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Viajar para o espaço pode dar dor de cabeça aos humanos

Astronautas relataram o problema após missões na Estação Espacial Internacional

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Will Dunham
Washington | Reuters

Diferentes pesquisas já identificaram como um ambiente de microgravidade pode interferir no funcionamento do corpo humano durante missões espaciais. Um novo estudo acaba de acrescentar um item: dores de cabeça.

Há uma probabilidade maior de pessoas terem esse problema no espaço, segundo trabalho que envolveu 24 astronautas.

Os integrantes da pesquisa são de agências espaciais dos EUA, Europa e Japão e passaram até 26 semanas na Estação Espacial Internacional (a ISS, na sigla em inglês). A maioria, 24, relatou ter tido o sintoma.

Astronauta na parte exterior da Estação Espacial Internacional - Nasa/Reuters

A proporção ficou acima do que os pesquisadores esperavam, com base em evidências anteriores.

As dores ocorreram não apenas nas primeiras semanas no espaço, quando o corpo passa pelo processo de adaptação à microgravidade, mas também mais tarde. No primeiro caso, frequentemente assemelhavam-se a enxaquecas, enquanto no segundo pareciam mais uma dor de cabeça tensional

"Temos a hipótese de que diferentes mecanismos estão envolvidos nos casos de dor de cabeça inicial —em uma ou duas semanas no espaço— em comparação com os casos que ocorreram mais tarde", disse o neurologista Willebrordus P. J. van Oosterhout do Centro Médico de Zaans e do Centro Médico da Universidade de Leiden, na Holanda, autor principal do estudo publicado na última quarta (13) na revista Neurology.

"Na primeira semana, o corpo precisa se adaptar à falta de gravidade, o que é conhecido como síndrome de adaptação ao espaço. Ela é semelhante ao enjoo e pode causar náuseas, vômitos, tonturas e dores de cabeça", disse Van Oosterhout. "As dores de cabeça posteriores podem resultar de um aumento na pressão intracraniana. Devido à microgravidade, há mais fluido se acumulando na parte superior do corpo e da cabeça, causando uma pressão maior no crânio."

Enxaquecas experimentadas na Terra são frequentemente dores latejantes e pulsantes que duram de 4 a 7 horas, acompanhadas de sintomas como náusea, vômito e hipersensibilidade à luz e ao som, segundo o médico. Dores de cabeça do tipo tensional na Terra geralmente são uma dor sentida em toda a cabeça sem esses outros sintomas, acrescentou ele.

Os 24 astronautas —23 homens e uma mulher, com idade média de 47 anos— estavam a bordo da ISS para missões que ocorreram de novembro de 2011 a junho de 2018. Deles, 22 relataram 378 episódios de dor de cabeça durante um total de 3.596 dias em órbita. Nenhum dos 24 relatou dores de cabeça nos três meses após retornar à Terra.

Treze astronautas eram da Nasa, seis, da Agência Espacial Europeia (ESA), dois, da Jaxa (Japão) e um da Agência Espacial Canadense. Nenhum deles havia sido diagnosticado com enxaquecas antes de suas missões espaciais e tampouco tinham histórico de dores de cabeça recorrentes.

Entre os efeitos documentados de viagens espaciais estão atrofia óssea e muscular, mudanças no cérebro, no sistema cardiovascular e no sistema imunológico, problemas com o sistema de equilíbrio no ouvido interno e uma síndrome envolvendo os olhos. O risco de câncer devido à maior exposição à radiação no espaço é outra preocupação.

Os especialistas não têm certeza de quão grande é a barreira que esses efeitos podem representar para viagens espaciais humanas por períodos prolongados, a exemplo de jornadas rumo à Marte.

"A resposta honesta é que não sabemos os efeitos de viagens espaciais de longa duração —possivelmente anos— no corpo humano", disse Van Oosterhout. "Está claro que mesmo a exposição de curto prazo —dias ou semanas— a médio prazo —semanas ou meses— à microgravidade já tem alguns efeitos, na maioria das vezes reversíveis, no corpo humano. Esse é um desafio para a medicina espacial."

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