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O que a Índia busca com missão ao sol pouco depois de chegar à Lua

A Índia lançou a sua primeira missão de observação do Sol, poucos dias depois de o país ter feito história ao tornar-se o primeiro a aterrar perto do pólo sul da Lua

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Geeta Pandey - Da BBC News em Déli

A Índia lançou a sua primeira missão de observação do Sol, poucos dias depois de o país ter feito história ao tornar-se o primeiro a aterrar perto do pólo sul da Lua.

A nave Aditya-L1 decolou da plataforma de lançamento em Sriharikota no sábado às 11h50, horário da Índia (8h30 a frente do Brasil).

A primeira missão espacial da Índia para estudar o Sol tem o nome de Surya —o deus hindu do Sol, também conhecido como Aditya.

Nave espacial da India durante decolagem
A missão Aditya L-1 decolou com sucesso - Isro

E L1 significa ponto 1 de Lagrange —o local exato entre o Sol e a Terra para onde a espaçonave indiana está se dirigindo.

Isso fica a 1,5 milhão de km da Terra —1% da distância Terra-Sol.

A agência espacial da Índia afirma que serão necessários quatro meses para viajar tão longe.

De acordo com a Agência Espacial Europeia, um ponto de Lagrange é um local onde as forças gravitacionais de dois grandes objetos —como o Sol e a Terra— se equilibram, permitindo que uma nave espacial "paire".

Assim que o satélite Aditya-L1 atingir este "ponto de estacionamento", ele será capaz de orbitar o Sol na mesma velocidade que a Terra. Isto também significa que ele exigirá muito pouco combustível para funcionar.

A caminho do Sol

Na manhã de sábado, milhares de pessoas se reuniram na galeria montada pela Agência Indiana de Pesquisa Espacial (Isro) perto do local de lançamento para assistir à decolagem.

Ela também foi transmitida ao vivo pela TV nacional, onde comentaristas descreveram o lançamento como "magnífico". Os cientistas da Isro disseram que o lançamento foi bem-sucedido e que seu "desempenho é normal".

Após uma hora e quatro minutos de voo, a Isro declarou que a "missão foi bem-sucedida".

"Agora a nave continuará sua jornada —é uma jornada muito longa de 135 dias, vamos desejar-lhe boa sorte", disse o chefe da Isro, Sreedhara Panicker Somanath.

O diretor do projeto, Nigar Shaji, disse que, assim que o Aditya-L1 chegar ao seu destino, beneficiará não apenas a Índia, mas também a comunidade científica global.

Aditya-L1 irá agora viajar várias vezes ao redor da Terra antes de ser lançado em direção a L1.

Quando chegar a esta posição vantajosa, poderá observar o Sol constantemente —mesmo quando este está oculto durante um eclipse —e realizar estudos científicos.

A Isro não disse quanto custaria a missão, mas relatos da imprensa indiana estimam que o valor seja de 3,78 bilhões de rupias (R$ 225 milhões).

Ventos solares

A Isro diz que a nave carrega sete instrumentos científicos que irão observar e estudar a coroa solar (a camada mais externa), a fotosfera (a superfície do Sol, a parte que vemos da Terra) e a cromosfera (uma fina camada de plasma que fica entre a fotosfera e a coroa).

Os estudos ajudarão os cientistas a compreender em tempo real a atividade solar, como o vento solar e as explosões solares, e os seus efeitos na Terra e no "clima" do espaço próximo.

O ex-cientista da Isro Mylswamy Annadurai diz que o Sol influencia constantemente o clima da Terra por meio de radiação, calor e fluxo de partículas e campos magnéticos. Ao mesmo tempo, diz ele, também impacta o "clima espacial".

"O clima espacial desempenha um papel na eficácia do funcionamento dos satélites. Os ventos solares ou as tempestades podem afetar a parte eletrônica dos satélites e até mesmo derrubar as redes elétricas. Mas existem lacunas no nosso conhecimento do clima espacial", diz Annadurai à BBC.

A Índia tem mais de 50 satélites no espaço e eles fornecem muitos serviços cruciais ao país, incluindo comunicação, dados meteorológicos e informações que ajudam a prever infestações de pragas, secas e catástrofes iminentes. De acordo com o Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior (Unoosa), aproximadamente 10.290 satélites permanecem na órbita da Terra, com quase 7.800 deles atualmente operacionais.

A Aditya nos ajudará a compreender melhor a estrela da qual nossas vidas dependem e nos dará avisos sobre eventos solares, diz Annadurai.

"Conhecer as atividades do Sol, como o vento solar ou uma erupção solar com alguns dias de antecedência, nos ajudará a afastar nossos satélites do perigo. Isso ajudará a aumentar a longevidade de nossos satélites no espaço."

Ilustração do sol como seria de perto
O Sol está em constante fusão nuclear: núcleos de átomos de hidrogênio se fundem e formam núcleos de atómos de hélio - Getty Images

Clube para poucos

A missão, acrescenta, ajudará acima de tudo a melhorar a nossa compreensão científica do Sol —a estrela com 4,5 mil milhões de anos que mantém o nosso sistema solar.

A missão solar da Índia ocorre poucos dias depois de o país pousar com sucesso a primeira sonda do mundo perto do polo sul lunar.

Com isso, a Índia também se tornou o quarto país do mundo a conseguir um pouso suave na Lua, depois dos EUA, da antiga União Soviética e da China.

Se o Aditya-L1 tiver sucesso, a Índia se juntará ao seleto grupo de países que já estudam o Sol.

O Japão foi o primeiro a lançar uma missão em 1981 para estudar explosões solares. A agência espacial norte-americana Nasa e a Agência Espacial Europeia (ESA) observam o Sol desde a década de 1990.

Em fevereiro de 2020, a Nasa e a ESA lançaram conjuntamente a Solar Orbiter que está estudando o Sol de perto e recolhendo dados que, dizem os cientistas, ajudarão a compreender o que impulsiona o seu comportamento dinâmico.

E em 2021, a mais nova espaçonave Parker Solar Probe da Nasa fez história ao se tornar a primeira a voar através da coroa, a atmosfera externa do Sol.

Este texto foi originalmente publicado aqui.

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