arquitetônicos mais antigos do mundo

Gravuras encontradas na Jordânia e na Arábia Saudita pareciam corresponder a antigas megainstalações conhecidas como pipas do deserto

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Priyanka Runwal
The New York Times

Enormes estruturas de pedra pré-históricas encontradas em paisagens desérticas entre a Arábia Saudita e o Cazaquistão surpreendem os arqueólogos há décadas. Cada uma pode se estender por alguns quilômetros, e sua forma se assemelha a uma pipa com rabiola.

Estudos recentes reforçaram um consenso de que as chamadas "pipas do deserto" eram usadas para capturar e matar rebanhos de animais selvagens. Mas como os caçadores antigos conceberam —e perceberam— essas estruturas grandiosas permaneceu um mistério.

As pipas, em sua totalidade, são "visíveis apenas do ar", disse Rémy Crassard, arqueólogo do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França. "Mesmo com nossas técnicas modernas de visualizar a paisagem, para nós, arqueólogos, cientistas e estudiosos, ainda é difícil fazer um mapa adequado."

A chamada pipa do deserto vista do solo no norte da Arábia Saudita; vistas de cima, as misteriosas estruturas de pedra pré-históricas se assemelham a pipas com rabos
A chamada pipa do deserto vista do solo no norte da Arábia Saudita; vistas de cima, as misteriosas estruturas de pedra pré-históricas se assemelham a pipas com rabos - Remy Crassard/CNRS via NYT

Crassard e seus colegas ficaram muito felizes em 2015 quando encontraram dois monólitos de pedra com representações precisas de pipas do deserto próximas, na Jordânia e na Arábia Saudita. Gravadas entre 7.000 e 9.000 anos atrás, essas representações são certamente as mais antigas plantas arquitetônicas em escala registradas na história da humanidade, informou a equipe no mês passado na revista Plos One.

Eles também destacam que as pipas do deserto podem ter sido cuidadosamente planejadas pelos povos antigos que dependiam delas.

"É impressionante", disse Crassard, "saber e mostrar que eles foram capazes de ter essa conceituação mental de espaços muito amplos e colocá-la numa superfície menor."

Na última década, como parte de um projeto chamado Globalkites, Crassard e seus colegas usaram imagens de satélite para identificar mais de 6.000 pipas do deserto de várias formas e tamanhos no Oriente Médio e na Ásia Ocidental e Central. Outros pesquisadores descobriram, enquanto faziam pesquisas e escavações, gravações em pedra que retratavam esses enigmas feitos pelo homem.

Mas, falando das gravuras encontradas anteriormente, Crassard disse que "não se poderia relacionar esses desenhos a uma pipa específica".

Quando encontraram as duas representações de pipas no sudeste da Jordânia e no norte da Arábia Saudita, durante pesquisas de campo, os arqueólogos logo viram que eram especiais.

A princípio, eles notaram a presença de três características definidoras de pipas. Havia "rabiolas", que representam fileiras de pedras mais ou menos contíguas. Estas convergem para um recinto murado que se assemelha ao "corpo" da pipa. E ao longo das bordas do corpo foram cavados fossos. Os arqueólogos suspeitam que grupos de animais, como gazelas, seguiam essas fileiras de pedra ou eram perseguidos ao longo delas antes de serem canalizados para o recinto, onde os caçadores matavam os animais e usavam os fossos situados estrategicamente para prender os que tentassem escapar.

Muito rapidamente, a equipe reconheceu que essas gravuras combinavam com a forma e a estrutura das pipas vistas nas proximidades. No sudeste da Jordânia, por exemplo, as linhas da cauda das pipas se curvam à medida que convergem para os recintos —peculiaridade também visível na pedra gravada.

"Quando olhamos as imagens de satélite e aéreas que tiramos em campo, é como um desenho das pipas reais dessa área", disse Mohammad Tarawneh, arqueólogo da Universidade Al-Hussein Bin Talal, na Jordânia, e um dos autores do estudo.

Modelos matemáticos também indicaram que as pipas na região da Jordânia-Arábia Saudita onde a equipe trabalhou eram as que mais se aproximavam quando os pesquisadores compararam a geometria das duas gravuras com um total de 69 pipas de várias regiões. A comparação das formas com essas pipas próximas também revelou que os desenhos foram feitos em escala. Os pesquisadores inferiram as idades das gravuras usando ferramentas de datação geológica para determinar há quanto tempo foram construídas as estruturas locais de pipas correspondentes.

O que permanece desconhecido é se essas representações foram preparadas como plantas para ajudar na construção das pipas ou serviam de mapas para os caçadores. As gravuras também podem ser comemorações simbólicas das pipas do deserto, que teriam sido uma parte importante da identidade cultural dos povos antigos que as fizeram e usaram, disse Wael Abu-Azizeh, arqueólogo do Instituto Francês do Oriente Próximo na Jordânia e um dos autores do estudo.

Yorke Rowan, arqueólogo da Universidade de Chicago, que não participou do estudo, disse que as gravuras citadas no artigo foram uma grande descoberta. Ele considerou notável que as pessoas no solo estivessem retratando com precisão coisas que hoje só podem ser vistas totalmente do alto. Encontrar esse domínio mental do espaço abre uma nova janela para as mentes desses antigos caçadores.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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