Descrição de chapéu The New York Times

Nasa quer foguete nuclear para chegar a Marte na metade do tempo

Projeto pode fazer viagem cair de sete a nove meses para três a quatro meses

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Kenneth Chang
The New York Times

Em menos de três anos, os Estados Unidos poderão testar no espaço um foguete movido a energia nuclear.

A agência espacial nacional, Nasa, e a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa, ou Darpa, anunciaram na última quarta-feira (26) que a Lockheed Martin foi selecionada para projetar, construir e testar um sistema de propulsão que poderá um dia levar velozmente astronautas numa viagem a Marte.

A BWX Technologies, com sede em Lynchburg, na Virgínia, construirá o reator de fissão nuclear no centro do motor.

Ilustração da espaçonave movida a energia nuclear proposta pela Lockheed Martin, que e foi escolhida pela Nasa para criar o projeto de propulsão que pode levar o homem a marte na metade do tempo
Ilustração da espaçonave movida a energia nuclear proposta pela Lockheed Martin, que foi escolhida pela Nasa para criar o projeto de propulsão que pode levar o homem a Marte - Lockheed Martin via NYT

O programa de US$ 499 milhões é denominado Draco, abreviação de Demonstration Rocket for Agile Cislunar Operations (Foguete de Demonstração para Operações Cislunares Ágeis).

3 a 4 meses para Marte

E se uma espaçonave pudesse chegar a Marte na metade do tempo que leva atualmente?

A cada 26 meses, mais ou menos, Marte e Terra estão perto o suficiente para uma jornada mais curta entre os planetas. Mesmo assim, é uma viagem bem longa, durando de sete a nove meses. Na maior parte do tempo, a espaçonave está apenas navegando pelo espaço.

Mas se a nave pudesse continuar acelerando durante a primeira metade da jornada e depois começasse a desacelerar novamente o tempo de viagem poderia ser reduzido. Os atuais motores de foguetes, que normalmente dependem da combustão de um combustível como hidrogênio ou metano com oxigênio, não são eficientes o bastante para realizar isso; não há espaço suficiente na espaçonave para transportar tanto propelente.

Já as reações nucleares, que geram energia a partir da divisão dos átomos de urânio, são muito mais eficientes.

O motor do Draco consistiria em um reator nuclear que aqueceria o hidrogênio de -420 graus Fahrenheit (-251ºC) a tórridos 4.400ºF (2.426ºC), com o gás quente saindo de um bocal para gerar impulso. Uma maior eficiência de combustível poderia acelerar as viagens a Marte, reduzindo a quantidade de tempo que os astronautas passam expostos ao ambiente traiçoeiro do espaço profundo.

A propulsão nuclear também pode ter usos mais próximos de casa, e é por isso que a Darpa está investindo no projeto. A tecnologia poderá permitir manobras rápidas de satélites militares em órbita da Terra.

De volta para o futuro

A propulsão nuclear para o espaço não é uma ideia nova. Nas décadas de 1950 e 1960, o Projeto Orion —financiado pela Nasa, a Força Aérea e Agência de Projetos de Pesquisa Avançada dos EUA— cogitou usar explosões de bombas atômicas para acelerar espaçonaves.

Ao mesmo tempo, a Nasa e outras agências empreenderam o Projeto Rover e o Projeto Nerva, iniciativas que visavam desenvolver motores termonucleares semelhantes em conceito aos que são o alvo do programa Draco. Uma série de 23 reatores foram construídos e testados, mas nenhum foi lançado ao espaço. Até o final desse programa, em 1973, a Nasa tinha pensado em usar reatores nucleares para impulsionar sondas espaciais para Júpiter, Saturno e além, bem como para fornecer energia a uma base lunar.

"As capacidades técnicas, incluindo os primeiros protocolos de segurança, continuam viáveis hoje", disse Tabitha Dodson, diretora de projeto da Draco, em entrevista coletiva na quarta-feira.

Uma diferença fundamental entre a Nerva e a Draco é que a Nerva usou urânio para armamentos em seus reatores, enquanto a Draco usará uma forma menos enriquecida de urânio.

O reator não seria ligado até chegar ao espaço, parte das precauções para minimizar a possibilidade de um acidente radioativo na Terra.

"A Draco já fez todas as nossas análises preliminares em todo o espectro de possibilidades de acidentes, e descobriu que estamos totalmente abaixo da baixa probabilidade e totalmente abaixo da pequenina quantidade de liberação", disse Dodson.

Voo de teste em órbita

O desenvolvimento do Draco deve culminar com um teste em voo do motor termonuclear. Kirk Shireman, vice-presidente da Lockheed Martin, disse que o lançamento está programado para o final de 2025 ou início de 2026.

A espaçonave de demonstração provavelmente orbitaria a uma altitude entre 700 km e 2.000 km, disse Dodson. Isso é o suficiente para garantir que permaneça em órbita por mais de 300 anos, o tempo necessário para que os elementos radioativos no combustível do reator decaiam para níveis seguros, disse ela.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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