Descrição de chapéu The New York Times

Helicóptero da Nasa em Marte encerra sua missão após 72 voos

Ingenuity era utilizado na busca por evidências de que já houve vida no planeta vermelho

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Kenneth Chang
The New York Times

Ingenuity, o pequeno helicóptero Nasa que voava por Marte, chegou ao fim de sua missão.

Pelo menos um rotor quebrou durante seu voo mais recente, na semana passada, anunciou a agência especial americana nesta quinta-feira (25).

O helicóptero continua em contato com seu companheiro, o rover Perseverance, que tem explorado um leito de rio seco em busca de sinais de vida.

Agora, será deixado para trás.

pequeno helicóptero aparece no canto da imagem, em terreno na cor avermelhada
O pequeno helicóptero Ingenuity, da Nasa, em imagem capturada em julho de 2021 pelo rover Perseverance em Marte - AFP

"O pequeno helicóptero fez seu último voo em Marte", afirmou Bill Nelson, o administrador da agência.

Ingenuity chegou a Marte na parte inferior do rover Perseverance em fevereiro de 2021. O helicóptero foi uma adição tardia à missão, fornecendo lições importantes para futuros projetistas de missões durante seus 72 voos pela atmosfera do planeta vermelho.

"Eles podem contar com o que conquistamos", disse Theodore Tzanetos, o gerente do projeto Ingenuity. "Podem apontar para o fato de que um processador de um celular de 2015 pode sobreviver ao ambiente de radiação em Marte por dois anos e meio. Células de bateria de íon de lítio comerciais, prontas para uso, podem sobreviver por dois anos e meio. Essas são vitórias enormes para os engenheiros da Nasa."

Em 19 de abril de 2021, Ingenuity se tornou o primeiro helicóptero a decolar em outro planeta. Suas hélices giravam 2.400 vezes por minuto para gerar sustentação suficiente em uma atmosfera que é apenas um centésimo da densidade da Terra.

O plano, à época, era realizar uma demonstração da nova tecnologia: cinco voos em 30 dias. Perseverance então deixaria Ingenuity para trás e começaria a estudar rochas sedimentares antigas ao longo da borda da cratera Jezero, que abrigava um lago de água há vários bilhões de anos.

O aparelho se saiu muito bem nos cinco voos. Funcionou tão bem que os gerentes da missão decidiram levá-lo para explorar o terreno à frente do rover.

Nos próximos mil dias, Ingenuity continuou subindo e descendo, subindo e descendo. Enfrentou problemas pelo caminho, fazendo três pousos de emergência. Sobreviveu a tempestades de poeira e ao inverno marciano frio, para o qual não foi projetado. Os engenheiros atualizaram seu software para que pudesse escolher seus próprios locais de pouso.

"É quase um eufemismo dizer que ele superou as expectativas", disse Lori Glaze, administradora associada da Nasa para a diretoria de ciência.

A equipe do helicóptero havia se preparado inicialmente para o que descreveram como uma corrida de 30 dias. Acabou se transformando em uma maratona sem fim.

Tzanetos afirmou que eles perceberam que cada dia poderia ser o último. O helicóptero, contudo, parecia sempre se recuperar de qualquer desafio e estar indo bem.

Com exceção de um sensor não essencial que falhou, "o restante dos subsistemas, dos painéis solares à bateria, envelheceram surpreendentemente bem", segundo Tzanetos.

Em 18 de janeiro, durante seu 72º voo, Ingenuity perdeu contato com o Perseverance enquanto descia. As comunicações foram restabelecidas no dia seguinte. Porém uma sombra em uma foto enviada alguns dias depois revelou que um quarto de uma das pás do rotor havia se quebrado.

"Houve o momento inicial, obviamente, de tristeza ao ver aquela foto aparecer e estourar na tela, o que dá uma certeza do que ocorreu", disse Tzanetos. "Mas isso é rapidamente substituído por felicidade, orgulho e uma sensação de celebração pelo que conseguimos realizar".

Tzanetos observou que na noite desta quinta-feira (25) seriam mil dias marcianos, também conhecidos como sóis, desde que Ingenuity foi lançado na superfície de Marte pelo Perseverance. "Ele escolheu um momento muito apropriado para encerrar a missão."

Ingenuity estava voando sobre um terreno que Tzanetos descreveu como um dos mais desafiadores —não por causa de obstáculos, mas porque era tão monótono, com poucas rochas ou outras características. O voo anterior havia terminado com um pouso de emergência porque o sistema de navegação estava tendo dificuldades em rastrear sua posição.

O 72º voo tinha a intenção de ser um sobe e desce de 30 segundos para verificar se tudo estava funcionando, mas novamente o terreno monótono causou problemas. "Devido aos desafios de navegação, tivemos um choque do rotor com a superfície", disse Tzanetos. "Isso teria resultado em uma queda de energia, o que causou a perda de comunicação."

Com pelo menos parte de uma das pás quebrada, o helicóptero não seria capaz de gerar sustentação suficiente, e o rotor estaria desequilibrado, o que significa que provavelmente se desmontaria se tentasse decolar novamente.

"Há algumas lições para nós", disse Havard Grip, o piloto-chefe do Ingenuity. "Agora sabemos que esse tipo de terreno pode ser uma armadilha para um sistema como este."

Grip disse que uma câmera de alta resolução, capaz de captar mais detalhes até mesmo em uma paisagem monótona, provavelmente teria ajudado.

A equipe realizará alguns testes finais nos sistemas do Ingenuity e baixará imagens e dados restantes na memória do helicóptero.

Engenheiros da Nasa investigam o que causou a interrupção na comunicação e se a lâmina do rotor atingiu o solo quando o Ingenuity pousou.

Outros helicópteros para serem enviados a Marte estão em fase de planejamento, incluindo alguns que poderiam acompanhar uma missão para trazer de volta à Terra amostras de rochas e solo que o Perseverance tem coletado. No entanto, essa missão de coleta de amostras, que enfrentou desafios tecnológicos e orçamentários, está sendo revista, e os helicópteros podem ser descartados.

"Ingenuity foi baseado em teorias", disse Tzanetos. "Agora temos fatos, e os projetos futuros de aeronaves vão depender de todos os dados que coletamos dele."

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