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Bomba atômica voltou a ser preocupação, diz diretor de 'Um Espião Compassivo'

Filme de Steve James, parte do É Tudo Verdade, reconta vida de físico do Projeto Manhattan que vazou projeto para soviéticos

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São Paulo

Steve James entende a atração atual de Christopher Nolan pela bomba atômica. Os dois cineastas falam de cientistas do Projeto Manhattan —que criaram a arma responsável por destruir Hiroshima e Nagasaki, no Japão, há quase 80 anos— em seus novos filmes, "Um Espião Compassivo" e "Oppenheimer", respectivamente, embora de perspectivas diferentes.

Quando perguntado sobre a coincidência, James diz em tom de brincadeira que Nolan copiou seu projeto. Mas o documentarista americano afirma que ele e o diretor britânico chegaram ao tema por uma preocupação similar.

Cena do filme 'A Compassionate Spy', de Steve James
Cena do filme 'Um Espião Compassivo', de Steve James - Divulgação

"A bomba atômica ressurgiu como preocupação geopolítica", afirma James. "O aquecimento global, por um tempo, substituiu as armas nucleares como grande ameaça à humanidade, mas esses aparatos continuam perigosos e acho que o público voltou a perceber isso."

Filme de James, "Um Espião Compassivo" é bem mais barato que "Oppenheimer", uma produção com orçamento grande o suficiente para simular o impacto atômico com explosivos. O protagonista, Ted Hall, também é bem discreto em relação a Robert Oppenheimer, criador da bomba.

Mas a história do físico, o mais jovem a participar do Projeto Manhattan, é tão importante quanto a do chefe. Foi ele quem vazou o projeto do aparato à União Soviética na época. Hoje, é acusado de causar a Guerra Fria, que ocuparia o resto do século.

"Um Espião Compassivo" contesta a acusação. O documentário, exibido no festival É Tudo Verdade, mostra que Hall, embora simpático aos ideais soviéticos, compartilhou segredos de Estado por preocupação com o monopólio de um poder tão imenso para os Estados Unidos.

Mas o contexto geopolítico é detalhe no filme, que prefere o relato íntimo de Joan Hall, mulher de Ted. O físico morreu em 1999, pouco depois dos arquivos da investigação do FBI sobre o casal irem a público.

Além de despertar a ira em partes do povo americano, os documentos mostram o quanto os Hall sofreram com a vigilância do governo. Joan sabia dos atos do marido desde o começo e protegeu a família.

Esse ângulo da história chamou a atenção de Steve James, que ouviu a história de David Lindorff, jornalista que entrevistou para o seu documentário "Abacus", lançado em 2016 e indicado ao Oscar.

Ele decidiu fazer o filme depois de viajar para o Reino Unido e passar quatro dias entrevistando Joan. Com a descoberta de uma entrevista antiga de Ted para a televisão, o diretor percebeu o valor da pequena história do casal sobre a maior. Até porque ela oferecia uma perspectiva diferente.

"A maioria dos documentários sobre o assunto são amplos e trazem muitos especialistas. Eu não queria fazer esse filme e pensei se não poderíamos contar a história apenas pela visão de Joan e Ted."

O longa apela ainda a recriações da história com atores, ponto polêmico que o diretor defende como única solução. Segundo ele, as encenações permitiram ilustrar a trama privada de forma que o público visse os entrevistados como eram na época, jovens idealistas e corajosos.

"Quando olhamos aquela geração, não pensamos no quão radicais e politicamente ativas as pessoas eram", afirma o diretor. "É o caso da Joan. Ela é uma mulher de 92 anos, e é difícil a imaginar como pessoa de esquerda radical."

Segundo James, a decisão de manter o filme colado no casal permite ao público formar a própria opinião sobre o caso.

"Ninguém sabe ao certo se os Estados Unidos teriam atacado a União Soviética, mas até hoje é o único país que usou a bomba atômica. Acredito que os temores [de Ted] eram bastante realistas e que ele agiu em cima deles."

Um Espião Compassivo

  • Quando Dia 18/4, às 14h, na Cinemateca Brasileira, e dia 22 de abril, às 19h30, no IMS, em São Paulo; dia 19 de abril, às 15h30, no Net Rio, no Rio de Janeiro
  • Classificação Classificação não indicada
  • Produção Reino Unido, Estados Unidos, 2022
  • Direção Steve James.
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