Descrição de chapéu The New York Times dinossauro

Doença óssea grave pode ter contribuído para extinção de tigres dentes-de-sabre

Enfermidade também pode debilitar cães e gatos modernos, e até mesmo humanos

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Miriam Fauzia
The New York Times

Entre 50 mil e 10 mil anos atrás, quando calotas de gelo derreteram e a temperatura do planeta subiu, cerca de cem espécies de animais gigantes começaram a desaparecer sem deixar rastros.

Paleontólogos têm procurado entender exatamente como esses animais desapareceram, entre eles predadores icônicos como o tigre dentes-de-sabre e o lobo-terrível. Algumas hipóteses sugerem que a causa tenha sido a competição acirrada por alimentos limitados, agravada pela chegada dos humanos e dos lobos-cinzentos. Mas novas evidências sugerem que uma doença óssea que pode debilitar cães e gatos modernos, e até mesmo humanos, pode também ter exercido um papel.

Em artigo publicado na semana passada no periódico PLoS One, pesquisadores escreveram que, com a mudança do clima, os ossos dos tigres dentes-de-sabre e lobos-terríveis ficaram cheios de defeitos ligados à osteocondrite dissecante, ou OCD, uma doença grave do desenvolvimento em que se formam orifícios ósseos causados por tecido em desenvolvimento que nunca chegou a endurecer. Em um animal vivo, os orifícios são preenchidos por abas de cartilagem, o que pode resultar em inflamação dolorosa.

Esqueleto de  um tigre dentes-de-sabre; espécie sofria com doenças ósseas, como demonstrou estudo recente
Esqueleto de um tigre dentes-de-sabre; espécie sofria com doenças ósseas, como demonstrou estudo recente - stockdevil - stock.adobe.com

Essas descobertas revelam um instantâneo fossilizado de como a fisiologia de predadores importantes do Pleistoceno provavelmente se enfraqueceu sob pressões ambientais, disse Mairin Balisi, curadora do Museu Raymond M. Alf de Paleontologia, de Claremont, Califórnia, e uma das autoras do artigo científico.

A OCD é uma doença ortopédica comum que afeta as articulações de cães de crescimento rápido. É menos comum entre felinos, mas já foram relatados casos entre leopardos-das-neves. Para Hugo Schmokel, cirurgião ortopédico veterinário residente em Stromsholm, Suécia, e um dos autores do artigo, isso pode indicar que a OCD é subnotificada em animais selvagens.

Schmokel visitou o sítio de pesquisas paleontológicas La Brea Tar Pits, em Los Angeles, em 2022 para estudar se os tigres dentes-de-sabre e os lobos-terríveis sofriam de doenças dos ligamentos cruzados. Em vez disso, outra coisa chamou sua atenção: reentrâncias de tamanhos diversos espalhadas pelas articulações dos joelhos e ombros desses carnívoros antigos.

Paleontólogos haviam notado esses defeitos, "mas ninguém havia percebido que elas talvez fossem lesões ósseas sofridas em vida, e não pós-morte", disse Schmokel.

Com a ajuda de Balisi, então pesquisadora pós-doutoranda em La Brea Tar Pits, e Aisling Farrell, administradora sênior de coleções, Schmokel examinou mais de mil ossos de membros de tigres dentes-de-sabre e lobos-terríveis.

A equipe descobriu que cerca de 6% dos ossos dos membros de tigres dentes-de-sabre adultos jovens e filhotes, especificamente as articulações de joelhos, apresentavam reentrâncias medindo menos de sete milímetros.

Quase 3% dos lobos-terríveis adultos jovens e filhotes também apresentavam defeitos na articulação do joelho que tendiam a ser maiores, medindo mais de 12 milímetros. Pequenos defeitos articulares nos ombros eram mais comuns nos lobos, assim como em cães, totalizando quase 5%. Alguns poucos membros de animais adultos, mas nenhum de filhotes, mostravam sinais de osteoartrite, doença articular degenerativa que pode ser decorrente de OCD.

A prevalência da doença entre os animais pareceu maior que entre animais e humanos modernos, disse Schmokel.

Apenas com base nos ossos, é difícil avaliar por que a OCD atingiu os animais dessa maneira. E os pesquisadores tampouco podem afirmar com certeza como ela afetou a qualidade de vida ou mobilidade dos animais. Em animais domésticos modernos, a doença pode provocar graus variados de dor e claudicação. Numa fase inicial da vida, esses defeitos ósseos podem desaparecer por conta própria; é possível que não tenham passado de um problema leve, pelo menos para alguns indivíduos. Também é possível que o comportamento social dos animais tenha mitigado o pior da doença, disse Larissa DeSantis, paleontóloga da Universidade Vanderbilt que não participou do estudo.

Ela disse em email que outros espécimes de La Brea Tar Pits apresentavam sinais de "displasia dos quadris e artrite grave, revelando a capacidade desses predadores da Era do Gelo de viver por períodos de tempo longos com essas lesões".

Esqueleto de um tigre dentes-de-sabre em exposição no Museu Nacional da Natureza e Ciência de Tóquio (JAP)
Esqueleto de um tigre dentes-de-sabre em exposição no Museu Nacional da Natureza e Ciência de Tóquio (JAP) - Akkharat J. - 29.abr.17/stock.adobe.com

Para os pesquisadores, porém, a prevalência maior de OCD justifica a especulação de que talvez houvesse um problema de endogamia entre os tigres dentes-de-sabre e os lobos-terríveis, devido às populações isoladas e cada vez menores. Schmokel aponta para animais modernos, como os lobos de Isle Royale e as panteras da Flórida, que viveram o mesmo problema.

DeSantis não acredita que a OCD tenha sido a única causa da extinção desses predadores alfa, mas Balisi diz que as descobertas indicam a necessidade de mais pesquisas.

Para ela, os sinais da doença "podem ser uma manifestação morfológica de algo mais profundo que ainda não sabemos o que é, mas acho que é apenas questão de tempo".

Tradução de Clara Allain

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