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Fósseis de água-viva de 505 milhões de anos podem ser os mais antigos já encontrados

Espécie faz parte de um grupo diverso, que ainda nada nos mesmos mares que conhecemos hoje

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The New York Times

As águas-vivas flutuam pelos oceanos da Terra aparentemente desde sempre. Mas é difícil definir a origem exata dessas criaturas marinhas molengas, que são alguns dos primeiros animais complexos. Elas raramente aparecem no registro fóssil porque as águas-vivas são 95% água, e tendem a se decompor rapidamente.

"Se você vir uma água-viva fora da água, algumas horas depois é apenas uma bola de gosma", disse Jean-Bernard Caron, paleontólogo do Museu Real de Ontário, em Toronto (Canadá).

Mas Caron e outros cientistas descreveram recentemente um depósito de fósseis de águas-vivas do período Cambriano que encontraram um caminho improvável para a preservação. Em um artigo publicado nesta quarta-feira (2) na revista Proceedings of the Royal Society B, os cientistas postulam que esses animais de 505 milhões de anos estão entre as águas-vivas nadadoras mais antigas conhecidas pela ciência.

Ilustração de espécie de água-viva Burgessomedusa phasmiformis
Ilustração de espécie de água-viva Burgessomedusa phasmiformis - Divulgação/C. McCall

"Esses novos fósseis representam a evidência mais convincente da água-viva do Cambriano até hoje", disse David Gold, paleobiólogo da Universidade da Califórnia em Davis, que não participou do novo estudo.

Os espécimes de água-viva foram encontrados em Burgess Shale, local rico em fósseis nas Montanhas Rochosas canadenses que fornece um vislumbre da vida durante a explosão cambriana da Terra. Assim como outras criaturas de corpo mole encontradas no local, as águas-vivas gelatinosas estão preservadas com detalhes impressionantes. A maioria ainda tem mais de 90 tentáculos semelhantes a dedos, que se projetam do corpo em forma de sino da criatura como as cordas no final de um tapete de borla. Algumas até retêm o conteúdo estomacal e as gônadas.

Na década de 1990, pesquisadores do Museu Real de Ontário desenterraram mais de 170 fósseis de águas-vivas da pedreira Raymond, na Colúmbia Britânica. Quando Caron e um estudante de doutorado examinaram os espécimes mais recentemente, perceberam que os fósseis representavam uma nova espécie, que chamaram de Burgessomedusa phasmiformis.

A espécie faz parte de um grupo diverso chamado medusozoários, que teria se originado há pelo menos 600 milhões de anos e ainda nada nos mesmos mares que conhecemos hoje. Mas as evidências de sua ascensão são escassas. A maioria dos fósseis anteriores ao período Cambriano são microscópicos ou pouco mais que impressões fracas, o que torna difícil inferir como essas águas-vivas ancestrais viveram.

Nas últimas duas décadas, paleontólogos descobriram vários fósseis bem preservados parecidos com águas-vivas em locais de Utah e na China que são semelhantes em idade ao Burgess Shale. No entanto, as verdadeiras identidades dessas criaturas ainda estão em debate. No novo artigo, Caron e seus colegas propuseram que esse fósseis representam antigos ctenóforos, ou geleias-de-pente, outro grupo de animais gelatinosos apenas remotamente relacionados às verdadeiras águas-vivas.

Nem todos os pesquisadores concordam com essa reclassificação.

De acordo com Bruce Lieberman, paleontólogo da Universidade do Kansas que estudou os fósseis de Utah, o novo artigo carece de evidências convincentes que conectem os fósseis anteriores às geleias-de-pente. Em vez disso, ele acha que a Burgessomedusa se soma a um enxame de espécies de águas-vivas que patrulhavam os mares do Cambriano.

"Isso realmente contribui para o convincente corpo de evidências indicando que os medusozoários, que são um clado realmente importante nos oceanos hoje, já estavam estabelecidos no período Cambriano", disse Lieberman.

Os pesquisadores acreditam que adicionar a água-viva ao minizoológico de Burgess Shale acrescenta uma camada de complexidade aos ecossistemas cambrianos. Com um corpo que chegava a quase 20 cm de comprimento, a Burgessomedusa estava entre as maiores criaturas ao redor.

De acordo com Gold, a forma de sino da Burgessomedusa lembra as águas-vivas modernas, que são predadores potentes que encerram um ferrão mortal. "As águas-vivas são caçadoras ativas e usam seu sino para reorientação ativa e movimentos velozes para perseguir a presa."

No entanto, a Burgessomedusa parece carecer de várias estruturas sensoriais encontradas nas águas-vivas modernas. "Não está claro se ela tinha os olhos que as medusas modernas usam para caçar", disse Gold.

Mesmo sem olhos, Burgessomedusa provavelmente era um predador de topo. Assim como a água-viva moderna, provavelmente se especializou em refeições menores. Mas parece também ter sido capaz de caçar animais relativamente grandes: um espécime de Burgessomedusa estudado no artigo foi preservado com um trilobita alojado dentro de seu sino.

A capacidade das águas-vivas de capturar presas enquanto flutuam no mar, apesar de serem quase inteiramente compostas de água, tornou-as os predadores mais duradouros dos oceanos.

"A Burgessomedusa demonstra quão pouco o corpo básico da água-viva mudou", disse Gold. "Elas sobreviveram relativamente inalteradas por centenas de milhões de anos."

Tradução Luiz Roberto M. Gonçalves 

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