Óvnis não têm origem extraterrestre, mas cientistas tampouco sabem o que são

Falta de dados confiáveis dificulta análise científica criteriosa, segundo Nasa

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Lisboa

O primeiro relatório do painel independente convocado pela Nasa para analisar cientificamente a questão dos óvnis (objetos voadores não identificados) não encontrou qualquer sinal de origem extraterrestre para os avistamentos, ainda que alguns deles permaneçam sem explicação.

A agência espacial americana anunciou a criação de uma diretoria de pesquisa para a área, permitindo assim um fluxo mais organizado para investigar esses episódios, agora oficialmente chamados de "fenômenos anômalos não identificados", ou UAP na sigla em inglês.

"A principal conclusão do estudo é que temos muito mais para aprender. A equipe independente da Nasa não encontrou nenhuma evidência de que os UAP [óvnis] tenham origem extraterrestre, mas não sabemos o que são", disse o administrador da agência espacial americana, Bill Nelson.

Imagem de objeto não identificado feita por pilotos da Marinha americana
Imagem de objeto não identificado feita por pilotos da Marinha americana - Departamento de Defesa dos EUA/AFP

O documento com a conclusão do painel, formado em 2022 e que reuniu especialistas em diversos domínios científicos, desde astronautas até experts em inteligência artificial, foi apresentado em uma conferência na manhã desta quinta-feira (14),

Ainda que alguns dos fenômenos identificados não tenham recebido uma explicação dos cientistas, eles destacam que, em muitos casos, as dificuldades estão relacionadas principalmente à má qualidade dos dados associados.

Classificando os óvnis como "um dos maiores mistérios do nosso planeta", Nicola Fox, administradora associada de Missões Científicas da Nasa, reforçou como a falta de dados confiáveis dificulta uma análise científica criteriosa.

Segundo ela, "embora existam numerosos relatos de testemunhas oculares e imagens associadas aos óvnis" esse material é pouco consistente e detalhado, o que faz com que não possam ser "utilizados para tirar conclusões científicas definitivas sobre a natureza e a origem" dos fenômenos.

Para tentar resolver a questão da qualidade e da fiabilidade dos dados, considerada o maior entrave à investigação séria e aprofundada sobre os óvnis, os cientistas propuseram uma série de medidas para que a Nasa aprimore suas ferramentas de monitoramento e análise.

Entre as recomendações apresentadas estão o aproveitamento da estrutura da Administração Federal de Aviação e do Sistema de Relatórios de Segurança da Aviação da própria Nasa para coletar e analisar o material.

A agência especial ainda está analisando as conclusões apresentadas e de que forma pode incorporar o que foi apresentado pelos pesquisadores, mas já se comprometeu a reforçar seu braço de inteligência artificial e machine learning.

Líder do painel de cientistas, o astrofísico David Spergel sugeriu que a colaboração da população não deve ser subestimada. Em resposta a jornalistas, ele afirmou que aplicativos para celular, por exemplo, poderiam ajudar na coleta de dados úteis para os pesquisadores, sendo "uma oportunidade para envolver o público em geral na prática científica".

O astrofísico David Spergel, líder do painel de cientistas, passa atrás do administrador da Nasa, Bill Nelson, durante apresentação de relatório em Washington, nos EUA - Andrew Caballero-Reynolds/AFP

Mais do que investigar potenciais visitas extraterrestres, um sistema de monitoramento robusto para fenômenos misteriosos nos céus serve para melhorar a segurança aeroespacial como um todo, incluindo na aviação comercial.

"Esta foi a primeira vez que a Nasa tomou medidas concretas para olhar seriamente para os UAP [óvnis]", disse o administrador da agência, Bill Nelson, reforçando o propósito de "mudar a conversa do sensacionalismo para a ciência".

Segundo ele, a Nasa quer também garantir que as informações "sejam compartilhadas de forma transparente em todo o mundo".

O chefe da Nasa destacou, porém, que, devido às dimensões do Universo e à grande quantidade de planetas potencialmente habitáveis fora do Sistema Solar, as chances de vida fora da Terra não podem ser ignoradas.

"Temos a compreensão de que a nossa não é a única galáxia, e de que existem bilhões e bilhões delas. E que cada uma dessas galáxias, incluindo a nossa, tem bilhões e bilhões de estrelas", afirmou.

‘MÚMIAS ALIENÍGENAS’

Questionados sobre as supostas "múmias alienígenas" apresentadas em uma sessão do Congresso no México, os especialistas se mostraram céticos quanto às alegações.

Em uma audiência pública que abordou o tema dos óvnis, Jaime Maussan, que se diz especialista no assunto, apresentou o que, segundo ele, seriam dois corpos mumificados de alienígenas.

Sem apresentar provas concretas, Maussan afirmou que análises indicaram que os cadáveres foram datados como tendo mais de um anos, além de mais de 30% do DNA "desconhecido para a humanidade".

Coordenador do grupo independente de pesquisadores, David Spergel disse que só conhece a história "pelo Twitter", mas deixou uma recomendação simples para que o caso possa ser escrutinado pelos cientistas: "Disponibilizem as amostras [das supostas múmias] para a comunidade científica mundial e veremos o que há lá."

Os cientistas destacaram que o conteúdo produzido pela Nasa, desde análise de rochas lunares até outros materiais, está aberto ao público e aos pesquisadores para ser analisado.

A audiência no Congresso mexicano foi inspirada em um episódio ocorrido no Congresso dos Estados Unidos.

Em julho, o ex-funcionário da inteligência americana David Grusch afirmou, diante de um comitê do Legislativo, que as autoridades do país omitem evidências sobre a existência de extraterrestres, incluindo amostras biológicas coletadas de alienígenas.

Instados a se manifestarem sobre as alegações do antigo espião, os especialistas evitaram se envolver na polêmica.

"Não posso falar por outras partes do governo, mas a Nasa é transparente", disse o administrador da agência, que refutou várias das acusações de Grusch. "Mostre-me as evidências [do que ele está alegando]", exigiu.

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