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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

Mergulho de sonda na coroa solar ajuda a evitar apagões na Terra

Espaçonave Parker, da Nasa, fez uma travessia da atmosfera do Sol em 28 de abril

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A sonda Parker, da Nasa, realizou seu primeiro mergulho na atmosfera estendida do Sol. Aconteceu em 28 de abril, mas os resultados foram apresentados apenas na última terça (14), durante reunião da União Geofísica Americana. Óbvio que é um feito e tanto, mas você pode estar se perguntando para quê.

Em princípio, curiosidade científica deveria ser resposta suficiente, afinal, como diria Galileu, "cabeça é feita para pensar". Mas, no caso do estudo do Sol, a coisa vai além disso.

Nossa estrela-mãe, como todas as demais, tem um comportamento básico bem simples. É uma imensa bola de gás que realiza fusão de átomos de hidrogênio em seu núcleo e, com isso, gera energia, emitida na forma de radiação eletromagnética –luz. O diabo, contudo, está nos detalhes. E há muito que não entendemos neles.

Seis imagens separadas obtidas pela sonda Parker mostram traços brilhantes que pertencem à coroa solar
Imagens colhidas pela sonda Parker revelam estruturas no interior da coroa solar - Nasa/APL/NRL

Por exemplo, os ciclos de 11 anos, em que o Sol alterna entre fases de maior e menor atividade, possivelmente sobrepostos a outros, mais longos e discretos. Ou os detalhes da produção do vento solar, a torrente de partículas emanada da estrela. Ou o fato de a coroa solar (a atmosfera) ser muito mais quente (milhões de graus) que a fotosfera (a "superfície", com seus cerca de 5.500°C). Ou os processos que levam às explosões solares, ejetando grandes quantidades de matéria no espaço.

Temos rascunhos razoáveis de como tudo isso funciona, mas não a ponto de criar modelos preditivos superprecisos. E eles fazem uma falta danada para que sejamos capazes de dizer quando explosões solares vão acontecer e por onde vão passar. O que, por sua vez, é essencial à proteção da nossa existência tecnológica aqui na Terra.

Tempestades solares intensas, quando vêm na nossa direção, podem causar danos consideráveis a satélites em órbita ou mesmo a redes elétricas em solo. Não ameaçam a vida diretamente, mas podem causar prejuízos trilionários. E, felizmente, não acontecem com tanta frequência. Infelizmente, também não são raríssimas.

Tanto que até fomos "sorteados" uma vez. Aconteceu em 2 de setembro de 1859 e o episódio ganhou o nome de Evento Carrington, em homenagem ao astrônomo que identificou a explosão solar que, 17h depois, atingiu nosso planeta. O efeito mais agradável foram intensas auroras, luzes coloridas que normalmente se limitam aos pólos, mas chegaram a ser vistas então até perto do equador.

O mais dramático foi o dano a sistemas de telégrafos espalhados pelo mundo. Com direito a curtos, faíscas, choques elétricos em operadores e outros efeitos bizarros. Naquela época, muito pouco era feito com eletricidade. Hoje... apenas olhe em volta.

Prevenir dores de cabeça envolveria saber com alguma antecedência quando algo assim pode voltar a acontecer, o que por sua vez passa por melhorarmos nossa compreensão da dinâmica solar. Daí a motivação de mandar uma sonda encarar o ambiente mais desafiador visitado por uma espaçonave para colher mais dados. Além, é claro, de ser fantástico.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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