Éris, 'primo' de Plutão, aparenta ter interior rochoso e camada de gelo

Rochas teriam afundado até o centro do planeta-anão devido a altas temperaturas, sugerem cientistas

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Will Dunham
Reuters

De tamanho semelhante de Plutão, Éris tem sido um enigma desde sua descoberta em 2005, nos confins do Sistema Solar. Enquanto o primeiro, seu "primo" cósmico mais conhecido, foi explorado pela espaçonave New Horizons da Nasa durante um sobrevoo em 2015, o segundo —cerca de 40% mais distante do Sol— nunca foi visitado.

Mas os cientistas estão obtendo mais informações a respeito desse planeta-anão e de suas diferenças com Plutão. E isso graças a pesquisas, feitas como base na relação orbital com a lua Disnomia, que revelam detalhes acerca de sua estrutura interna e composição.

Segundo anúncio dos pesquisadores na última quarta (15), Éris parece ter um interior rochoso abaixo de uma camada de gelo. Plutão também apresenta uma superfície gelada com rochas abaixo, porém dispõe de um teor de gelo mais alto e acredita-se que abrigue um oceano subterrâneo.

Ilustração do planeta-anão Éris (à esquerda) e sua lua, Disnomia (no alto da imagem, no centro); o Sol é a pequena luz à distância
Ilustração do planeta-anão Éris (à esquerda) e sua lua, Disnomia (no alto da imagem, no centro); o Sol é a pequena luz à distância (à direita) - Nasa/JPL-Caltech/Reuters

"Já sabíamos que ele é mais rico em rochas do que Plutão, mas o que não sabíamos era se havia separado a rocha do gelo", disse Francis Nimmo, cientista planetário da Universidade da Califórnia em Santa Cruz e autor principal do estudo publicado na revista Science Advances.

"Isso significa que ele ficou quente o suficiente em algum momento de sua história para derreter, fazendo com que toda a rocha afundasse até o centro. O gelo não está imóvel, mas está experimentando um movimento lento e agitado, impulsionado pelo calor remanescente do interior. Provavelmente não há um oceano nele", acrescentou Nimmo.

O planeta-anão tem um diâmetro de cerca de 2.326 km, ligeiramente menor que os 2.370 km de Plutão. Em comparação, o diâmetro da Lua da Terra é de cerca de 3.475 km. Devido à sua maior concentração de rocha, mais densa do que o gelo, Éris tem cerca de 25% mais massa do que Plutão.

"Como eu gosto de pensar, pegue Plutão e adicione cada asteroide no cinturão de asteroides, e você terá Éris. Plutão é inflado por gelo, enquanto Éris é principalmente rochoso com um pouco de gelo na parte externa", disse o astrônomo do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia) e coautor do estudo, Mike Brown, 1 dos 3 cientistas que o descobriram.

Nomeado em homenagem à antiga deusa grega da discórdia, Éris orbita em média 68 vezes mais longe do Sol do que a Terra, levando 557 anos para completar uma órbita. Plutão orbita em média 39 vezes a distância da Terra ao Sol.

Disnomia, nomeada em homenagem à filha mitológica de Éris, tem aproximadamente 700 km de diâmetro e é composta principalmente de gelo.

"Assim como o sistema Terra-Lua, as marés em Éris empurram lentamente Disnomia para longe e desaceleram a rotação do planeta-anão. Esse processo foi concluído: Éris e Disnomia sempre apresentam a mesma face uma para a outra", disse Nimmo.

Plutão tem essa mesma disposição com sua lua Caronte, enquanto o sistema Terra-Lua é diferente.

"A Lua sempre apresenta a mesma face para a Terra, mas a Terra não retribui o favor", disse Nimmo.

No planeta-anão, pareceria crepúsculo ao meio-dia devido à sua grande distância do Sol, que seria não mais do que uma estrela especialmente brilhante no céu. "Você poderia bloquear o Sol com a cabeça de um alfinete", disse Brown.

Éris e Plutão ficam além de Netuno, o mais externo dos oito planetas do nosso Sistema Solar. A União Astronômica Internacional, que estabelece definições para a ciência planetária, reconhece cinco planetas-anões —os outros são Ceres, Haumea e Makemake—, embora dezenas de outros possam se qualificar.

As novas descobertas preenchem algumas lacunas sobre Éris, o mais massivo deles.

"Isso ajuda a colocá-lo no contexto de todas as informações que aprendemos sobre Plutão, com suas grandes montanhas e bacia de impacto gigante, e nos força a lembrar: cada um dos maiores planetas-anões é único e devemos ter cautela ao inferir demais com base no que sabemos sobre Plutão", disse Brown.

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