Descrição de chapéu Financial Times África

Número de mortes por doenças como Covid e Ebola pode aumentar 12 vezes, segundo estudo

Mudanças ambientais e populacionais têm impulsionado o crescimento de 'eventos de transmissão', segundo estudo

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Michael Peel
Londres | Financial Times

Cinco doenças que tiveram origem em animais e foram transmitidas para humanos poderão causar 12 vezes mais mortes de pessoas em 2050 em comparação a 2020, segundo uma pesquisa que pede "ação urgente" para combater a crescente ameaça à saúde representada por infecções zoonóticas.

As preocupações com esse tipo de doença aumentaram muito desde que o Sars-Cov-2 surgiu na China no final de 2019 e se espalhou rapidamente pelo mundo. Um estudo publicado pelo BMJ Global Health no último dia 2 constatou que as mudanças ambientais e populacionais nas últimas seis décadas estão impulsionando o crescimento do número de tais "eventos de transmissão" como o que causou a pandemia do novo coronavírus.

"Não é apenas que estamos vendo mais desses eventos, mas eles estão persistindo por mais tempo e gerando mais mortes", disse Ben Oppenheim, coautor do artigo do BMJ e diretor sênior da empresa americana Concentric by Ginkgo, que trabalha com governos no monitoramento de alerta precoce de pandemias. "Isso aponta não apenas para o risco, mas para a magnitude do trabalho necessário para mitigá-lo."

faixa da polícia diante de portão, marcando a interdição do local.
Mercado em Wuhan, na China; cientistas já encontraram evidências que fortalecem a tese de que animais silvestres vendidos ilegalmente no local deflagraram a pandemia de Covid-19 - Noel Celis - 11.jan.20/AFP

Já foram intensificados os esforços para detectar surtos de doenças em áreas de alta densidade populacional. Porém, os pesquisadores recomendaram outras medidas, como aumento da avaliação dos riscos de pandemia impulsionados pelas mudanças climáticas e desmatamento.

Um estudo separado publicado pela Science também no dia 2 deste mês descobriu que o mpox, vírus que desencadeou uma emergência de saúde internacional no ano passado, tem sido transmitido entre pessoas por muito mais tempo do que se pensava.

Os pesquisadores da Concentric se concentraram em um grupo de patógenos de "alta consequência": os filovírus Ebola e Marburg —causam febres hemorrágicas—, Nipah, Machupo e Sars-CoV-1, um ancestral genético do Sars-CoV-2. Eles utilizaram um banco de dados com mais de 3.150 surtos e epidemias de 1963 a 2019.

Os vírus causaram um total de 17.232 mortes registradas em 75 eventos de transmissão em 24 países da África, Ásia e América do Sul. Os números de surtos e mortes aumentaram em uma "taxa exponencial" ao longo do período de análise de 56 anos até 2019, descobriram os pesquisadores.

Se essas tendências continuarem, os eventos de transmissão do grupo serão quatro vezes maiores e o número de mortes, 12 vezes maior em 2050 do que em 2020, concluíram —uma previsão que classificaram como "conservadora". O aumento reflete como as mudanças ambientais e a crescente densidade populacional estão aumentando o contato entre espécies e as infecções de humano para humano.

A nova pesquisa separada sobre o mpox, doença antes conhecida como varíola dos macacos, encontrou mutações que sugerem que ela tem circulado em humanos e interagido com seus sistemas imunológicos desde 2016. Isso contradiz as suposições anteriores à emergência de 2022 de que os casos de mpox eram principalmente eventos independentes de transmissão de roedores para humanos, com apenas infecções cruzadas limitadas entre as pessoas.

Os esforços para monitorar e suprimir o mpox, que inicialmente foi identificado em macacos cativos, precisarão ser intensificados para controlar sua disseminação, concluiu a equipe internacional de pesquisadores. "A vigilância precisa ser global se [o vírus] for ser eliminado da população humana e, em seguida, impedido de ressurgir", eles escreveram.

A OMS (Organização Mundial da Saúde), que deixou de classificar a varíola como uma emergência de saúde global em maio, propôs um acordo global sobre preparação para pandemias e está trabalhando com outras agências no alerta precoce, prevenção e controle de ameaças de doenças zoonóticas.

A pesquisa sugeriu que mais atenção deve ser dada à prevenção de pandemias do que à resposta a elas, segundo o professor James Wood, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Cambridge.

"Nossos impactos humanos globais, como o modo como cultivamos nossos alimentos e exploramos os recursos naturais... estão aumentando progressivamente o risco de futuras pandemias semelhantes à Covid-19", disse ele. "Essas considerações são politicamente e economicamente complexas, mas estamos ignorando-as sob nosso próprio risco."

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